O Santos e os seus meninos

Já repeti isso diversas vezes. Se a escolha do time do coração fosse racional, torceria para o Touro do Sertão de 63, o Vasco da Gama dos primórdios, o Corinthians da democracia oitentista e finalmente o Santos de todos os tempos, porque há uma elegância inconteste nesta camisa alva desfilando na Vila Famosa às quartas e domingos, destroçando seus adversários.


Uma vez um sensato torcedor santista me veio com esta pérola: “É fácil torcer pro Santos, ele mistura uma tradição campeã inquestionável com requintes contemporâneos de competitividade. Não é um quadro estagnado”. Estávamos num bar, naquele ano de 2005 o Flamengo estava no olho do furacão de uma crise que já durava uma década (tenho uma teoria jamais escrita que a crise se deflagrou como uma feitiçaria – um filho malvado - na barrigada de Renato Gaúcho no final do Carioca de 95, ano do centenário rubro-negro) e o Santos, por sua vez, havia sido campeão brasileiro na temporada anterior. Consternado, assinei em baixo. “É isso mesmo”.





E assinei porque não é de hoje que sou fã confesso do Santos. Na verdade, essa admiração vem desde aquele time de Jamelli, Robert e Giovanni vice-campeão brasileiro em 95, injustiçado pelo gol ilegal de Túlio. Era bom ver aquele quadro jogar. Nem preciso mencionar o mito Pelé/Coutinho.

A “Geração Robinho” me encantou e ganhou títulos. Infelizmente foi dizimada num curto espaço de tempo, como virou costume no futebol brasileiro, e jamais terei o prazer de ver aquele grupo junto em sua madureza, no esplendor técnico de suas jóias. O que ficou para sempre foram estilhaços de um talento embrionário e vitorioso, e a constatação de que a força da grana destroçou esse conjunto diáfano com a sua mandíbula medonha. 




Daquele grupo, quem está de fato bem? Robinho? Diego? Elano? Alex? Com exceção de Diego – que amargurou maus tempos no Porto antes de jogar muito bem pelo Werder Bremen e ir pra Juventus, apesar de estar fora da Seleção -, os outros talentos sucumbiram aos desvãos do caminho. Dirão uns que Alex joga no Chelsea, e eu observo: é reserva. Robinho é espetacular, mas tenho sérias dúvidas se irá ter a fama que sonha e acha que merece: e isto, creio, deverá frustá-lo caso não consiga superar logo, e pelo que percebo, não será fácil. Elano joga em um time obscuro que nem o nome eu sei escrever. Está lá pela grana. Tudo bem, estes últimos estão na seleção de Dunga e podem ser campeões do mundo. Um não é titular. O outro tem sido perseguido por não jogar o que prometia na tenra idade, e prometia muito. Esse é o retrato dos antigos meninos da Vila. Convenhamos que poderia ser bem melhor, sobretudo com Robinho e Diego. Falta-lhes talento? Óbvio que não. Falta-lhes uma confluência de coisas: ânimo, trabalho, clube, bem estar, confiança, entusiasmo, serenidade.


Uma vez eu li que Armando Nogueira  (que o seu “Deus esférico” o tenha) disse a Tostão que as grandes promessas que não se tornaram estrelas já eram craques quando jovens e não deixaram de ser. Apenas não deram certo. Fiquei muito impressionado com essa afirmação porque sempre pensei exatamente o mesmo. O craque eu via antes, na rua, fazendo mágica entre os paralelepípedos. O eterno moleque. No gramado, a coisa é diferente, não é só futebol que conta. Há o empresário, a mãe seqüestrada, o salário astronômico, a fama meteórica, a torcida organizada ameaçando de morte. E por que apenas dizer que é craque o jogador que supera isto e imprime seu talento no campo? Superar esses traumas não ter a ver com o talento para a bola. Tem a ver com o temperamento de cada um dos jogadores, que no mais das vezes nos esquecemos que são meninos. Uns tem o temperamento mais forte, assumem suas responsabilidades, outros não, são mais frágeis, fugidios como seus dribles, e assim tornam-se alvo de incompreensões e estigmas, o que não raro obscurece seu talento.



Falo isso tudo para chegar aos “novos meninos da Vila”. Como poderemos saber se Neymar, Ganso e André chegarão a ser “craques de fato”? Pra mim já o são, porque, como disse, concordo com Armando Nogueira. Mas e para o mundo? Para a FIFA?
Futebol, sabemos, não é feito por lógica. Ou melhor, tem a sua própria lógica que nem mesmo Aristóteles entenderia. Um amigo meu disse que Ganso precisa ir à Copa. Disse a ele que essa dúvida me apunhala, contudo não o levaria. Depois afirmei categoricamente que ele deve assumir a camisa 10 da Seleção por no mínimo 2 Copas subseqüentes. “É o novo Rivaldo Maravilha”. Será que ele vai? Não sei, ninguém sabe. A vida é quem vai decidir.
O agora é que estar claro: O Santos mais uma vez encanta os olhos cansados de pragmatismos débeis, e André, Neymar e Ganso andam me fazendo pensar se Futebol não é mesmo a melhor coisa do mundo. 


Hesito, claro, porque há sempre as mulheres bonitas, que me dilaceram.

1 comentários:

8 de abril de 2010 às 18:46 Ana Agridoce Levemente Apimentada disse...

Com certeza as mais concorridas paixões brasileiras: o futebol, o carnaval e as mulheres bonitas!

tipo propaganda de cerveja...

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