Agradeço às boas palavras
e divertida memória de Lu,
ou Luciane Almeida, na
revisão deste texto.
Enfim, chegamos! Depois de termos andado alguns quilômetros e subido uma longa e acentuada ladeira de mochilas nas costas, colchões nos braços e um sol implacável na cabeça – com pausa para a primeira cerveja de Olinda, claro – chegamos, seis mulheres cansadas, no lugar destinado a dormir algumas horas depois de aproveitar cada dia do carnaval.
Olinda e Recife haviam mudado tanto para a festa que nenhum trabalhador ou transeunte sabia informar como chegar a qualquer lugar. Mas é carnaval! Depois, percebemos que não ter caminho certo é comum no carnaval olindense. Pra que lado a gente vai? Segue a banda! Olha, na outra rua tem um bloco mais animado! E a cerveja? Geladíssima! E esse sol quente, meu povo? Ouxi, toma cerveja!
De dia em Olinda, de noite em Recife, melhor, “no Ricifi”. No Marco Zero, onde aconteceram shows que podiam ir desde o último de Cordel até o milésimo de Alceu, quase não havia chão de tanta gente que ia pra assisti-los e, no intervalo entre um e outro, nem pensar em parar pra descansar. O bom era sair atrás de alguma “fanfarra” ou bloco de maracatu. Mas o chão também era das latinhas vazias e das mãos dos catadores que tinham a multidão como obstáculo para encher sua sacola.
Quem vai dançar frevo?! Eu tomei aulas pela internet! Eu vou balançar os dedos... Eu vou pedir para um “nativo” me ensinar! Rua acima, rua abaixo, descobrimos que aquela ladeira, do dia em que chegamos, não era tão comprida nem tão íngreme. Sem perceber, aprendemos a arte de subir ladeiras de costas, dançando maracatu. Necessário dizer que precisamos de uma ajudinha para realizar tal façanha, ajuda etílica: o famoso Pau do Índio. Se o objetivo é não parar, ele é bebida obrigatória, o suco Gummi do carnaval de Olinda.
E as fantasias? Ah, eu vou de noiva. Pelamordedeus, vão te chamar de desesperada! Depois de instituirmos dois dias de “independência da fantasia”, saímos os outros dois dias em blocos – o que em Olinda significa mais de duas pessoas juntas – de gregas e baianas. Uma de nós, inspirada pelo Pau do Índio, lembrou dos gregos e baianos de Gil, e seguimos cantando Tempo Rei.
“Que fantasia legal!” Essa era a frase-chave para uma das formas de contato no carnaval. As outras deixamos por conta da imaginação do leitor, avisando apenas que eram desprovidas de qualquer sutileza, como convém ao carnaval. Afinal, a “abordagem” dos carnavalescos de Olinda, notadamente os homens, não é mais “delicada” que em outros carnavais do país. Tampouco as mulheres deixam de ser vistas como objeto no “carnaval mais democrático do mundo”. Para além das propagandas da única cerveja que podíamos beber no carnaval (a tal “patrocinadora oficial”), onde mulheres se exibiam ao lado de garrafas de cervejas, ainda deparamos com A Porta, um bloco formado por homens que seguiam pelas ruas com um pedaço de madeira em forma de porta, convidando mulheres a subirem no “pedestal” carregado por eles e dançarem. Lamentável dizer que havia candidatas, entre as quais, algumas não “prestavam” por não se parecerem com as belas das propagandas de cerveja.
Já que havia formas de se divertir, seguimos em frente. E a pistola d’água? Mas gente, se as fantasias já me lembram os carnavais da infância, essa pistola de menino amarelo então... Ah, deixa de ser conservadora! De fato, a pistola não tinha objetivos nada infantis, exceto para as crianças que adoravam molhar os cabelos cuidadosamente modelados com chapinha. Molhar e ser molhado era o primeiro passo para um dos grandes objetivos dos foliões: “interagir” e, em menor medida, aplacar o calor – o que podia ser feito também através de solidários jatos de água vindos das mangueiras das varandas. Quer dizer, solidários nem tanto... lembremos das garotas das chapinhas. Os outros objetivos? Sair de órbita com drogas ilícitas ou lícitas, mas sair de órbita. É carnaval! Poucas horas depois do sol nascer, olha lá as barracas de cerveja e a casa do Pau do Índio fazendo suas trocas comerciais lícitas...
Afinal, às 7 da matina já era possível ouvir tambores e clarinetes, que só silenciavam quando o sol ia embora. Cansaço? Cochiladas furtivas (o famoso “sono da beleza”) e estávamos renovadas. E quando tocava a Vassourinha (o clássico panranranranranranran...) todo mundo pulava, dentro de casa ou na rua. Até quem achava que não ia agüentar “ouvir isso toda hora”, viciou.
Contagiadas pelo repetitivo “carnaval mais democrático do mundo”, seguíamos cantando o Hino do Elefante de Olinda: “Olinda, quero cantar, a ti, esta canção...” festejando a falta de trios elétricos e cordas, dando vivas à possibilidade de fazer nossas fantasias e não comprar abadás, se deliciando em poder pular de bloco em bloco, como convinha aos ouvidos ou aos olhos.
Manuela Muniz é Historiadora e Mestranda em História pela UEFS e depois deste carnaval seu sorriso ficou ainda mais belo.
2 comentários:
quero ainda vi(ver) olinda e "ricife" além da bela paisagem que vejo nessa janela.
Recife 2012, tô colado!
(janela? pra mim isso era uma porta!)
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