| por Uyatã Rayra |
Lembro-me ressentido do meu ensino-médio, no qual a professora de português nos tolhia a criatividade, obrigando-nos a escrever dissertações nas quais não podíamos utilizar o pronome pessoal na primeira pessoa. Além disso, dizia-nos ser errado começar uma frase com verbo, e o primeiro parágrafo do texto tinha que ser menor do que os seguintes. Tudo isso para ficarmos sabidos para o vestibular, e burros para a invenção. Durante toda essa fase da minha vida, fiquei especializado num único modelo de escrita, passei no vestibular, e hoje peno amargamente para me distanciar da asneira.
Quando adentramos a Universidade pensamos que estamos libertos, porém outra vez somos acorrentados a lógica semelhante! Para que sejamos aceitos enquanto entes acadêmicos, temos que nos submeter às regras da ABNT, caso contrário, somos rechaçados! E assim impede-se o avanço da marcha dos gênios, e perpetua-se uma laia de espelhos opacos!
Não entendo os “colégios”. Eles endeusam Drummond, Bandeira, Augusto de Campos, Paulo Leminski – todos revolucionários estéticos - e querem nos privar de sermos Uyatã, Diego Pascoal, Caio Augusto, João Daniel, Tom, Ederval, Aritana, Dolores, André Azais ou Paulo Moraes.
Tenho afeição pelos “Concretas”, sem pronomes nem sinais de pontuação - se, se mantivessem inibidos, jamais causariam uma insurreição poética. Tenho afeição pelos “Marginais”, que repeliram as editoras, e se opuseram aos “Concretas”. Enfim, afeição à insubordinação.
Hoje, penetrando ao universo jornalístico, deparo-me com o dogma da Comunicação: a imparcialidade. Novamente vejo-me diante de um sem número de regras e cartilhas inquebrantáveis à escrita: o primor pela ausência da opinião pessoal, e a exaltação à informação neutra. Assim, tentam nos fazer acreditar que as notícias não estão prenhas de juízo de valor. Argumentam serem serviçais da verdade! Tudo não passa de balela!
Sei que é mais cômodo se deparar com um texto de dez linhas, rápido e informativo: não nos exige esforço de compreensão, e nos dá a sensação de satisfação em estarmos à pá dos episódios relatados. É essa a lógica que a mídia quer imortalizar: um rebanho fiel e fácil de aboiar.
O fato é que não serão nas páginas onde encontraremos os posicionamentos. Estes estão muito bem escondidos nos gabinetes de reuniões, lá, onde se define a linha editorial!!
Por trás da imprensa, há sempre quem vota e quem veta! Afinal, quem pagará os salários dos jornalistas??? Quem liberará verbas de comunicação??? Quem garantirá a concessão da emissão??? Todos esses seres ocultos também fazem parte da mídia! Não se enganem com o discurso fajuto pela liberdade de imprensa, não são somente leis ditatoriais as responsáveis pelo veto, os próprios diretores dos veículos de comunicação praticam censura!!
Nunca vi a Globo denunciar o escândalo da privatização de uma praça pública, na qual a ré é ela própria. Nunca vi a Record denunciar o escândalo do Bispo. Assisto há mais de vinte anos a TV Subaé, e nunca a vi fazer um comentário que fosse pernicioso ao PFL...
A imprensa não é imparcial!! O compromisso com a verdade inexiste!! Estamos submersos num conflito de convencimento!! Eu mesmo confesso autocensura, eu mesmo manipulo a informação para que seja mais convincente !!! Não acreditem em mim, nem em ninguém com mais de 32 dentes!!!
Assim, retorno ao título: Não me leiam!!! Nunca cursei Jornalismo!! Já declarei num post anterior que eu não sei escrever!!! Os blogs abundam na rede!!!
Ainda bem que não é necessário diploma universitário para ser Jornalista!
Agradeço a Transa Revista por permitir-me, aos 23 anos, gozar uma brecha maior no exercício da escrita!
P.S.
"...E que fique muito mal explicado.
Não faço força para ser entendido.
Quem faz sentido é soldado..."
Mário Quintana
4 comentários:
Uyatã
Bela reflexão sobre o ato de escrever, pois é isso que fazemos. O Ato de escrever é para o outro e é carregado de nós mesmos para que os outros nos entendam e reflitam e não aceitem a nossa posição como verdade, mas sim enquanto uma posição.
Parabéns!
Quando eu conheci Uyatã, eu estava com três garotas, e disse para elas, queria que Uyatã fosse meu irmão. Kid, obrigado por você existir, continue se deixando pra trás inteiramente, uma hora dessas você fica do tamanho do infinito, (por mais tempo do que o tempo que a bomboniere concede infinitos)
Paulão!! Grato!!
Adorei : "O Ato de escrever é para o outro e é carregado de nós mesmos...". Talvez essa seja a frase que mais me fez apaixonar por você esses últimos tempos.
Postar um comentário