O estrategista e o antiprofessor



Essa Copa do Mundo tem se caracterizado, até o momento, pela rigidez tática das seleções. Mais do que os craques, mais do que as vuvuzelas, é o trabalho em equipe assustadoramente organizado e obediente o que mais se vê na África do Sul. E por que tudo não é por acaso, na Copa da tática, da estratégia, o mundo elogia o futebol alemão. E o futebol alemão faz por merecer, claro. É a racionalidade do jogo elevado a patamar de arte. São os apolíneos do futebol.

Num silogismo simples, se a Copa da África é a Copa da tática, logo os protagonistas não seriam os craques (escassos, aliás) e sim os técnicos, ou melhor, os “estrategistas”, como a crônica brasileira está adorando chamá-los.

Dunga é senão o homem que sintetiza a dimensão centralizadora e sufocante da estratégia e do estrategista em detrimento do aleatório e da gratuidade nessa Copa. Em sua Seleção, o recurso da imprevisibilidade está rigidamente controlado e covardemente reduzido apenas às jogadas de Robinho. E foi, numa maneira profética e irônica como só os grandes fatos se revelam aos homens, dos pés de Robinho o passe fantástico para o gol de Elano na estréia sonolenta da Seleção contra a Corea do Norte (outro quadro doentiamente tático).

Sendo a Copa dos estrategistas, há um personagem que se destaca pela antítese do “professor”. E se destaca porque estranhamente reafirma esse protagonismo, mas de um modo dionisíaco, em muitos momentos, anárquico. Esse personagem é o Maradona.

Se a Seleção de Dunga vencer, triunfará o estrategista, a tática, o “futebol de resultado”. Se o quadro argentino levar a taça, a poesia do inesperado e a imprevisibilidade do jogo terão uma porção de sobrevida, garantirão àqueles que gostam do lirismo do futebol alguns anos de lampejos de arte.

Mais uma vez o futuro do futebol depende de Maradona (lembrem-se da Copa de 90), só que desta vez fora das quatro linhas, como estranhamente as coisas estão sendo decididas no esporte bretão de uns tempos pra cá.

1 comentários:

21 de junho de 2010 às 05:44 Paulo Moraes disse...

Tirando a parte sobre Robinho, o texto sintetiza muito bem essa Copa.

Será que estamos mais uma vez vivenciando 82, porém o futebol arte é o dos nossos hermanos.
Quem vencerá?

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