A minha surpresa no primeiro jogo do Brasil nesta Copa

                                                                                        Por Giliad de Souza


A primeira partida da seleção brasileira nessa copa sul-africana conseguiu me surpreender. Não fiquei surpreso pelo resultado magro (Brasil 2x1 Coréia do Norte), pelo pouco saldo de gol do Brasil, pela parca capacidade criativa e de converter a posse de bola em ataques efetivos, por mais uma vez ter o setor defensivo como o mais expressivo. Enfim, a grande mídia não conseguiu me ludibriar, fazendo-me crer que o primeiro jogo do Brasil na copa seria distinto do que tem sido na era Dunga, nem algo repleto de lances fenomenais, com lances memoráveis ou até mesmo um futebol vistoso, similar ao da Alemanha contra a Austrália. O que me surpreendeu foi a afirmação de um profissional midiático do futebol, o Sr. Paulo Roberto Falcão, quando ainda tínhamos ao próximo de 5 mim de partida, a saber, “parece que temos um jogo entre um time profissional [Brasil] e um amador [Coréia do Norte]”. Sei que a ampla maioria dos profissionais midiáticos do futebol são uma porcaria, mas esta afirmação superou qualquer bom-senso mínimo, deixando-me realmente surpreso. Vou explicar os elementos que compõe o motivo de minha surpresa.
                                                                   
 

Primeiro, até o momento da “sapiente” afirmação do Sr. Falcão os dois times estavam extremamente nervosos, não construindo qualquer situação clara de gol, muito menos algum fato relevante que explicitasse uma discrepância entre o futebol dos “profissionais” e dos “amadores”. E o que se viu posterior a “retumbante” declaração foi uma disciplina tática similar, ainda que pese uma distante capacidade técnica. Muito se especulou a respeito do futebol dos “comunas” (uma referência ao modo econômico-social comunista dos norte-coreanos), sobretudo em função do total desconhecimento. A grande mídia esperava qualquer coisa dos comunas, menos um time bem montado taticamente, de boa condição física, com jogadores ágeis, com um invejável sistema defensivo e com contra-ataques assustadores. A grande mídia não esperava que Jong Tae-Se, o Rooney asiático, fosse de fato um bom jogador e que os comunas tivessem outros bons jogadores além dele. Enfim, a grande mídia não esperava que o pentacampeão, todo-poderoso e “profissional” Brasil tivesse tanta dificuldade em vencer a “amadora” Coréia do Norte, com um raquítico 2x1. E digo mais, 2x1 com um gol dado de lambuja pelo goleiro Ri Myong-Guk no gol de Maicon. Estou cônscio de que pouco provavelmente os comunas passarão para a segunda fase, assim como estou também cônscio de que, se o grupo do G não é o mais difícil, posto que tem três reconhecidas potências do futebol mundial (Portugal, Costa do Marfim e Brasil), é um dos mais difíceis.

Segundo, em virtude da assertiva “magistral” do Sr. Falcão basear-se no fato de que a Coréia do Norte não se encontra entre as internacionalmente reconhecidas potências do futebol. Ou mais do que isso, basear-se no fato de que ninguém sabia ao certo como jogava os comunas. Aí eu pergunto: esses “sapientes” profissionais midiáticos do futebol não assistiram a fase das eliminatórias asiáticas? (Cabe pontuar que eu também não assisti esta fase, mas nem tenho obrigação de fazê-lo, pois não sou um profissional midiático do futebol). Será que só acompanham as eliminatórias européias e sul-americanas? Será mesmo que num ambiente onde se classifica Japão e Coréia do Sul poderia sair um time tão deplorável como apontavam os “sábios” futebolísticos? Pra mim, grande parte desses profissionais midiáticos do futebol (dentro dela encontra-se o “magnânimo” Sr. Falcão) é composta por um bando de preguiçosos, que acompanham o futebol apenas dos países que lhe convém, que tem sua bússola futebolística sempre apontada à Europa (inclusive com a insana e ressoante proposta de converter o calendário do futebol brasileiro ao europeu). Se for para serem profissionais midiáticos do futebol, que sejam verdadeiramente. Eu, enquanto um consumidor da mercadoria “futebol” (alienante, só por ser mercadoria), exijo uma prestação de serviço de qualidade. Estou farto de esses energúmenos insultarem, em cada partida e em cada comentário, a minha inteligência!

Por fim, o terceiro elemento estruturante da “fulgente” declaração do Sr. Falcão encontra-se na expectativa da remota possibilidade de mudança no perfil tático do nosso técnico “sete anão”. Basta fazer uma breve análise do que foi o jogo: i) Dunga veio com seu tradicional esquema tático, 4-3-1-2, com três volantes de contenção, a despeito do perfil de meio-campista clássico de Elano, um meia de ligação, dois atacantes, além dos quatro no setor defensivo, ainda que pese a mudança tática implementada no segundo tempo, com a entrada de Daniel Alves e de Ramires, nos lugares de Elano e Felipe Melo, respectivamente, transformando aquela tática num 4-1-2-1-2 “diamante”; ii) os meias foram orientados a darem passes diretos e os laterais passes longos, além de um largo distanciamento entre os três setores (defensivo, meio campista e ofensivo), o que redundou na extrema dependência das jogadas pelas laterais e na insistência dos lançamentos; iii) uma fragilidade tática no que diz respeito a construção dos ataques, pois se tem um meio campo pouco criativo e com baixa capacidade em converter posse de bola em ataques efetivos. Nesse caso só se tem duas possibilidades: a ênfase no contra-ataque ou a prioridade nas jogadas pelas laterais, sendo que as duas não são necessariamente antagônicas. Contra times com possibilidades técnicas escassas e parca ousadia para atacar (como é o caso dos comunas), só resta a segunda possibilidade. Desde o momento em que o nosso técnico “sete anão” encontrou seu padrão tático, dungalizando a seleção brasileira, jogo a jogo, as análises não se diferenciam muito da que eu fiz acima. As prioridades da dungalização são o produtivismo futebolístico (futebol de resultados, sem se preocupar em “jogar bonito”, a lá a retranca suíça) e o futebol burocrático (responsável apenas para cumprir o planejado, sem qualquer preocupação com a criatividade e inventividade – características sempre marcantes em diversos jogadores brasileiros). Penso que o Brasil tem grandes chances em conquistar o título desta copa, mas quem espera por um futebol vistoso, cativante, repleto de jogadas individuais ou coletivas de tirar o fôlego, conforme visto pós a aplicação do esquema tático dungalizado,vai continuar esperando, esperando e esperando.


* Giliad é mestrando em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

2 comentários:

23 de junho de 2010 às 14:14 Marcos Rosa disse...

Uma pena que os norte coreanos não puderam assitir o jogo, pois O Grande Ditador sensurou a partida, e quando resolveu liberar foi justamente o jogo contra Portugal: foi bem feito a goleada.
Censurar uma partida de futebol?
Ah Ditadura descarada...

25 de junho de 2010 às 21:37 Cléo Emidio disse...

O futebol apresentado pelo Brasil até aqui não me convenceu. Vou continuar torcendo para chegar na final e tudo mais (até mesmo para termos mais dias na boemia futebolistica que se torna este país em tempos de copa(s)...). Meu critério nessa copa ta sendo o do merito (ñ que ele seja o mais correto ou justo!), por isso mesmo vejo outros times em condições de assumir o lugar de nosso Brasil como campeão do mundo, a exemplo de nossa querida Argentina, da Espanha (ainda devendo!) e do glorioso Uruguay. Não lembro de mais ninguém (nesse momento!) que esteja jogando bonito... essa copa ta feia e muito retranqueira. Abraços Gileardson.

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