Noite bluseira em Feira de Santana – Segunda parte


O Clube de Patifes, o disco novo e o show


Difícil não pensar no Clube de Patifes quando o tema é a história recente do rock em Feira. Até onde sei, nenhuma banda está aqui a mais tempo em atividade do que eles. E isto não significa simplesmente tocar e compor, mas sobretudo fazer com que as coisas aconteçam em nossa pacata cidade, onde segundo Pablues (um dos melhores nomes que um roqueiro feirense já endossou, sem ironia) as pessoas envelhecem e sobrevivem juntas. “Eu faço a Feira, eu vivo na Feira”. Além de trecho de uma das canções do disco novo, este me parece ser o lema fundamental da banda.


E então a noite do último sábado foi mais um capítulo da incansável construção da Feira rocker que eles tanto desejam. O Antiquário Pub esteve cheio para prestigiar o lançamento formal do disco “Com um pouco mais de alma”, gravado há pelo menos um ano, entre inúmeros percalços que Pablues revelou para a caravana da Transa numa rápida e barulhenta conversa. Pra se ter uma idéia, a banda precisou regravar várias pistas porque um dos estúdios onde o álbum foi concebido (total de três) perdeu muitas partes das gravações.

Com o perdão do trocadilho, o disco deveria se chamar “Com um pouco mais de guitarra”. Isto porque quem ouviu o primeiro registro dos Patifes (“Do Palco ao Balcão”, de 2001) e se acostumou aos naipes de metal e sobretudo aos timbres mais bluseiros das guitarras, certamente estranhará no disco novo os riffs, as distorções e solos que estão mais ao sabor hard-rock do que propriamente a textura blues.




Esta guinada para “as guitarras” foi intencional, segundo Pablues, que, no entanto, não nos ofereceu uma explicação mais detalhada – de repente não há mesmo, enfim. Suspeito que, pelo disco ter sido gravado por guitarristas da escola roqueira, isto naturalmente teve influência na concepção dos arranjos, porque o sotaque (o estilo) nessa hora pesa mesmo. Além da troca de estúdio, no meio do caminho os Patifes tiveram de trocar de guitarrista também. Marcel Torres, que participou do álbum do Ânima Trio, foi o que finalizou o disco.

A bem da verdade é que a guitarra hard-rock funciona ao vivo, mesmo que este crítico rabugento prefira os naipes de metal e os timbres bluseiros de “Do Palco ao Balcão”. No Antiquário, o Clube destilou seus hits do primeiro e segundo discos sob a guitarra furiosa de Stephen. Gostei sobretudo de Feira, que abriu o show depois de uma vinheta que mistura (na verdade não mistura, reconhece a unidade) John Lee Hoocker com aboios dos vaqueiros. 

Quem ouve um pouco mais de blues sabe da íntima e ancestral ligação entre esses aboios do sertão e os “gritos” que os negros americanos faziam (cantavam) nas suas longas jornadas de trabalho nas lavouras sulistas, que o tempo tratou de dar contornos musicais e veio se desdobrar no blues, entre outros ramos. Umas das qualidades que reconheço no Clube é a intenção de fazer esta ponte entre o blues e a música sertaneja, de aparar suas arestas culturais e tornar mais clara a unidade africana na essência musical. Nesse sentido, a releitura do Trio Nordestino já se tornou um clássico nas apresentações da banda. Foi outra que me chamou atenção.


No geral, tive boa impressão do show. O único ponto que não me agradou tanto foi as intervenções do DJ Don Maths. Não por serem ruins, achei algumas até muito pertinentes. E a ideia mesma de colocar entre uma canção e outra vinhetas que não deixassem esmorecer o espetáculo, é muito boa, não nego. Mas por eu ter percebido que não houve um ensaio prévio entre a banda e o DJ, ou se houve, no show isto não veio a calhar, alguns momentos das intervenções de Maths deixaram o Clube um pouco desencontrado. É claro que isto não prejudicou totalmente o show, e talvez boa parte do público não tenha percebido nada disso que eu estou comentando, mas como o meu ofício de crítico é observar e descrever minhas impressões, não me furto em dizer que essas intervenções deveriam ser melhores ensaiadas. Se tiveram uma boa ideia, por que não executá-la da melhor maneira possível?

Enfim, o melhor da noite mesmo foi quando eu perguntei a Pablues sobre suas influências não-musicais. Ele começou a enumerar: o bar, as pessoas, o bróder que lhe sacaneia... Tudo isso. “E no cinema?”. Ele me respondeu: “Quentin Tarantino...”. Então fui logo ao ponto: “E os Irmãos Caras de Pau?”. Ai ele me sorriu constrangido como dissesse: “encontraste a chave”. E eu encontrei mesmo.

5 comentários:

23 de fevereiro de 2010 às 07:42 Paulo Moraes disse...

Não fui ao show, mas depois desta bela analise me sinto como tivesse ido lá.

23 de fevereiro de 2010 às 07:52 André do Carmo disse...

De fato, concordo com o Paulo...Depois de ler uma boa análise crítica detalhada do evento sinto-me como se estivesse ido, mas nada disso substitui a presena, isto é lógico!

23 de fevereiro de 2010 às 08:47 Jopatife disse...

Hum, muito bom! Gostei, todas as observações bastante pertinentes, parece que Eder estava no palco, sacou tudo!rsrsrs. Grande abraço a todos da revista Transa e obrigado por abrir o espaço para o Clube de Patifes aqui em vossa página!

PS: Numa próxima entrevista agente revela o que rolou nos bastidores desse show! Rsrs! Abraço!

23 de fevereiro de 2010 às 09:17 Pablues disse...

Rapaz, não sabia que o bicho (Ederval) era tão chato assim... quando acabar o chato sou eu?! rs. Ficou uma boa leitura da noite do lançamento. Valeu Transa... grande abraço em toda a equipe.

Pablues.

23 de fevereiro de 2010 às 13:14 trauefsvideos disse...

Colé Tampinha, tu axô? rsrs Isso é um assunto para Arrnaaldo Cezar Coelho....rs

Aee Patifess, perfeita crítica ;P descobriram até o nosso estilo livre, então, 3 opções: Ou ensaiamos que nem a banda do Altas Horas em busca do Grammy(com Ironia), ou vocês aprendem a fingir que está tudo bem no real estilo irmãos cara-de-pau, rsrs ou compramos ao invés de Ternos, Coletes a prova de bala!

Eu prefiro as 3 opções, ou nenhuma! rsrsrs

O que eu poderia dizer? É aquilo mermo que Papai sempre nos dizia: "O trabalho sujo, Alguém tem que o fazer meu filho" Dom Vito Corleone, e completando, Tio Vinicius da cabeça branca: "A vida é feita de encontros, embora haja tantos desencontros pela vida...Bota mais uma dose pro seu tio tocá violão"...Corpo fechaado hein patifaria!?


Vida Longa Transa!!Parabéns a família!Paz e glórias!Akele abrazz!
D. Maths
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