Museu de Arte Contemporânea (MAC), localizado na Rua Germiniano Costa.
Esse texto foi escrito há pelo menos um e meio. Foi publicado terceira edição da Revista Única, lugar onde escrevi sobre cultura, educação e política.
Como as festividades carnavalescas me afastaram um pouco do computador, não tive tempo de escrever algo novo, de modo que retirei do baú essa matéria que ilustra bem a excelente figura de Edson Machado, fotógrafo e diretor do MAC-FSA (Museu de Arte Contemporânea).
Caso eu venha escrever minhas rasteiras memórias no final da vida sobre Feira, dedicarei pelo menos um capítulo para falar sobre Edson Machado, uma das pessoas que me ajudaram ver em Feira um lugar completamente intrigante e absurdo. Leiam o texto a seguir e me entendam melhor.
O Grito na Cidade
Cópia misteriosa de uma das telas mais significativas do final do século XIX provoca incertezas entre os intelectuais feirenses.
Daria um conto de Julio Cortázar o que se passou com Edson Machado e o nosso Museu de Arte Contemporânea em torno de um quadro doado por um desconhecido no dia 20 de setembro do ano 2007. A tela foi deixada com um funcionário (Edson, o diretor, estava ausente) e apenas uma recomendação foi feita: que ele fosse entregue aos cuidados do responsável pelo museu. Só. Nenhuma informação adicional. O doador misterioso saiu sem deixar rastro. Jamais voltou a procurar o museu - até hoje, quase um ano depois, não se tem uma escassa notícia de quem seja.
No outro dia Edson encontrou o embrulho no canto de sua sala. Ao abrir, deparou-se com O Grito, obra mais conhecida do norueguês Edvard Munch (1963 – 1944). Qual não foi seu estranhamento, sobretudo por saber que o original fora roubado três anos antes lá no Museu Munch, em Oslo, capital da Noruega. O que ele não sabia, porém, é que o quadro havia sido recuperado pela polícia norueguesa dois anos depois do roubo, em 31 de agosto de 2006.
Edson percebeu que não se tratava de uma cópia qualquer, pois havia algo na parte posterior da tela bastante suspeito. Era um carimbo do mesmo Museu Munch (em norueguês) com o que se especulou que fosse o número de catalogação do quadro.
À esquerda, na foto, Edson Machado.
Edson, preocupado, mostrou-o a Roberval Pereyr, poeta e professor universitário, relatando a ele as condições misteriosas de como o recebera. Eles convidaram Juraci Dórea, artista plástico e professor de História da Arte (UEFS) e Selma Soares, museóloga e diretora do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), para que os dois, mais entendidos, dessem seus pareceres. “Trouxeram lente, lupa, luva, tudo!”, brincou Edson ao contar o caso. Juraci e Selma perceberam que o tecido da tela era de um tipo de linho de uso raro aqui no Brasil, e que o chassi do quadro era de encaixe, modelo europeu, diferente do brasileiro, em geral atrelado com pregos. Segundo Edson, Selma ainda alertou para algo peculiar. “É possível que haja uma pintura mais antiga por detrás desse quadro, porque contra a luz ele é mais enriquecido em detalhes.”
De modo a sanarem as dúvidas, Edson encaminhou o quadro a Salvador, para Ana Maria Villar, especialista em restauração de obras de arte. Ana Maria comparou os tipos de tinta e constatou que se tratava mesmo de uma cópia. A tinta usada no quadro ainda não existia na época que o original fora pintado, lá no remoto ano de 1893. Ela matou a charada.
Mesmo com a infeliz confirmação da cópia, para Edson os enigmas continuam. Por que esse carimbo com ficha catalográfica? Por que uma cópia despretensiosa ser feita com um material tão similar? Essas e outras indagações, como a identidade do doador, os motivos que o fizeram deixar o quadro no museu continuam sem resposta. Até quando?
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