A partir de algumas discussões com o profº. Raymundo Luiz, em sala de aula, sobre a cidade de Feira de Santana e sua estrutura física, venho me inquietando com algumas transformações que esta vem sofrendo. Uma delas, citada pelo professor e sobre a qual quero tratar, é a crescente aparição de condomínios nessa cidade.
Para a maioria da população isso pode ser sinônimo de progresso, ou de crescimento; como João Daniel observou, as pessoas costumam dizer que “Feira está crescendo”. Mas, para mim, esse aumento gigantesco no número de condomínios fechados nada mais é do que uma estratégia capitalista que o setor empresarial arrumou para conseguir ganhar dinheiro, oferecendo incontáveis “vantagens” para que as pessoas vivam trancadas em suas mini-cidades, seus mundinhos particulares, tornando cada vez mais difícil a socialização delas com o restante da sociedade.
Não sei se todos recordam, mas há alguns anos, somente a elite feirense podia ter uma casa ou apartamento em condomínios aqui. Era muito luxo... Me lembro claramente de quando era criança, digo a uns nove anos atrás, quão poucos eram os condomínios. Hoje em dia, a facilidade de adquirir um imóvel num desses aumentou devido a subsídios governamentais, aparecendo então muitas empresas interessadas em vender esse tipo de imóveis, aumentando consideravelmente a quantidade deles na cidade.
Seduzidos então pela proposta de obtenção da casa própria em um local seguro, bonito e que tem até mercadinho e academia, além do status de poder morar num condomínio, é claro, o consumidor não hesita em adquirir um desses imóveis. E não pergunta ao menos como se deu o processo de construção, se foram respeitadas as leis ambientais, sobre a qualidade do material utilizado em detrimento ao valor cobrado pela empresa. Um condomínio fechado oferece mesmo uma maior segurança só porque tem um porteiro e um portão eletrônico?
Lembrando que a maioria das pessoas que moram nesses locais muitas vezes encontram no condomínio uma fuga dos problemas sociais existentes na cidade, se trancam dentro deles e ficam alheios e apáticos diante da realidade cruel de desigualdade que temos aqui. Não pensam nos impactos culturais que podem causar com esse individualismo que os impede de ir na rua onde mora e conversar com o vizinho, enxergar mais de perto o que se passa em sua rua ou bairro. Dando uma maior importância à piscina do condomínio e à festa que será realizada no quiosque nesse no fim de semana.
Aritana Lima é membro do Conselho de Colaboradores da Transa Revista.
4 comentários:
Perdoe-me caso eu tenha cometido algum erro de interpretação, mas pelo que eu entendi eu não entendi.
Os condominios são prejudiciais à sociedade por fazer com que as pessoas parem de ver a realidade cruel e as desigualdades? Oras, então seriam também os meus tão adorados livros de ficção e jogos de RPG danosos à sociedade também?
E são os condomínios impedimentos ao bom convívio devido aos moradores ficarem apenas dentro do condomínio? Pensava que eles conversariam com os outros moradores do lugar.
Erich, pelo que pude entender do que Aritana disse, o mal da proliferação dos condomínios não é apenas ignorar os problemas socias, como supostamente (e só supostamente) um romance ou um jogo de RPG os ignorem. Mais que isso, os condomínios estão inseridos num plano maior, qual seja, o plano das grandes empresas imobiliárias para Feira que de inocentes não têm nada. Aí é que mora a ironia: uma casa num com condomínio é vendida pela segurança contra a violência da cidade, porém, a proliferação de condomínios interfere em questões sociais, ambientais e urbanísticas que só fazem piorar a violência urbana.
Logo, os moradores de condomínios, embora possam conviver bem entre si e, na medida do possível, com pessoas que morem em outros lugares (como, por exemplo, numa ocupação), essas mesmas pessoas não podem mudar o papel social daninho dos condomínios para a cidade e, sobretudo, àqueles que não podem morar num condomínio.
Acho que agora compreendo.
DSL, eu realmente não tinha antes conseguido visualizar a ligação entre 'segurança na cidade' e 'condomínios'.
Boa reflexão!
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