O dia do pênalti

|por Franklin Oliveira|

O pênalti é uma das coisas que fazem o futebol ser o esporte mais apreciado. Não é à toa que Nelson Rodrigues dizia que é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube. Ontem eu estava assistindo a Globo da vida entrevistando alguns desportistas tentando forçar a barra pra comparar o pênalti a outros momentos vitais dos demais esportes. Foi realmente uma piada de mau gosto. É que o pênalti não tem comparação com um saque no tênis, com o pulo de obstáculo no hipismo e nem sequer com a cobrança de faltas do garrafão no basquete. Nesse caso é porque dezenas destas ocorrem durante a partida o que faz perder a emoção única do pênalti do futebol.

Ontem eu convivi com alguns pênaltis decisivos. Mas não estou falando do badalado Bayern Munich e Chelsea, mas de Vitória e Barueri que marcava a estreia do leão na Segundona. Não esqueço o ano passado quando deixamos de subir por apenas um ponto, e na última rodada. Tudo bem que vocês vão dizer que é coisa de fanático, mas baiano que se preza é assim mesmo. Imaginem que a partir de maio eu esqueço o Santos, o Flamengo, o Corinthians, a Libertadores, pra só assistir “jogões de bola” como Joinville X Asa de Arapiraca, Criciúma X CRB, e outros do tipo. Foi por isso que nem dei bola pro confronto entre alemães e ingleses.

Torcedor do Vitória só tem um objetivo esse ano. Não é promoção no trabalho, ter filhos, casar ou comprar apartamento, é botar o leão pra subir. Pra isso vale qualquer sacrifício. Pra quem não sabe agente gasta uma grana danada com o futebol. Minha mulher fez as contas e anda reclamando. É que eu sou associado ao programa Sou mais Vitória e emplaquei logo o carnê mais caro, o ouro de 720 mangos, que dá direito a sentar nas cadeiras durante um ano sem pagar mais nada. De quebra, ainda tenho que comprar o canal fechado pra ver todos os jogos, quero dizer, assistir aos do meu querido rubro negro e azarar os demais clubes. São mais 800 paus. Ela está contando ainda as 19 idas ao estádio pra assistir as partidas do Brasileirão. Ainda bem que vou com meu vizinho, o Carlos Bride, mas sai dinheiro pro estacionamento, lanche, agua, etc. Na conta dela a campanha Bote fé no leão lá em casa não custa menos do que dois mil reais por ano.

Bem, mas voltemos ao grande jogo Vitória e Barueri. Confesso que eu liguei o canal 126 preocupado. O time ia jogar com o terceiro goleiro e contratou um técnico meia boca, Paulo Cesar Carpegiani, que ia dividir o seu tempo entre o Vitória e a Seleção do Paraguai. Minha mulher até pensou que ele ia trazer alguns jogadores de contrabando.
E o pior foi quando começou o jogo, pois não se via o técnico e quem estava lá era o conhecido Ricardo Silva. Sim, é bem verdade que tinha o filho de Carpegiani. Mas, como é esse negócio Alexi Portela, contratamos o filho ou o pai? Eu fiquei uns bons minutos perguntando aos meus botões:

- Será que perdeu o voo? Que já viajou pro Paraguai?

Só quando a TV o mostrou escondido em uma dessas cabines de imprensa que eu fiquei mais tranquilo. Afinal de contas temos técnico. O Barueri não parecia meter muito medo. Afinal, ia estrear um monte de jogadores, o que compromete o conjunto. Mas sabem como é né, no futebol acontece de tudo! Ainda mais que contava com o experiente Ronaldo Angelim (ex-Flamengo e outros clubes) como zagueiro. O campo, além disso, era muito bom pra quem sabe jogar futebol. Tomara que esse seja o nosso caso.

A escalação do Vitória era (quase) o melhor que temos, com exceção do goleiro Gustavo e de Gabriel “quebrando o galho” na lateral direita.  E logo no início essa impressão se confirmou. Conseguimos correr uns cinco minutos e a bola ficou de um lado a outro do campo do adversário, mas depois o time passou a esperar o Barueri lá atrás cedendo a iniciativa pro adversário.

A situação durou uns quinze minutos, embora não tenha tido risco de gol, e depois a iniciativa dos times foi revezando em ruindade até o fim do primeiro tempo. O jogo ficou cozinhado no meio de campo e nem o Vitória nem o Barueri partiam pra cima, fazendo com que não houvesse, praticamente, chute a gol, a exceção de uma solitária cobrança de falta aos 34 minutos que Gustavo espalmou bem. Ô Alexi, será que o menino é o único que sabe espalmar pros lados? Porque esses Douglas e Renan que você arranjou só espalmam para a frente, bem nos pés dos adversários.

O Vitória só tinha uma jogada, passar a bola pra Neto Baiano resolver. Só que este estava isolado lá na frente, enquanto Marquinhos caía pelas pontas e Tartá jogava lá atrás como volante. Quanto aos alas nem é bom falar. Gabriel não tem o menor cacoete pra função e, do outro lado, Saci conseguia ser pior do que o personagem do nosso folclore que, pelo menos, tem uma perna. A continuar assim, não iriamos para lugar nenhum. Do outro lado, ainda bem que o Barueri pagava pelas estreias, atuando de forma bastante desentrosada.

O intervalo foi fonte de preocupação lá em casa. Minha discussão com o vizinho era como melhorar o time na segunda etapa. Ele queria tirar Pedro Ken que estava sumido da partida. Aliás isso sempre acontece quando botam ele pra jogar de volante. Eu, porém, era mais cauteloso preferindo encostar Marquinhos em Neto Baiano, colocar Tartá mais á frente, e fazer subir Saci, esperando uns quinze minutos pra ver no que dava. Saci passou a subir mais, e até Gabriel também! Tartá até que teve mais iniciativa passando do meio de campo. Mas o diabo do Marquinhos não queria encostar mesmo em Neto. Será que Carpegiani desceu aos vestiários? Nós dois achamos que ele está ouvindo muitos conselhos e precisa dirigir o time.

As “mudanças” não foram lá grande coisa mas deu pro gasto. O time recuperou a iniciativa e ficou mais com a bola durante todo o segundo tempo. Neto chutou a primeira a gol aos quatro minutos, mas a bola foi parar em Campinas. Aos seis foi a vez de Tartá, mas deu um peteleco de fazer dó.  Depois Marquinhos chegou aos oito chutando mal. Mas, se não incomodaram o goleiro, fizeram pelo menos alguma coisa! O Vitória insistia, chegando ainda aos 11, 16 e 17 minutos com cruzamentos de Marquinhos e de Tartá, mas os caras tiravam todas. Aos vinte e cinco minutos Tartá se tornou bastante agressivo, mas bateu fraco. Parecia que o gol estava próximo, certo? Errado pois foi o Barueri que chegou dois minutos depois marcando um gol num cruzamento. Pensei que a vaca havia ido pro brejo mas, graças a Deus, o bandeirinha anotou o impedimento.

A partir daí a torcida lá em casa foi pra acordar Carpegiani e ele colocar sangue novo no ataque ás custas de Pedro Ken. Mas o tempo passava e necas de pitibiribas. Só aos 36 minutos é que o técnico se decidiu. Imagino como deve ser difícil esse sistema de decisão. Carpegiani telefona da cabine pra Ricardo Silva (ou será para seu filho?). Tomara que a linha esteja boa. Aí os dois vão discutir a avaliação de Carpa, e, depois que chegam os três a um acordo, ocorre a modificação. Acho que foi por isso que só aos 36 minutos o Rildo entrou. Será que ia dar tempo de alguma coisa? Mas a entrada deste caiu em cheio sobre a já cansada defesa do Barueri. Isso é que dá botar zagueiro velho. Dois minutos depois, um deles quando viu que ia ficar pra trás, sem necessidade sapecou um empurrão no nosso valente atacante e o corajoso juiz marcou pênalti.

Ah como gritamos lá em casa! Pulamos, nos abraçamos, surpreendendo minha mulher que fazia as contas de casa na sala e já não esperava mais nada. Os demais vizinhos da rua também sofrem pois, nessas ocasiões, cantamos a nossa felicidade também na janela.  Mas aí caímos na real. E se Neto repetisse o jogo contra o Botafogo? Ou aquele outro do Baianão onde escorregou e mandou a bola pra lua? Mas as preocupações ficaram esquecidas quando Neto deu uma patada que goleiro nenhum poderia pegar tirando o zero do placar. Agora era só se fechar lá atrás pra garantir o triunfo. Afinal, não era possível não levar esses três pontinhos pra casa.

Os minutos demoravam a passar, ainda tinham seis do tempo normal mais três de desconto. Não sei por que esses juízes inventam de dar tanto desconto. Gustavo ganhou uns minutinhos preciosos fazendo “cera”, mas a cena que ficou foi a de Neto mostrando o relógio. Não é que o juiz atendeu na hora terminando o nosso sofrimento?

A alegria só não foi maior quando fomos ver a tabela e percebemos que estávamos em sexto lugar. É realmente um absurdo ganhar e não estar entre os quatro. Mas o problema é que boa parte dos favoritos ganharam, Atlético Paranaense, Bragantino, América Mineiro, e ainda sobrou para Criciúma e América de Natal. Mas não há de ser nada, continuaremos ganhando e, quando entrarmos na zona não sairemos mais.

Hoje eu nem quero pensar nisso de estar em sexto nem nas duas batalhas da próxima semana contra Coritiba e Criciúma fora de casa. Quero é tomar todas a que tenho direito por essa estreia. Imaginem que mudei até o canal pra ver esse time chinfrim do Chelsea ganhar a Copa da Europa. Realmente hoje foi o dia do pênalti.

Franklin Oliveira Jr. é desportista, escritor, professor universitário e criador do blog Memórias da Fonte Nova e da WEB TV Pra que política.

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