Por que a Seleção Brasileira vence?


Reflexões acerca da dungalização



 Por Giliad de Souza





Estava esses dias pensando com meus botões e me fiz a seguinte pergunta: por que o Brasil, mesmo jogando feio, na defensiva, de forma retranqueira, tendo o seu forte o contra-ataque e jogadas aéreas (quem diria!?!?) continua ganhando? Ou ainda, por que vem fazendo uma das melhores temporadas (entendo temporada, do ponto de vista das seleções, como um período que liga de um pós copa do mundo até outra copa), vide os resultados recentes – eliminatórias para a copa do mundo, amistosos contra seleções tradicionais e fortes e copa das confederações?

Uma resposta apaixonada poderia ter um teor pouco crítico e com diversas imprecisões. “Ah, temos os melhores jogadores, temos tradição, temos camisa”. Quem nunca ouviu respostas como essas, inclusive de profissionais da bola, de comentaristas? Sempre quando ouço algo parecido, fico com a sensação de que estão querendo insultar minha inteligência.

Assim sendo, resolvi pensar a respeito, resolvi acompanhar o futebol que hoje é paradigmático e exportador de formações e esquemas táticos, o futebol inglês. Alguém já assistiu a uma partida da estirpe de Manchester X Aston Villa ou Arsenal X Liverpool? Para quem é sistemático, metódico, dogmático, enfim, caxias, se diverte com tanta precisão, tanta rigidez e obediência tática. O sujeito consegue distingui tranquilamente as posições. Sabe se o cara é um volante, com funções de contenção e organização do sistema defensivo, se o cara é um volante, com funções de armação, articulação e diminuidor de espaços... é tudo muito esquemático, certinho! Contudo, esse é o paradigma. Vou tentar explicar em poucas palavras o seu funcionamento.






 
Primeiramente, a formação. Eles jogam um 4-5-1, uma linha de quatro convencional (2 zagueiros e 2 laterais); 2 volantes de contenção (algumas vezes, um de contenção e um de armação) – só um detalhe: um volante de contenção é o volante clássico, aquele quase-zagueiro, tipo Gilberto Silva, e o volante de armação é um misto de quase-zagueiro com quase-armador, tipo Ramires; 2 armadores, tipo Kaká (algumas vezes eles são como os “pontas” do carrossel holandês, tipo Arshavin do Arsenal e Arjen Robben do Bayern de Munique); e um centro-avante, tipo Luis Fabiano ou Adriano. Essa é a formação tática, ou o “esqueleto”. Mas o seu funcionamento, o que faz encantar corações e mentes de técnicos do mundo todo, é o diferencial. Como disse anteriormente, é um esquema tático muito regular, entretanto permite a inventividade. Você pode tranquilamente montar em cima desse esqueleto um time bastante ofensivo, assim como faz a Seleção da Espanha, o Barcelona, com aquele ataque invejável, ou ainda o próprio Milan do Ronaldinho. O fio condutor desse esquema tático é a força centrada nos meio-campistas. Não funciona sem um bom meio-campo. É assim que a maioria dos times e seleções estão jogando. É a tática do momento, assim como era o 3-5-2 no início desse século.


 


Não sei se nosso técnico “sete-anão” compreendeu isso e montou um esquema tático superior ou é por retranquismo mesmo, mas o que acontece é que hoje a seleção brasileira não tem uma tática e sim uma contra-tática (sinceramente não sei se isso é mesmo uma virtude, mas enfim...). O Brasil joga convencionalmente com 3 volantes (não é muito raro os 3 serem de contenção...), 2 laterais que correm parecendo Usain Bolt, 1 atacante e 1 centro-avante, além de 1 ótimo armador. Funciona dessa forma: a outra seleção domina grande parte do jogo, envolvendo, articulando bem a bola, pressionando e sufocando, empurrando a nossa seleção para o seu campo defensivo, contudo não faz o gol. Isto em função do setor defensivo brasileiro ter muitas pessoas (2 zagueiros, 2 laterais e 2 ou 3 volantes de contenção) e freqüentemente bons em sua função. O Brasil “rouba” a bola, arma um contra-ataque, pela velocidade dos laterais, ou pela qualidade no passe dos volantes, ou pela inteligência e ligeireza do atacante (corriqueiramente Robinho), e faz o gol. Repetidas vezes, desse modo que o Brasil tem feito os gols.

 




 Dunga encontrou a kriptonita à tática paradigmática, isto é, travar o funcionamento do meio-campo do adversário, não permitindo, dessa forma, que os armadores joguem plenamente e que o centro-avante haja ou arrematando ou como pivô. Por isso, eu concordo com o neologismo criado por Mauro Beting (não necessariamente com o autor do mesmo) e diz respeito como o Brasil joga atualmente, isto é, de modo dungalizado – um futebol feio, retranqueiro, com 3 volantes, pouco cativante, de contra-ataques, mas ganha! É meio que um futebol movido pela produtividade do resultado e pouco inclinado à arte.

 


Sinceramente, não gostaria que o Brasil fosse campeão dessa Copa. Não que seja uma pessoa antibrasileira ou avessa ao futebol (acho que quem chega nessa parte do texto deve está totalmente convencido do contrário, rsrs, a despeito de minhas críticas à política dos esportes de alto rendimento, como é o caso do futebol), no entanto porque não gostaria que a dungalização virasse moda, ou pior, que se tornasse a forma certa de se jogar futebol, o consenso. Imagina como seria o time do Santos, com Neymar, Ganso e Robinho, tendo que se render a esse esquema tático pouco criativo e inventivo? Ia ser extremamente deletério vermos 3 Gilberto’s Silva’s em cada time! Seria canelada pra todos os lados. Que Deus nos ajude...






* Giliad é mestrando em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

2 comentários:

1 de abril de 2010 às 18:24 Marcos Rosa disse...

Quer futebol mais feio que aquele de 94? Se Dunga encontrou "o esquema" veremos nesta copa, espero ansioso pelo jogo Brasil X Espanha. Se não aparecer nenhuma seleção com um futebol encantador minha torcida será do futebol "dungalizado" da Seleção.

Imaginem um duelo entre o Santos e o time ingles mais disciplinado taticamente, quem ganharia?

4 de abril de 2010 às 11:32 Cléo Emidio disse...

Vou torcer pela Argentina, que parece ta voltando a jogar bem, e pela Espanha. Esses costumam jogar o bom futebol.
Seria uma boa também ver um time africano na final, os caras são demais. Agaurdemos...
Se não der nenhum desses vou torcer pela Coreia do Norte. E viva os comunistas, hehe.
Abraços,

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