Sem Juízo





Somos julgados a todo instante. Para cada ato nosso, um juiz: nossos parentes, entes desconhecidos, amigos, inimigos... Não adianta nos afugentarmos do julgamento alheio, estejamos corretos ou equivocados. 
Jung nos atribuiu o arquétipo da persona, o qual ele disse ser nossa máscara de convívio social - uma maquiagem de convivência. Trocando em miúdos, a persona seria um “muito doido”, que fez a barba, cortou o cabelo e se vestiu de calça, sapato e camisa social para conseguir emprego. É claro que no âmago o “muito doido” é “um muito doido”, todavia, para se integrar socialmente e conseguir um emprego ele tem que se camuflar de um “muito são”.



Só que, mesmo agindo com moralidade e legalidade, serviçal dos preceitos da cidadania, pedra basilar da pirâmide hierárquica, até o mais idôneo dos indivíduos estará passivo à crítica:

- Rapaz, Joaquim é certo demais véi!! O bicho não faz nada errado!! É um otário mesmo!!!    
  

Já ouvi falar que o magistrado supremo é Deus, e que o juízo final caberá somente a Ele. Enquanto não nos chega o julgamento celestial, reflito que o maior julgador terreno dos nossos atos somos nós mesmos, e a martelada derradeira nos é concedida. Sempre iremos estar equivocados para alguém, sempre haverá alguém descontente conosco, qualquer ato é deletério a depender de quem o julgue. E nós??? Será que o que fazemos nos agrada??? Sentimos-nos plenos com nossos atos????

Se o que fizermos não nos agradar, irá agradar a quem então??? Acho que é difícil ofertar prazer, sem antes estar em equilíbrio consigo mesmo!!! Esse auto-agrado é complexo, pois podemos até fazer algo que nos desagrade, somente para agradar os outros, sendo que o fato de agradar os outros seja agradável a nós.  Mas, se não houver o prazer em sermos nossas escolhas, nunca nos reconheceremos enquanto Pretos, Evangélicos, Homossexuais, Socialistas, Pós-modernos, Ateus, Vagabundos, Filósofos, Estudantes, Otários, Místicos, Reacionários, Ignorantes, Jornalistas, Muito doidos...

Quem carrega a maior pena de ser o que somos, somos nós. Nós somos, talvez, o maior receptáculo das próprias ações. É necessário que estejamos cônscios do que queremos ser, mesmo que a nossa escolha consista em nada ser. Ou então, seremos sempre os outros, e além de desagradar aquele alguém que sempre estará descontente conosco, contrariaremos a nós mesmos, o que consistirá num duplo equívoco, salvo a alternativa de que ser o outro seja a nossa opção auto-gratificante!! 
Esse parágrafo anterior causou-me certo desconcerto, pois aparenta um certo louvor à racionalidade!! Reconfigurarei-me então: se for a falta da razão que reger o arbítrio, ou até mesmo a falta do arbítrio, e isso seja o fim maior, ou mesmo o impulso propulsor da ação, então que seja!!! É muito fácil julgar os outros, a dificulidade reside em ser o outro, e esmiuçar e compreender os motivos cabíveis para que ele seja assim, até porque tais motivos podem ser incompreensíveis...

Este texto mesmo, julgo ser o mais desagradável de todos os que já escrevi. Mas, senti que ele me causa um conforto, pois estou a compartilhar com vocês essa confusão que me assola. E não estou a escrevê-lo porque não tenho mais nada o que escrever... Escrevo-o, pois julgo ser ele um bom exemplo para si mesmo, assim pleonástico!!  Escrevo-o, pois creio que comentários sejam interessantes, mesmo que não sejam imprescindíveis...

9 comentários:

21 de abril de 2010 às 12:17 Mel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
21 de abril de 2010 às 12:18 Mel disse...

Esse texto não poderia ter vindo em momento mais oportuno.
Obrigada por compartilhar a sua confusão com a minha, que se não for igual é mais maluca ainda.

21 de abril de 2010 às 12:36 Anônimo disse...

'creio que comentários sejam interessantes, mesmo que não sejam imprescindíveis'.

causaste conforto. creia.

22 de abril de 2010 às 07:17 M. Correia disse...

uyatã, não consigo entender a demonização do "racional" justamente pelos que buscam o equilíbrio... negar a importância de uma faculdade humana me parece tão arbitrário quanto absolutizá-la.

22 de abril de 2010 às 07:26 Unknown disse...

concordo, o mais desagradavel... .

22 de abril de 2010 às 08:17 Unknown disse...

Uma toga para o martelo ...

Se (h)ouve aos olhos "demonização", talvez seja porque na epifania celeste foi justamente Deus a última peça do quebra-cabeças ...

23 de abril de 2010 às 05:40 M. Correia disse...

No texto está sutil, talvez "demonização" tenha sido um exagero no que se refere a ele. comentei levando mais em conta o que vejo e ouço por aí, nesta imensa epifania celeste.

23 de abril de 2010 às 17:20 XandeGomees disse...

Parabéns brother, uma utilização sublime das palavras!

25 de abril de 2010 às 19:19 Anônimo disse...

é man e cada dia que passa cobrança por parte da sociedade para que o cara se camufle de "muito são" o oprime de um jeito que as vezes até o convense de que ralmente é o jeito desfigurar-se e "ser quem não se é" pra dai "ser alguem"...e engraçado que a expressão "ser alguem" é totalmente tabelada!! "ser alguem na vida" é ter um emprego uma casa um carro e dinheiro pra gasta, lindos filhos gordinhos e um gramado pra ele brincar com seu cachorro lindo e gordo!MAN Quem são eles na verdade pra saberem o que é o "alguem" de alguem? o meu alguem que quero ser se diverge beeem desse padrão porem cada dia que passa sinto-me mais pressionado pra que meu alguem seja igual a todos os outros alguens definidores!ah enfim foda-se
(deu pra ver o qanto vc não está só nessa babilonia de reflexões!)

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