Uma longa viagem


|por Franklin Oliveira
O filme brasileiro Uma longa viagem, apesar de contar a história de vários irmãos, se concentra na trajetória de um deles, que a família envia para Londres com medo de que ele entrasse na luta armada contra a ditadura militar. A direção, produção e fotografia é de Lúcia Murat, o protagonista é Caio Blat. O filme descreve as andanças do ator que passa nove anos desterrado. Inspirei-me no filme para falar pra vocês da saga do Vitória na Segundona. Semelhante a longa viagem do Caio Blat, o rubro negro está encetando uma maratona de sete meses pra tentar voltar á Primeira Divisão do futebol brasileiro. É tempo pra chuchu num campeonato que ainda tem trinta e dois jogos pela frente.

O time já fez seis jogos até agora e já é tempo de fazer um balanço de sua preparação para este lufa-lufa. Foram quatro vitórias, um empate e uma derrota. Ganhou sete pontos em casa e perdeu dois, já fora de casa ganhou seis e perdeu três. Nada mal para uma campanha tão longa, que faz com que o clube esteja dividindo a liderança da Segundona com os Américas, o de Minas e o de Natal, só perdendo por apenas um gol a menos de saldo. Melhor do que isso só dois disso!

Boa parte da crônica da Bahia não gosta do técnico Paulo Cesar Carpegiani e continua fazendo as mesmas críticas desde quando aportou por aqui. Eu também tive dúvidas da sua decisão de acompanhar o jogo nas cabines de TV e da diretoria aceitar a possibilidade de que ele acumulasse treinar o Vitória e a Seleção Paraguaia. Mas tenho senso de autocrítica, pelo menos até agora tem dado certo.

O time tem um padrão de jogo, ficou mais solidário, passou a defender o resultado com unhas e dentes e alguns jogadores tem subido de produção, como Neto Baiano, Tartá, Marquinhos, e até o recém-contratado Eduardo Ramos. Mas a diferença está na estratégia desenvolvida pelo comandante Carpé.

Ele, que foi um dos principais meio campistas da seleção brasileira, é ousado, sabe o que quer e não se conforma com pouca coisa. Mirou logo lá em cima, no título, de olho em dar ao rubro negro um caneco nacional que não possui. Aliás, isso eu aprendi desde criança, quem mira no 10, pode não chegar lá mas alcança no mínimo sete. Já quem mira no quarto lugar pode acabar não levando nada para casa, quanto mais subir de divisão.

A confiança que passa o projeto de Carpé repercute nos jogadores e na tal Comissão Técnica formada por ele, seu filho e os ex-jogadores Ricardo Silva e Flávio Tanajura. Essa turma botou o pessoal para cobrar faltas, defender-se no seu próprio campo quando perde a bola e a adaptar-se em diversas situações do jogo, seja marcando a saída de bola, seja atuando em contra ataques.

Mas o principal mesmo é que o time passou a jogar mais bola. Não sei se foi só a presença do Carpé ou a eliminação do Botafogo lá no Engenhão. Mas o certo é que a defesa deixou de dar chutão saindo com a bola, o meio de campo está fazendo o seu papel de municiar o ataque e o time tem preenchido melhor os espaços de campo, com Tartá caindo pela borda esquerda e Marquinhos pela direita, todos trabalhando para as conclusões de Neto.

É certo que o Carpé não tem experiência com a Segundona, mas a diretoria está aí pra alertá-lo.  Afinal, todos tem em mente a experiência do ano passado quando ficamos em quinto lugar e morremos na praia da última rodada, só não se classificando em função da mala branca do Vitória ser menor do que a do Sport.

Ninguém quer novamente chegar ao final precisando desesperadamente de um resultado pra subir. Para isso temos que aprender com os nossos erros. A primeira coisa é que o campeonato é muito grande e os concorrentes estão sempre se reforçando. Assim, não adianta esperar o mesmo rendimento com o time que começou. Basta ver o que está ocorrendo em apenas seis rodadas.

Ceará, Goiás e Avaí começaram mal a bessa, mas já estão reforçando seus times e melhorando de produção. Ninguém pense que os paulistas vão continuar arrastando lata, o São Caetano já começou a garantir a honra da firma. O Atlético Paranaense está em crise e mais cedo ou tarde esta termina e ele virá com tudo.

O América de Natal tem jogado uma bola redonda e é uma surpresa embora ninguém saiba se vai manter a pegada até o fim, aguentando as contusões, expulsões, afastamentos por cartões amarelos, suspensões, etc. Quanto ao América Mineiro e o Joinville tenho ainda mais dúvidas se vão se sustentar onde estão.

Assim, é preciso estar permanentemente reforçando o elenco, subindo de grau em grau cada vez que os adversários se reforçarem. Acho que a diretoria já passou isso para o Carpé, não é á toa que esta semana está enfrentando o já velho problema dos alas ao renovar o contrato de Nino Paraíba e contratar o jovem gaúcho Denner. Tomara que resolvam a situação das nossas laterais! Imagino ainda que a diretoria vai ter bom senso em se acertar com o Índio, que pode dar uma boa força ao nosso ataque. Aliás, é melhor fazer isso do que ir atrás de outro!

Mas há algumas coisas que temos de saber e fazer para garantir a subida do Vitória. Gostaria de saber cadê os "estrangeiros" Willian e Marco Aurélio. Afinal, o Vitória trouxe esses dois do futebol da Turquia e de Portugal com o maior estardalhaço e até agora nada! Onde estão? Que estão fazendo? Pelo menos estão reinando? Porque não sentam, pelo menos, no banco? Será que o clube foi enganado mais uma vez pelos empresários trazendo “bondes”?

Outro problema é no gol. O Carpé me desculpe mas o time aí está mal servido. Gustavo  ainda está verde e não é uma revelação como Lee, Dida e outros que passaram por esta posição. Renan é bom dentro do gol mas não sabe sair dele, e, de vez em quando, provoca os maiores desastres. Quanto a Douglas até que é um cara arrojado, que joga com a maior atenção ao que está se passando no jogo, mas..., a rigor, não é goleiro. É um zagueiro que joga debaixo da trave.

Reparem bem quando a bola vai pro gol. Ele espalma para um lado e para o outro, tira a bola por cima, sai pra cortar nos escanteios, antecipa-se aos adversários nos lançamentos, o escambau, só não faz o óbvio... Segurar a bola. Não faz isso por que não é um goleiro de profissão. Até hoje não aprendeu os fundamentos de quem joga no gol. Desta forma precisamos de um goleiro bom e experiente, que não trema em jogos que tem o estádio cheio, como aconteceu com Douglas nas decisões contra o São Caetano e o Bahia!

Falta-nos ainda um bom zagueiro central. Eu confesso que prefiro Gabriel ao Rodrigo. Esse, apesar de não ser tão alto e forte, é pesadão e desatento, e já está bem próximo do fim da carreira. Enquanto Gabriel é jovem e muito atento, e produz melhor do que ele junto com Vitor Ramos. Embora, na verdade, seja baixo e franzino, duas coisas que contam contra ele jogar de zagueiro. Mas, definitivamente, na lateral onde Carpé o escala ele só está se “queimando”.

Quero um xerife ali, um cara de 1 metro e 90, que imponha respeito pelo seu porte físico, e que tenha também boa mobilidade e impulsão, capaz tanto de cortar as bolas centradas para a área como ir para a área adversária nos escanteios tentando cabecear. Fora esses quero também mais um volante (pois parece que Neto Coruja continua sem querer nada com a bola) e outro centroavante.

Bem, por hoje é só pois tenho que ligar a TV pra “secar” o Criciúma pois ele pode passar o Vitória. Passamos o fim de semana descansando. O Carpé até foi ao Rio Grande do Sul gozar férias em seu trailer. Na sexta vamos a Goiás fazer um jogo de seis pontos. Todo cuidado é pouco pois se perdermos os goianos ficam na cola. Espero que Nino e Denner joguem.

Franklin Oliveira Jr. é escritor, professor universitário, desportista, e criador do blog Memórias da Fonte Nova e da WEB TV Pra que política?

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