|por Bruno Porpetta|
Apesar da crônica de uma morte anunciada, o desfecho da relação entre
Flamengo e Ronaldinho Gaúcho não poderia ser pior. Ninguém saiu ileso ao mar de
sujeira, nem a direção do clube, tampouco o atleta e seu empresário. Porém, não
há quem mais tenha sido prejudicado nesta infame história do que os 40 milhões
de torcedores do clube, cuja humilhação é semelhante a de um rebaixamento.
A torcida do Flamengo orgulha-se,
quase ferozmente, de seu tamanho, dos títulos, de uma das gerações mais geniais
da história do futebol brasileiro e por fazer parte de um seleto grupo de
clubes nunca rebaixados para divisões inferiores em toda a sua existência.
Sem dúvida alguma, o Flamengo é
um clube grande, enorme, gigante. Mas o rompimento da relação entre o clube e o
craque revelou o quanto sua direção, representada na pessoa da
presidenta/vereadora Patrícia Amorim, apequenou o rubro-negro.
Sua gestão à frente do clube foi
marcada por polêmicas e, principalmente, sumiços. A cada nova confusão no
Flamengo, sua presidenta/vereadora simplesmente não aparecia, não falava, nada!
Ficava a cargo de outros dirigentes explicar os casos, cada vez mais
inexplicáveis, que aconteciam na Gávea. Começando pela permanência quase
constante do nome do clube nas páginas policiais, que culminaram no caso Bruno,
sua ausência era notoriamente sentida.
O caso mais emblemático foi a
passagem de Zico pelo comando do futebol do Flamengo. Patrícia esteve ao lado
do grande ídolo da história do clube em sua apresentação, mas aguardou à
espreita sua fritura, cujo personagem destacado foi Capitão Léo, ex-dirigente
de organizada e vice-presidente da Federação Carioca de Futebol.
Desde o início da trajetória de
Ronaldinho pelo Flamengo, onde foi recebido com festa pela torcida rubro-negra,
foi tudo muito controverso. Contratado após uma espécie de leilão, que
envolvia, além do clube carioca, o Palmeiras e o Grêmio, sua aquisição, por
intermédio da Traffic, prometia ser um estouro de marketing, porém as atuações
do craque, além de sua agitada vida noturna, somadas ao pouco carisma e
disposição para virar estrela comercial, resultaram em um baixíssimo
aproveitamento, dentro e fora de campo.
A saída da Traffic, no ano
passado, após a direção do Flamengo costurar, junto à 9ine (empresa de
marketing esportivo que pertence a Ronaldo), o contrato de patrocínio master da
camisa, tornaram evidente o amadorismo da gestão. E a conta disso, que o clube
não pagou até o momento, está sendo faturada.
É justo que um trabalhador, como
Ronaldinho era no Flamengo, exija a remuneração prevista em contrato. Mas o
futebol é mais do que uma simples relação entre patrões e empregados. Envolve a
paixão de milhões, e a postura do craque durante o período não o isenta de
responsabilidade.
Porém, os seguidos equívocos de
gestão do Flamengo não se resumem à presidenta/vereadora. São recorrentes em
várias gestões, embora seus nomes quase nunca mudem. Boa parte da atual gestão,
fez parte da base de sustentação política no clube de Edmundo dos Santos Silva,
que até preso foi.
É a velha história, mudam as
moscas, mas os excrementos continuam os mesmos.
Diante de tal histórico, o
Flamengo se apequena a passos largos. Por maior que seja o orgulho de ser
rubro-negro, este, no fim das contas, sucumbe a sucessivos erros de seus
dirigentes, fazendo sua torcida, cada vez mais, sentir falta de seu passado, de
suas principais glórias.
Tal como o centenário do clube,
em 1995, onde o Flamengo montou um supertime que não ganhou nada, convivendo
com os mesmos atrasos de salários e promessas não cumpridas, os 100 anos do
futebol do clube, em 2012, são também uma sombra do que o rubro-negro já foi.
No horizonte, a solução não
parece próxima. A política interna do Flamengo, além de não se renovar, está
entre a cruz e a espada. Os grupos políticos do clube se revezam no poder (onde
circula muito dinheiro) e não se vislumbra na atual oposição uma diferença
substancial com relação ao quadro atual.
Fica a seguinte indagação: como
pode, um clube de 40 milhões de torcedores, ter sua direção escolhida por pouco
mais de dois mil sócios?
A resposta é simples. Não
interessa aos grupos que comandam o Flamengo democratizar o clube, abrir-lhe as
portas para sua torcida. Cabe aos mesmos de sempre, representantes, inclusive,
da mesma classe social, dirigir o clube, a paixão que o envolve e,
principalmente, o dinheiro que ele gera.
Embora a saída mais óbvia, em
tempos de capitalismo agudo, seja transformar os clubes em empresas, tampouco
esta alternativa é cogitada entre os barões do Flamengo. Uma empresa retiraria
das mãos deles a administração do futebol, portanto, igualmente mataria a
galinha dos ovos de ouro.
No entanto, transformar o futebol
do Flamengo em uma empresa faz com que uma enorme massa de torcedores sejam
tratados como meros consumidores, jogando água no moinho da elitização
crescente no esporte.
A única alternativa capaz de
relacionar ambos os processos, sob uma perspectiva transformadora no Flamengo,
é a democratização do clube, ampla e irrestrita. Que além de inovadora, em um meio
tão atrasado como o futebol brasileiro, coloca a enorme Nação rubro-negra no
centro das decisões, não apenas como expectadora passiva dos desmandos de uma
elite arcaica que se locupleta com o clube.
Não existe inviabilidade, existe
falta de disposição para isso. E esta indisposição para tal, além de servir aos
interesses de poucos, coloca muitos em situação vexatória, humilhante.
Os dirigentes, presentes e
pretéritos, do Flamengo, saem de suas casas em carrões blindados, chegam
escoltados ao clube, trabalham na surdina e deixam seus cargos afirmando que cumpriram seu dever.
A torcida, no seu cotidiano, é
quem suporta as constantes humilhações que estes dirigentes provocam.
É hora da Nação virar este jogo!
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