|por Franklin Oliveira|
Ai
que saudades do São João! Mas não essa festa mixuruca que temos hoje mas a de
antigamente. Estou falando de um tempo onde era costume fazer fogueiras na rua
pra assávamos milho e ficar em volta. Hoje quem fizer isso está ameaçado pelo
Corpo de Bombeiros. E que dizer a quem soltar balão que pode ser classificado
como terrorista interessado em provocar incêndios?
Comer
na casa dos outros nem pensar! Mas agente ia em turmas visitar todas as casas e
comíamos até nos fartar. E olhem que todo mundo recebia bem , e tinha canjica,
licor, e amendoim á vontade. Quando chegava tarde agente estava bebum! Se é
hoje como passar pelas grades, anunciar nossa presença pelo interfone, e ser
filmado pelas câmaras internas?
Tá
bom, hoje se come quase tudo o que se comia antigamente. Tem bolo de carimã,
lelé, canjica, e tudo o que se pode fazer com o milho. Mas vem tudo embalado,
comprado no supermercado, e me desculpem, não tem o mesmo gosto! Os fogos
também são os mesmos mas quem é que compra pra soltar na porta como antigamente.
Me lembro que agente saía com meu pai pra comprar.
Quanto
éramos meninos ele só comprava pra gente os traques. Eu e meu irmão queríamos
crescer logo pra ter direito de soltar adrianinos. E foi isso que aconteceu
mais tarde quando até vulcão comprávamos, e aí o limite era apenas o pouco
dinheiro que tínhamos.
Mas
o pior mesmo hoje são as musicas. Ora, antigamente São João era com zabumba,
triângulo, sanfona e era um dos três que cantava. Hoje é o fim da ficada,
botaram órgão, sopros e até guitarra. De repente todo mundo começou a tocar no
São João, onde se vê axé, pagode e arrocha!
Pois
é, e pra culminar o vexame esse ano o São João não caiu nem num feriado, foi
num fim de semana mesmo. Teve gente que ainda viajou. Imaginem que meu
coordenador da faculdade viajou pra Jacobina na sexta (sete horas) só pra
passar o sábado e o domingo de manhã voltando de tarde pegando um trânsito
desgraçado pra trabalhar na segunda feira! É muita vontade de ir pro interior!
Eu
não viajei por isso, por estar ainda sofrendo de dor na coluna, e pra assistir
ao meu Vitória jogar em Goiânia. E aí o vexame continuou. O jogo era importante
pro leão pois podia colocar outro concorrente no páreo. Lá no Barradão esta semana só
havia se falado em preparação física. Descobriram critérios “científicos” de
quantidade de massa e gordura pra barrar jogadores. Mas ainda bem que serviu
pra deixar Douglas e Rodrigo de fora, mas nada adiantou pois deixaram Léo e
saci no time! Até que enfim o Carpa ia sentar no banco. A cidade estava deserta
mas desconfio que não era pra ver o leão jogar na Sky.
O
jogo não começou em clima junino. Daí a pouco o Goiás foi pra cima e começou a
apertar o Vitorinha. Mas acabou subindo demais e o leão aproveitou bem com
contra ataques rápidos e foi enfiando um (Marquinhos, num gol sensacional em
rebote do goleiro), dois (Neto Baiano, batendo de primeira um lançamento
primoroso de Pedro Ken) e três (de novo Neto, num cruzamento de Marquinhos), e
olhem que isso aconteceu em apenas vinte minutos. Eu não acreditava no que
estava vendo. Ainda mais quando o Ipatinga abriu o placar contra o Criciúma
botando o Vitória em primeiro lugar da Segundona. Abri a janela pra ver a festa
da vizinhança. Era bom demais num dia de São João, ainda mais que a torcida do
Goiás foi pra cima do técnico fazendo o maior fuzuê. Mas os acontecimentos iam
provar que a festa não é mais a de antigamente.
O
Goiás começou a reagir quando o técnico Enderson Moreira reconheceu o seu erro
e botou em campo o veterano atacante Iarley, e o meia Ramon na lateral
esquerda, já que a essa altura Marquinhos tinha se contundido e o técnico
Carpegiani tinha botado em seu lugar o meia Eduardo Ramos. Isso fez com que o
cara subisse á vontade sem que Carpa tomasse nenhuma providência. Seria melhor
que ele continuasse vendo o jogo nas cabines, talvez assim enxergasse melhor.
Uma
falha de Douglas fez com que os goianos tirassem o zero do placar quando Davi
chutou forte de fora da área e o goleiro aceitou. O leão continuava atrás e o
mesmo Davi perdeu de cara três minutos depois. A esta altura eu rezava pra
terminar o primeiro tempo e o homem lá de cima me atendeu. Bem, pensava eu,
agora o nosso experiente técnico vai conversar com o pessoal e a situação vai
mudar. Parecia lógico voltara usar dois jogadores de área pra matar a partida
ou aterrorizar os goianos nos contra ataques. Pelo menos pra impedir que os
defensores subissem!
Mas
não foi nada disso! O Vitória começou o segundo tempo na mesma toada. Graças a
Deus o técnico Enderson Moreira havia recomendado calma aos seus jogadores e aí
não tomamos inicialmente o mesmo sufoco. O tempo passava e as coisas começavam
a mudar. O Criciúma empatava e Renan fazia uma defesa sensacional numa cabeçada
de cara. Pra desgraçar ainda mais o técnico tira o artilheiro Neto Baiano
colocando Dinei em seu lugar. Mas o que é que houve? Neto tinha cansado? Mas
era o cara que prendia atrás dois zagueiros adversários!
Me
desculpe o Dinei mas ele não tem o perfil de se movimentar5, dar trombadas, e
marcar como Neto faz. O resultado é que o Goiás subiu ainda mais. Aos dezesseis
minutos Renan pegou mais uma quando o cara subiu sozinho pra cabecear. Êta
defesa que não sai do chão. E, aos 21, uma falha da zaga num cruzamento, levou
ao segundo gol. O Goiás encostava (2 X 3) e Carpé fazia outra cagada tirando o
bom Pedro Ken pra colocar o mau zagueiro Reniê.
Sinalizava,
assim, pra quem quisesse perceber que nada queria com o ataque e logo depois
foi punido pelos céus com a contusão de Dinei que saiu deixando o Vitória com
dez jogadores. Tomou um banho do desconhecido técnico Enderson Moreira que
botou logo um meia e um atacante e subiu a defesa.
Lá
em casa tudo era desespero. Iarley cavava as faltas, os goianos jogavam na
intermediária do leão que tinha todo o time daí pra trás. Só um milagre de São
João pra segurar a onda. Mas o santo não é mais o mesmo de antigamente e não
deu outra coisa. Se lembra do Renan Oliveira, que jogou no Vitória e só fez
enrolar? Pois foi ele um dos que entrou e, um minuto depois, empatou a partida.
Aí, a desgraça que estava desenhada virou realidade, 3 X 3.
Olhei
o relógio. Se o juiz Vuaden desse cinco minutos de desconto ainda tinham
dezoito minutos. Tempo de sobra pro Goiás virar e submeter o leão a uma das
maiores humilhações da sua vida. Aliás, exatamente igual a que tinha acontecida
há anos atrás no mesmo lugar. O time se defendia como podia. Léo, Gabriel,
Ananias e Saci claudicavam sem a experiência necessária para enfrentar
situações como essa.
O
vexame junino só estaria completo quando o juiz caseiro, que já tinha “puxado a
brasa” pro Corinthians na Libertadores contra o Santos, inventou um pênalti num
choque do bom zagueiro Vitor Ramos com um atacante. Foi o fim da picada! O
Goiás virava e mergulhava minha casa na mais cruel depressão. Pouco depois o
miserável apitava condenando de vez o meu São João. Não deu pra esquecer,
definitivamente o São João atual não é o mesmo do de antigamente!
Franklin Oliveira Jr. é escritor, desportista, professor
universitário, e criador do blog Memórias da Fonte Nova e da WEB TV Pra que
política?
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