Triste Fim...


|por Felipe da Silva Freitas|
O dia 11 de junho de 2012 marcou o fim de um importante símbolo da luta democrática em Feira de Santana. Durante mais de 20 anos sempre que se falou em luta por democracia, por liberdade e por justiça social de algum modo sempre se fez referência ao grupo do Dr. Colbert como ficou conhecido o grupo de militantes originários do velho Movimento Democrático Brasileiro dirigidos e referenciados na história e nas práticas políticas do ex-prefeito de Feira Colbert Martins da Silva. Trata-se de um grupo plural com níveis de relacionamentos distintos entre seus membros e com formas de organização não unificadas, mas, um grupo importante na construção da resistência aos métodos conservadores e autoritários na política, defensores da ética e em todo o tempo opositores do “carlismo”.

O triste episódio ocorrido em junho de 2012 é a indicação do professor Luciano Ribeiro, importante quadro do PMDB e do grupo do velho dr. Colbert, como candidato a vice-prefeito na chapa do histórico militante do PFL (hoje DEM) o ex-prefeito de Feira José Ronaldo de Carvalho. A indicação marca o fim da participação do grupo dirigido pelo ex-deputado federal Colbert Martins da Silva Filho na luta democrática de Feira de Santana e configura um dos mais complexos paradoxos políticos do qual se tem notícia na história do município.

Em seu discurso de justificativa o ex deputado Colbert ressaltou a dimensão conjuntural do movimento, reduziu as diferenças entre a sua própria biografia e a do candidato do DEM e afirmou tratar-se de movimento semelhante ao ocorrido com o ex vice presidente José Alencar em relação ao presidente Lula ou à adesão do ex governador Otto Alencar que atualmente é vice do petista Jaques Wagner. Neste sentido muitos foram os jornalistas que assentiram à análise.

Uma questão, entretanto permanece ausente na leitura que se faz do movimento capitaneado por Colbert e por seu grupo: qual o conteúdo das propostas e da trajetória de cada um dos grandes personagens do episódio? A linha adotada insiste em apontar para a “normalidade” do trânsito entre os grupos políticos e neste sentido é evidente o esforço retórico do deputado Colbert em relacionar as alianças do PT com o seu movimento em direção ao DEM. “Estou fazendo o mesmo que Wagner fez em nível estadual.”, afirma o ex-deputado.

Neste sentido vale a pena lembrar algumas coisas. É verdade que tanto o vice presidente José Alencar, quanto o vice Otto Alencar são exemplos de personalidades políticas que mudaram de posição em relação a um determinado conjunto de temas e passaram de uma posição a outra no tabuleiro da política, bem como é verdade que este tipo de movimentação é cada dia mais comum, sobretudo no período pré-eleitoral. Assim, ao invés de pensar sobre a legitimidade da realização ou não de mudanças de posição no processo político-eleitoral a questão que podemos destacar diz respeito ao sentido das movimentações realizadas por José Alencar, por Otto e por Colbert diante de conjunturas apresentadas.

No caso de José Alencar e Otto tratam-se de movimentos da direita para o centro, movimentos de personagens que apresentando divergência com a condução política de seus grupos formularam críticas a eles e passaram de localizações mais conservadoras para localizações mais libertárias, fazendo com isso movimentos de inflexão e reposicionamento político. É a tal complexidade das relações!

No caso do Dr. Colbert, contudo a mudança de lado não se explica na apresentação e na análise dos fatos. Otto mudou e disse que mudou porque estava cansado do modelo do carlismo e por isso aderiu a outra matiz política, o mesmo vale para José Alencar com Lula ou vários outros exemplos que possamos analisar na política de alianças do PT. Mas, e no caso do PMDB de Feira, qual a formulação de conteúdo para justificar a mudança de lado?!

Colbert não acredita mais no governo Dilma e por isso quer romper? Colbert defende voltar às propostas do mesmo Zé Ronaldo que combatia há quatro anos?! Ou seria apenas duas secretarias o preço de toda uma história de luta?!

Com tristeza penso que esta é uma página virada. Vejamos os próximos capítulos com a esperança de que melhores notícias apareçam! O povo de Feira costuma ser implacável com aqueles que esquecem a história. Apostemos nisso.

Felipe da Silva Freitas é militante do Partido dos Trabalhadores de Feira de Santana.

3 comentários:

12 de junho de 2012 às 16:57 Claudia Cruz disse...

Sinceramente, Felipe, o Colbert não me parece nada feliz com isso. Observe a expressão no rosto dele. Também não sei o que esperar do povo feirense depois de ter eleito um tipo como Pimenta para a prefeitura do município.

21 de junho de 2012 às 10:38 Charles disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
21 de junho de 2012 às 10:42 Charles disse...

Salve Felipe e demais. Colbert com Zé Ronaldo, Zé Neto com Eliana, Lula com Maluf e Sarney, Otto com Wagner, ... Sinceramente, não vejo uma direção "da direita para o centro" em nenhuma dessas alianças. Não acredito na redenção das figuras historicamente conservadoras, como você disse. Acredito apenas nos acordos de conveniência, na vontade de estar no poder, o discurso é apenas um detalhe. São todos iguais, todos esquecem bandeiras históricas, ideologias, trocam uma história respeitável de luta por 1 minuto e meio de espaço na televisão ou por 2 secretarias municipais... apenas para estar no poder. A decepção dessa foto de Colbert (por mais que ele não pareça feliz) é a mesma com a foto de Lula e Maluf, com a aliança JW e Otto, com as constantes ações conservadoras de governos ditos de centro-esquerda. Meu único consolo é a esperança de que o povo de Feira diga "Basta" a isso tudo, para que eu possa ter orgulho do governo de minha cidade pela primeira vez em meus 30 anos de existência. Abraços!

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