Essas eleições são dos vice-presidentes

|Por Bruno Silva*|



Em sua obra Suicídio, Émile Durkheim defende que a auto-imolação é um fato social do qual a sociedade tem parte significativa. Ele afirma que quando determinado individuo opta por dar cabo de sua vida, essa decisão surte efeito em todos os cantos da comunidade social, positivamente ou não. 


Essa eleição, que por vezes parece plebiscito, tem surpreendido aos eleitores que sempre acompanharam o fenômeno político com o palpite certeiro, daqueles que ninguém atribuiu ao concurso da Mega Sena dessa semana acumulado em 22 milhões de reais. 




No palco onde ocorrem embates dos candidatos Serra e Dilma, quem se destaca mesmo são os candidatos a vice. Polêmicos, recatados ou com pinta de grandes investidores, esses vices se ora são guardiões e parceiros que compartilham de ideais semelhantes ao encabeçadores da campanha, outras vezes testam violentamente a blindagem de política séria e responsável, atribuindo diversas opiniões controversas, como as dirigidas ao PT pelo parceiro de José Serra, Índio da Costa.


O último episódio rendeu diversos comentários negativos pra campanha de Serra, quando Índio da Costa declarou no próprio site oficial do partido a suposta ligação do PT com as Farc. Óbvio que é justo certificar-se da procedência da declaração, no entanto, o declarante já nos é conhecido devido algumas sujeiras que tem ruído a faixa política do candidato Serra, como o caso que resultou em multa de $ 5 mil reais, aplicadas pelo TSE no dia 18 desse mês por campanha antecipada, ou mais atrás onde encontraremos a denúncia de desvio de milhões de reais da Prefeitura do Rio, na época em que Índio ainda era Secretário de Administração. Esses fatos põem à mostra vestígios incontestes de sua frágil fibra moral.


Michel Temer, vice de Dilma, ao contrário de Índio da Costa, parece conhecer e respeitar bem o regulamento eleitoral. Foi titular da cadeira de Direito Constitucional por 14 anos na Faculdade de Direito de Itu e tendo participado ativamente da Assembléia Nacional Constituinte na construção da constituição de 1988, sabe de cor os princípios quais não deve infligir e tenta permanecer sob a égide do silêncio sepulcral, talvez por perícia para não desacelerar o bom crescimento de Dilma Roussef, que no momento lidera com a margem gorda de 8% a frente do segundo candidato, Serra, segundo o Vox Populi na semana passada (e mesmo que já esteja desatualizado, ainda assim é espantoso o crescimento em comparação ao inicio da campanha). Esse silêncio devoto não é sempre uma marca positiva, como nos casos em que significa confissão de culpa, mas por ora tem dado certo.

A candidata Marina Silva (PV), por sua vez, continua dando claras razões porque foi nomeada uma das 100 pessoas mais influentes do ano de 2009, segundo a revista Época. Numa campanha limpa e verde, vem demonstrando que não veio para enfeitar o palco do plebiscito e chama para debate qualquer sujeito que possa encarar seu diálogo afiado, respondendo sempre com respeito, decência e sem distribuir desaforos para os concorrentes da campanha, ainda que seu vice o ex-presidente da Natura, Guilherme Leal não tenha se movimentado muito na corrida eleitoral, embora em seu discurso prime sempre pela responsabilidade social e sustentabilidade, o que, segundo a própria Marina, o faz “vice dos sonhos”. Vale lembrar que em sua história de vida se destaca o papel sempre empreendedor nos desafios que peita, mas que não se harmoniza totalmente com os cargos de dirigir o país, pois para tal, em diversos momentos, será necessário ter moderação nos investimentos para não comprometer o ritmo da economia.  




O candidato a vice, Índio da Costa (DEM), relator do até então fracassado projeto Ficha Limpa, que em tese enxugaria a corrupção brasileira cuja últimas graves descobertas trás um personagem do próprio Democrata, José Arruda, como agente principal. Ainda há esperança de Índio, num ato de bravura e respeito, desvincular-se da candidatura dando fim a sua existência (parlamentar) para concorrer à presidência. Se encaixaria, segundo Durkheim, num suicídio altruísta porque o sujeito estaria levando tanta fé no exercício de política de seu companheiro de coligação José Serra, que em hipótese alguma gostaria de colocá-la sob risco. Embora eu duvide, amigo leitor, que Índio conhecido por sua afobação precipitada, tenha a sensatez de renunciar sua função por questões dessa ordem. 


A José Serra resta, reconhecendo a imaturidade de seu parceiro, fazer como fez Lula à Dilma que ungiu e blindou com ofendículos a candidatura de sua sucessora, e colocou-a em diversos cursos de aprendizagem de como se comportar numa eleição. O candidato do PSDB talvez não tenha tempo para rituais desse porte, tão fundamental e incompatível com o tempo que falta, pois a eleição se avizinha, bate à porta, e se nessa muvuca o partido PSDB resolver cortar a cabeça (de maneira suja, claro) do companheiro Democrata à tempos, a fim de resgatar a campanha eleitoral, talvez, da figura do sujeito pacato e sossegado indígena, o José Serra consiga ser beneficiário do perdão judicial, pois afinal, seria crime culposo em família. O que não podemos passar em falso é: essas eleições são dos vices à presidência, e qualquer desleixo desses poderá ser interpretado como o mais irresponsável dos acordos partidários desde a reinstalação da democracia. 

Ah! Democracia.












*Bruno Silva: Bacharelando em Direito pela UEFS

0 comentários:

Postar um comentário