Que Rei sou eu!



É preciso reconhecer em Ricardo Teixeira ao menos uma habilidade: sua imensa capacidade de sair ileso dos reveses mais drásticos. Após a derrocada da “Era Dunga” (idealizada e bancada por ele, não nos esqueçamos jamais), cri ingenuamente que o mandatário-mor da CBF também não seria poupado da sanha popular. Engano meu. Com exceção de meia dúzia de pessoas que pede há anos seu imediato afastamento da Confederação (alguns mais exaltados, a sua morte), ninguém ousou citar Teixeira como pivô do fracasso canarinho. Nem mesmo a Globo, hostilizada simbolicamente na figura do medíocre repórter Alex Escobar, quando este ouviu de Dunga palavrões em cadeia mundial, numa fatídica coletiva de imprensa após a vitória brasileira contra os costa-marfinenses.

Mais forte do nunca – porque a cada capítulo que se desdobra, ele continua incorruptível, e o que não destrói, fortalece, segundo Nietzsche -, Teixeira reafirma seu poderio com as mesmas armas e a desfaçatez que lhe é característica: quer do novo técnico (primeiro, Muricy Ramalho; depois, Mano Meneses) “renovação”, o tão almejado título olímpico e, sobretudo, o campeonato mundial de 2014, disputado aqui. Já ouvimos essa conversa antes? Sim. E pelo que se descortina, ouviremos a mesma ladainha por alguns bons anos.

Por ser este habilidoso cafajeste, Teixeira não poderia deixar de contornar pequenas gafes cometidas pelo seu ex-subordinado, ganhando com esses pequenos acertos de conta mais credibilidade em meio aos calhordas que compõem a nossa capenga opinião pública. Não pediram os “meninos da Vila” na seleção? Pronto. Lá estão (com um atrasado de Copa, mas isto é “irrelevante”, segundo Teixeira). Não pediram a volta do futebol-arte? Pois não, agora em seu discurso não falta “protagonismo”, “característica ofensiva”, “magia do futebol”, e todas essas marolas. E fez mais: pediu para que os “novos meninos da seleção” autografassem uma bela canarinho número 10 com o nome do hostilizado repórter global. Então, pensa Teixeira, já está tudo certo novamente.

É óbvio que, ao terminar de escovar os dentes antes de dormir em sua mansão num ponto nobre da Cidade Maravilhosa, ao deparar-se frente ao espelho, ele não exclame entusiasmado: “Que Rei sou eu!”. E eu me pergunto, aqui, em frente este computador: que súdito somos nós?...

1 comentários:

3 de setembro de 2010 às 07:41 M. Correia disse...

É a magia do futebol.

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