Por Karine Braga de Queiroz Lucena*
18 de setembro marca o quadragésimo aniversário de morte daquele que é considerado um dos mais criativos e influentes guitarristas da história do rock: Jimi Hendrix. Sinônimo de solos distorcidos e efeitos eletrônicos devastadores, Hendrix ampliou as possibilidades do seu instrumento. Para lembrar a data, montou-se, em Londres, uma exposição que inclui itens do artista, desde roupas e chapéus usados em shows, passando por anotações íntimas até – é claro! – suas guitarras. Do outro lado do Atlântico, em plena região do semi-árido baiano, não podemos conferir tal evento. Mas é possível conhecer um pouco de sua biografia.
Obstinado autodidata, ganhou a primeira guitarra no verão de 1958, quando o pai percebeu que seria inútil opor-se a sua obsessão em tocar, ao flagrá-lo dedilhando cabos de vassoura. O contato frenético com a guitarra (de oito a nove horas diárias) tornou-a praticamente uma extensão de seu corpo. Ela podia ficar atrás das costas ou de cabeça para baixo: não tinha problema, ele a tocava. E o que é mais curioso: sem inverter as cordas. Chegou até a tocar com os dentes. Jimi era pura acrobacia. Jimi e a guitarra, uma relação orgástica.
Frenética também é sua vida pessoal, que inclui andanças com carros roubados, destruição de quartos de hotel devido à embriaguez e relatos mentirosos para safar-se do exército (inventou que se apaixonara por um colega). Naquele momento, explodia a guerra do Vietnã e Hendrix queria mesmo era dedicar-se inteiramente à música. Desiludido com os EUA, sua terra natal, chega à Inglaterra, em 1966. Ganha fama na Europa com a banda The Jimi Hendrix Experience, que incluía Mitch Mitchell na bateria e Noel Redding no baixo. Em 1968, a banda foi responsável por um dos maiores álbuns de rock de todos os tempos: Electric Ladyland.
Hendrix também formou parceria com outros monstros da época, como Ike e Tina Turner, Sam Cooke, Little Richard e Eric Clapton. Foi sensação no lendário Festival de Woodstock, em 1969, quando esteve de volta aos EUA. Seu público delirava com sucessos como o funk-rock Crosstown traffic: “You jump in front of my car when you, you know all the time that 90 miles an hour, girl, is the speed I drive.”** Ganhou notoriedade pelo espírito irreverente que punha fogo (literalmente) nas guitarras.
Morto aos 27 anos (compõe o “clube dos 27”, ao lado de Janis Joplin e Jim Morrison), até hoje, o episódio que envolveu sua morte não foi devidamente esclarecido. A versão oficial é que Hendrix ingeriu uma combinação de vinho e tranqüilizantes, acabando por asfixiar-se no próprio vômito, em um quarto de hotel londrino. Apesar das experiências lisérgicas (como quase todos de sua geração), no entanto, conta-se que Hendrix era introvertido e levava uma vida pacata. Tudo aquilo que se via nos palcos era apenas para “extravasar”.
Ainda bem que nada pacata foi a sua brilhante carreira. Como os verdadeiros artistas, estava à frente do banal. Pôs fogo não só na guitarra, mas na maneira própria de se fazer rock. Movia-se a 90 milhas por hora.*** Ou, talvez, por segundo.
* Pesquisa e ama Literatura, mas confessa consumir mais Música do que qualquer outra arte.
** Tradução: “Você pulou na frente do meu carro quando você, você sabe sempre que 90 milhas por hora, garota, é a velocidade que dirijo.”
*** O equivalente a 145 km por hora.
3 comentários:
Vem em ótimo momento quando já se passaram 40 anos que perdemos a presença física do Jimi. Gostaríamos que conhecesse o nosso blog http://absintomuitorock.blogspot.com/ e a nossa banda http://www.myspace.com/absintomuito
“O Rock Prevalece!”
muito bom... os guitarristas agradecem, e para os músicos, admiradores ou simpatizantes deixo essa dica http://www.guitarshredshow.com/main.html
é um site onde o usuário pode interagir com licks de guitarra apertando apenas os botões do teclado. Há fraseados com aplicação em modos gregos, licks, tablaturas, enfim.. uma boa fonte de diversão e estudo vale a pena conferir! abraços
Congratulações pelo texto. Assim como o artigo sobre Salmudio, é claro e elegante. Devo ainda acrescentar a respeito desse que é digno, porque seu assunto é a vítima, não perdeu tempo em biografar o assassino, não perdeu tempo em tentar entender as razões ou as motivações sociais que levaram o goleiro a fazer o que fez, não perdeu tempo em dizer que ele nasceu pobre, analfabeto e banguela e que cresceu num mundo injusto. Seu assunto, como já disse, é a vítima e a dor daqueles que a amaram. Quanto ao gênio-afro-black-negão-melhor-guitarista, gosto muito do Axis: Bold as Love, o que tem a famosa Little Wing. Agora fica uma pergunta: por que esses talentos, ao menos no mundo pop, se fazem acompanhar de um impulso autodestrutivo, como se uma coisa fosse necessária a outra? Será que tem de ser assim?
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