|por Yuri Santana Cerqueira*|
Caetano no Programa Eleitoral de Marina |
Caetano é um artista da moda, das novas tendências, um cantor e compositor que não se importa em restringir sua criatividade admirável (pelo que um dia já apresentou) aos limites propostos pelo mercado musical para se manter famoso. Acaba se submetendo aos desejos das massas envolvidas nas vontades divulgadas na sessão da tarde, impulsionada por interesses de quem tem domínio no que se é veiculado na telinha, sendo assim um revolucionário para a juventude dita esclarecida, filhos de 20 anos de neo-liberalismo, porém limitado pelos interesses de quem dita a moda. Caetano é um revolucionário com limites, um reformista.
A juventude tem sempre uma essência revolucionária. São pessoas com as quais a sociedade por muito tempo não se preocupou em conter seus questionamentos e que agora devem ser contidos por que logo não dependerão dos pais (reprodutores de informações; recrutados sob as regras da alienação devido a sua subordinação compulsória condicionada pela histórica restrição de consumo familiar), e se tornarão questionadores do sistema ao qual serão submetidos, condicionando um maior nível de organização vislumbrando uma transformação radical para solucionar as contradições de um modo de produção.
Isso não pode acontecer! Pensa logo as velhas panelas eleitorais. Parem de perguntar! É o que desejam. Mas eles sabem quais os efeitos do estranhamento, e são sutis nas transformações, precisando dialogar, e às vezes ceder em alguns pontos, para que as pessoas se mantenham acomodados, pelo menos aqueles que podem consumir mercadorias não devem sentir motivados a aumentar seu ritmo de questionamento, se possível reduzir a um limite tendendo a zero.
Nesse bojo, as transformações são programadas para gerações, desde o fim da ditadura e com a era neoliberal, a mudança da mentalidade, condicionada por uma forte campanha midiática alienante que garante as reformas da proposta econômica liberal, criou uma juventude cada vez mais apática, aceitando melhor as exigências, padronizando os desejos e até mesmo as bandeiras de luta. Hoje todo mundo tem que esquecer as diferenças e lutar pela natureza, todo mundo e é isso que importa.
E Caetano segue com as transformações da juventude, por que Caetano é pop, e quando ser revolucionário foi ser pop, Caetano era revolucionário, mas se ser pop agora é defender a reforma ecológica, Caetano é Marineiro. Agora o eco capitalismo é a solução vendida para essa juventude, que maciçamente culturalizadas pedem para ouvir o que lhe apresentam.
Isso só confirma que a arte não está acima da política e da ideologia, pois estas são partes do cotidiano que compõem a linguagem e os temas de uma sociedade ao qual o artista está inserido e, portanto o que ele faz é influenciado.
E Caetano, assim como outros artistas ditos esclarecidos, aceitou se aliar ao sistema, pois artista de sucesso no capitalismo é artista pop (flexível e subordinado), e dessa forma aceitou conter seus questionamentos. O grande talento dessa era não é encontrar as perguntas certas, mas sim responder das formas que te pedem.
Caetano era bom quando expressava a juventude de proposições revolucionárias, mas se tornou medíocre para que a moldada juventude da primeira década do século XXI possa lhe apreciar.
* Yuri é estudante do curso de Economia da Universidade Estadual de Feira de Santana e é sósia do craque Argentino Maradona.
8 comentários:
É um tremendo paradoxo achar que Caetano quer estar fora da mídia fazando revolução ou qualquer coisa do tipo... ele é pop e sempre foi!!, a deferença é que, sempre perguntam pra caetano sobre os mais diversos assuntos, e ele é apenas um artista (essas palavras são dele!!), então estar ou não estar na mídia não diz respeito a se vender ou ceder ao que uma maioria de artistas faz!! Esta sim ligado a necessidade de ser visto e por consequência ter suas idéias vistas também, ele e outros antigamente faziam isso e escandalizavam, mais os tempos são outros e "revolucionar" pode não ser só criar algo novo, mais também apontar uma diferente visão daquilo que ta alí o tempo todo! Ele so está fazendo o que um artista sempre tinha que fazer, só que agora estão estranhando porque ele nunca tinha feito isso da maneira "correnta". Abraços a todos.
Caetano continua bom no que faz de melhor. Só a juventude que não sabe o que é nem onde está é que acredita no que ele diz sobre Marina.
Então "revolucionar pode não ser só criar algo novo", pois "os tempos são outros" e o que nos resta é "apontar uma diferente visão daquilo" que está posto.
É justamente isso que acontece, Caetano criava no tempo que revolução significava revolução, mas agora revolução virou reforma e não pode se mas criar.
Está de acordo com a proposta política que ele apoia. Reforma ecológica nada mas é do que mais do mesmo, continua a exploração, o que muda é que agora entra no cenário economico as "empresas verdes", é só mais uma disputa de interesses de capital.
não acredito que a 'resposta' seja reduzir a inquietação que caetano ainda provoca, por meio de suas letras, ao projeto político que ele acredita. continuo divergindo dele, inclusive pelo que uma música como 'perdeu' (do seu último álbum) consegue me remeter. longe de entender que linguagem nova é essa e (por incrível que pareça) de como ela tem muito a ver com um grito revolucionário abafado\esquecido, nossa geração até agora só sabe se dizer refém do 'perdeu, perdeu! passa pra cá! tem que dar, tem que dar'
Acredito que o central neste debate não deveria ser a posição de Caetano, pois pelo que já declarou, além de votar em Marina para presidente, vai votar em Cesar Maia (DEMO) e Jean Willes (PSOL), o que mostra sua total incoerência com o mundo real. O que devemos debater é sobre uma juventude que vai votar em Marina achando que está revolucionando o mundo. Acho que isso é o que mais preocupa.
ufa! "então".rs.
A juventude que vota em Marina, pelo que me permite supor o meu restrito círculo social, não é a mesma juventude que ouve o Caetano atual.
E, sinceramente, não consigo enxergar a relação da arte de Caetano, seja em 70' ou 00', com nenhum posicionamento ideológio coerente, seja revolucionário ou reformista ou ultra-conservador. Corrijo-me: ele consegue flertar com tudo isso ao mesmo tempo (Paulão que o diga).
Já que, se a arte não está acima da política, esta também não está acima da arte: o universo estético estabelece contatos com mundos diversos e, não raro, conflitantes, incoerentes. Como, então, querer que tenha obrigações com o mundo real símbolos e linguagens dedicados a compor uma outra realidade?
Postar um comentário