A “interiorização” do Campeonato Baiano

|por Franklin Oliveira Jr.*|



Apesar de o futebol haver se disseminado muito cedo por todas as regiões baianas, durante quase meio século (1905-1953) o campeonato “estadual” se reduziu a ser coisa somente da capital do estado. Em praças como Feira de Santana, Jequié, Vitória da Conquista e Ilhéus existia há tempos futebol amador. Os anos 40-70 vem à criação de novas ligas, de clubes como o Fluminense, o Atlético de Alagoinhas, e estádios como o Mário Pessoa, o “Carneirão” e o Municipal de Feira de Santana.

Só em 1954, sob o governo desenvolvimentista de Antônio Balbino, é que o Fluminense de Feira de Santana (que já “papava” títulos há tempos na liga feirense) receberia um convite inédito para participar do certame. No entanto, já no terceiro ano de sua participação o clube alcançaria a façanha do vice-campeonato.

Demoraria treze anos para o campeonato ser interiorizado, o que ocorreria em 1967 após o governo do municipalista Antônio Lomanto Junior. Neste ano, metade dos quatorze times que disputaram foram do interior, entrando o Bahia (Feira), o Itabuna, o Conquista, e três clubes de Ilhéus, o Vitória, o Flamengo e o Colo Colo. Porém, mesmo a medida sendo justa houve quem contestasse a novidade. Uns acharam “muito” a inclusão de chofre de tantos clubes. Outros questionaram a “estrutura” que os municípios de Feira e Ilhéus teriam para abrigar mais de um clube.

O enorme retardamento para que eles participassem do campeonato agravou as condições desproporcionais de disputa onde é enorme a diferença de títulos entre capital e interior. Mesmo com a alteração experimentada nas duas fases finais, os clubes do interior conquistariam apenas três títulos de campeão baiano, sendo um na segunda fase e dois na terceira fase, respectivamente, em 1963 e 1969(Fluminense de Feira) e 2006, como o Colo Colo. Eu sou um privilegiado, pois veria essas conquistas, estando presente em vários jogos desses campeonatos e nas partidas decisivas. Esses episódios, entretanto, nos dão uma media de 18 anos por cada vitória do “interior” sobre a capital.

No entanto, a estatística não pode responder a todas as questões. Nosso centenário campeonato teve três fases. Na primeira (1905-1953) os clubes da capital concorreram sozinhos; na segunda (1954-1966), tiveram a companhia solitária do Fluminense de Feira; e, finalmente, na terceira (1967-2007), se altera a balança desta participação quando passa a ser crescente a participação dos clubes interioranos.

No entanto, é preciso dizer que esta época coincide com a instituição do Campeonato Brasileiro e a construção do anel superior da Fonte Nova levando a uma era de massas sem par em nosso futebol. Estes fatores fortaleceram decisivamente a dupla BA-VI que, ao fim desta fase puderam se dar ao luxo de representarem sozinhos a capital do estado contra uma maioria absoluta de clubes do interior do estado.

As campanhas do Fluminense em 1963 e 1969 foram impressionantes. Na primeira seu time base era Mundinho, Misael, Zé Oto, Onça e Nico; Veraldo e Neves; Mário, Chinesinho, Renato e Macalé. Com este time ganhou as seis primeiras partidas seguidas e faturou o primeiro turno. Depois saiu em excursão para Sergipe não obtendo o mesmo rendimento no segundo turno ganho pelo EC Bahia.

As finais foram de “melhor de quatro pontos” como era comum na época. As duas primeiras partidas deu empate, de 0 X 0 na Fonte Nova, e de 1 X 1 no Estádio Joia da Princesa. A decisão ficou para o segundo tempo do terceiro jogo, quando os touros do sertão, após estarem em desvantagem no marcador (com um gol de Biriba), viraram o jogo com dois gols de Renato, o goleador do clube no campeonato. Na campanha o Fluminense obteria dez vitórias, cinco empates e quatro derrotas, fazendo 23 gols contra 19.


Poucos participariam do time base da campanha de 1969, constituído de Ubirajara, Ubaldo, Sapatão, Mário Braga e Nico; Merrinho, Delorme e Robertinho; João Daniel, Freitas e Marcos Chinês. A campanha seria ainda mais contundente ganhando o campeonato por antecipação ao vencer o EC Vitória por 1 X 0 na Fonte Nova. O Galícia, que experimentou em 1967/1969 sua melhor fase na Fonte Nova, e que havia obtido o título no ano anterior, ficou em segundo lugar ao empatar de 0 X 0 com os feirenses. O clube teve apenas três derrotas num campeonato onde fez 61 gols!

Após esta época o clube teria ainda algumas glorias. Nos anos 70 participaria por três vezes do Campeonato Brasileiro, e, nos anos 90 obteria importantes vice-campeonatos, dois na Bahia seguidos, e um a nível nacional na Terceira Divisão perdendo a decisão para o Tuna Luso do Pará.

Já o Colo Colo surgiria em finais dos anos quarenta, conseguindo em 1953 seu primeiro campeonato na Liga Ilheense de futebol amador onde obteria um inédito tetracampeonato entre 1958 e 1961. Começaria a disputar o campeonato baiano em 1967, mas a experiência não seria agradável, com o clube voltando para o amadorismo dois anos depois quando se afastou daquela disputa por duas décadas. Em 1999 ingressaria na segunda divisão ganhando imediatamente o título e voltando á elite do futebol baiano.


Seus esforços seriam compensados sete anos depois, em 2006, quando, em um contexto onde a dupla BA-VI tinham caído para a terceira divisão, sagra-se campeão baiano de forma sensacional, ao derrotar o EC Vitória de virada por duas vezes, a primeira por 4 X 3 no Estádio Mário Pessoa, e a segunda por 4 X 2 no próprio Barradão. Na ocasião participaram de seu time base Marcelo, Alex Santos, Sandro, Wescley, João Paulo, Rodrigo, Lima, Juninho, Mário Lacraia, Ednei e Gil.

Daqui a dois anos serão decorridos sessenta anos que nosso campeonato deixou de ser restrito a capital. Não é uma boa ocasião para fazer um balanço?

*Franklin é Professor, desportista e historiador e Coordena o blog memóriasdafontenova.blogspot.com

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