Certas pessoas sabem o que falam: a propósito do septuagenário do Rei Pelé

|Por Ricarlos Castro*|


Por exemplo, Maradona. Por exemplo, Romário. Dos dois se pode afirmar o inferno, eles sempre terão duas respostas; — uma anterior, no bico da chuteira, outra, posterior, na ponta da língua. Embora, para o gênio, entre a chuteira e a língua, só a primeira é indispensável.

Já dizia Romário, com laivos poéticos redondos como a sua bola, “Pelé calado é um poeta”; ou então, “Pelé devia usar uma chuteira na boca”.

Eu, em arroubo menos inspirado, desenvolvi o argumento em versos livres da juventude, pelos quais peço perdão:

Se o galo do vizinho canta às 3:50
da manhã, a que horas
cantam os galos na Índia?

Nada é certo nessa vida
mesmo a morte vacila

De que outro modo se explica
existirem dois homens num só
mil instantes num só tempo
galos em todas as coordenadas
desafiando os fusorários?


Os primeiros versos da última estrofe são inspirados no caso stevensoniano Edson Arantes do Nascimento e Pelé. Conquanto, Pelé não seja homem, mortal ou falho, mas depende do outro, que os é.

Caprichosa é a vida: de onde se engendra o futebol...


*Ricarlos Castro costuma contribuir com o site da Transa Revista desde o meio do ano e é, também, funcionário da UEFS.

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