|Por Uyatã Rayra|
Não existem argumentos inteligíveis a todos, é um fardo. Comunicar-se é uma necessidade quase que unânime do ser humano, inerme é o desejo de ser compreensível à totalidade. Ademais, é impensável, para mim, a possibilidade de suprimir os meios de diálogo, só porque não há uma compreensão recíproca entre os entes. Em situações esdrúxulas, cabe o bom-senso: jamais chegarei até minha avó para tentar fazê-la entender que não vejo mal algum numa suruba. Nesse caso, não existe nem conversa...
Paliativo para tal incomunicabilidade pode ser a existência de uma afinidade prévia ou o conhecimento entre os interlocutores. Assim, muitos vícios de linguagem empregados não soarão estranhos. É claro que não há como conhecer todos os leitores de um texto que foi publicado numa revista. Aí, cabe ao emissor a escolha de querer ser entendido ou não! Aleister Crowley, por exemplo, fez questão de peneirar seus leitores - tentem ler qualquer um dos seus livros e perceberão. Já Jesus Cristo, tentou atingir o máximo de pessoas possíveis, incidiu sobre muitos, mas é/foi compreendido por parcos...
Outro dia estava eu conversando com um amigo acerca de um texto que escrevi. Lá pelas tantas, ele me disse que não era do seu agrado um recurso textual que eu empreguei: o uso da linguagem verbal popular, num texto escrito. O argumento que ele utilizou, para ilustrar sua insatisfação, foi que eu poderia estar sendo incompreendido por uma vastidão de leitores! Isso é óbvio! Ora, a comunicação por si só é excludente. Por mais que eu fosse claro, já estaria excluindo todos os analfabetos! E se não fossem estes, seriam todos aqueles que sabem ler, mas que por alguma razão não entenderam uma passagem do texto, por não saberem o significado de uma palavra que desempenha uma função essencial naquele discurso.
Subentendido é tudo o que não foi dito, mas que a mente torna explícito para si, por conveniência. É como se fosse um recurso, que tem como princípio básico responsabilizar o outro por tudo que foi elucubrado por você. A depender do portador da mente, tudo pode estar subentendido, logo, não basta que o orador se esforce para ser exímio, o receptor terá que ser no mínimo genial.
- Não foi isso que eu quis dizer!!!! (Locutor)
- Mas foi isso que ficou subentendido!!! (Receptor)
Há um vão enorme entre as fases nas quais decorrem a comunicação. Se atentarmos para a discrepância que existe entre o que sentimos/pensamos e o que falamos/escrevemos, poderemos perceber que o equívoco é imanente desde o princípio do processo, já que não conseguimos reproduzir fielmente o nosso âmago na linguagem. Digo isso não só pela limitação do vocabulário de cada indivíduo, mas essencialmente porque os sentimentos são ilimitados e impalpáveis. Entretanto, para que se ensaie manifestar materialmente o mínimo das emoções num texto ou no verbo, temos que submetê-las a um processo de enclausura em caracteres ou palavras, no qual há o esquartejamento, a poda e a modelagem do intento primordial. Logo após o martírio, eis a tortura: a escrita/fala será absorvida por outrem. Nesta fase, deve-se levar em conta que o outro sujeito irá interpretar o que foi escrito/dito de acordo com o acúmulo das suas experiências precedentes. A receptação do discurso talvez seja a mais equivocada de todas as fases, pois o que foi entendido pelo destinatário pode diferir integralmente do que foi intencionado pelo emissor, e, não raro ecoa-se:
É justamente por proferir todo esse blá blá blá, enaltecido enquanto “eloqüência”, que nós, seres humanos, nos vangloriamos de distanciarmos intelectualmente do restante dos animais. Aliás, um dos marcos, que concedeu à nossa raça, o avanço pra diante da pré-história foi o desenvolvimento da escrita. Além desta e da fala, preservamos e desenvolvemos outros métodos de linguagem, como a gestual e a língua de sinais. Tais artifícios unidos são essenciais para que haja um mínimo de conversação entre as pessoas, porém, toda nossa evolução não implica na existência de uma compreensão mútua entre os interlocutores. Explicarei melhor ...
Embora a abrangência do meu contato com essa tal teoria se restrinja ao título, e à amizade com o autor, Davi Lara, tentarei colaborar proficuamente à pesquisa, apresentando esse auto estudo de caso que, não obstante, me invalide enquanto cientista analítico dedutivo, sem dúvidas, me legitima enquanto ser semi-incomunicável.
* Esse texto foi originalmente escrito na ordem inversa, ou seja, do último parágrafo para o primeiro.
Paliativo para tal incomunicabilidade pode ser a existência de uma afinidade prévia ou o conhecimento entre os interlocutores. Assim, muitos vícios de linguagem empregados não soarão estranhos. É claro que não há como conhecer todos os leitores de um texto que foi publicado numa revista. Aí, cabe ao emissor a escolha de querer ser entendido ou não! Aleister Crowley, por exemplo, fez questão de peneirar seus leitores - tentem ler qualquer um dos seus livros e perceberão. Já Jesus Cristo, tentou atingir o máximo de pessoas possíveis, incidiu sobre muitos, mas é/foi compreendido por parcos...
Outro dia estava eu conversando com um amigo acerca de um texto que escrevi. Lá pelas tantas, ele me disse que não era do seu agrado um recurso textual que eu empreguei: o uso da linguagem verbal popular, num texto escrito. O argumento que ele utilizou, para ilustrar sua insatisfação, foi que eu poderia estar sendo incompreendido por uma vastidão de leitores! Isso é óbvio! Ora, a comunicação por si só é excludente. Por mais que eu fosse claro, já estaria excluindo todos os analfabetos! E se não fossem estes, seriam todos aqueles que sabem ler, mas que por alguma razão não entenderam uma passagem do texto, por não saberem o significado de uma palavra que desempenha uma função essencial naquele discurso.
Subentendido é tudo o que não foi dito, mas que a mente torna explícito para si, por conveniência. É como se fosse um recurso, que tem como princípio básico responsabilizar o outro por tudo que foi elucubrado por você. A depender do portador da mente, tudo pode estar subentendido, logo, não basta que o orador se esforce para ser exímio, o receptor terá que ser no mínimo genial.
- Não foi isso que eu quis dizer!!!! (Locutor)
- Mas foi isso que ficou subentendido!!! (Receptor)
Há um vão enorme entre as fases nas quais decorrem a comunicação. Se atentarmos para a discrepância que existe entre o que sentimos/pensamos e o que falamos/escrevemos, poderemos perceber que o equívoco é imanente desde o princípio do processo, já que não conseguimos reproduzir fielmente o nosso âmago na linguagem. Digo isso não só pela limitação do vocabulário de cada indivíduo, mas essencialmente porque os sentimentos são ilimitados e impalpáveis. Entretanto, para que se ensaie manifestar materialmente o mínimo das emoções num texto ou no verbo, temos que submetê-las a um processo de enclausura em caracteres ou palavras, no qual há o esquartejamento, a poda e a modelagem do intento primordial. Logo após o martírio, eis a tortura: a escrita/fala será absorvida por outrem. Nesta fase, deve-se levar em conta que o outro sujeito irá interpretar o que foi escrito/dito de acordo com o acúmulo das suas experiências precedentes. A receptação do discurso talvez seja a mais equivocada de todas as fases, pois o que foi entendido pelo destinatário pode diferir integralmente do que foi intencionado pelo emissor, e, não raro ecoa-se:
É justamente por proferir todo esse blá blá blá, enaltecido enquanto “eloqüência”, que nós, seres humanos, nos vangloriamos de distanciarmos intelectualmente do restante dos animais. Aliás, um dos marcos, que concedeu à nossa raça, o avanço pra diante da pré-história foi o desenvolvimento da escrita. Além desta e da fala, preservamos e desenvolvemos outros métodos de linguagem, como a gestual e a língua de sinais. Tais artifícios unidos são essenciais para que haja um mínimo de conversação entre as pessoas, porém, toda nossa evolução não implica na existência de uma compreensão mútua entre os interlocutores. Explicarei melhor ...
Embora a abrangência do meu contato com essa tal teoria se restrinja ao título, e à amizade com o autor, Davi Lara, tentarei colaborar proficuamente à pesquisa, apresentando esse auto estudo de caso que, não obstante, me invalide enquanto cientista analítico dedutivo, sem dúvidas, me legitima enquanto ser semi-incomunicável.
* Esse texto foi originalmente escrito na ordem inversa, ou seja, do último parágrafo para o primeiro.
4 comentários:
Não entendi nadaaaaaa !!!!
texto bendito.
O mais absurdo na vida é que, em meio à incomunicabilidade, há os escontros.
OK. Isso de alguma maneira estranha faz sentido,... apesar de que, o mais interessante de uma "comunicação" é o que esta nas "entrelinhas"... e tenho dito... :)
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