Da reificação do autoritarismo a mais uma primavera

Envie seu comentário sobre algum texto da Transa Revista para nosso e-mail (transarevista@gmail.com) para que publiquemos no blog. Na seção Epístola, aqui no blog, publicaremos opiniões maiores dos leitores (em geral em formato de texto), onde o leitor poderá enviar também uma imagem para ser anexada ao texto. Na versão impressa, comentários menores, no formato de carta. Inaugurando a seção, segue abaixo texto de Eduardo Rocha sobre "Quem explodirá o jardim da reitoria", texto de Mauricio Correia da seção UEFS desta primeira edição da Transa Revista.


Queria aprofundar o aspecto sócio-histórico do texto “Quem explodirá o jardim da reitoria?”, publicado no nº0 da Transa Revista. O título do ensaio de Maurício Correia, uma chamada reveladora de uma ação invisível na prática e cujo sujeito é oculto no texto, prenuncia, destarte sua interrogação inconclusa, uma necessidade pouco des-importante aos olhos de quem encara a casa grande de-front à senzala, ou para quem percebe o prédio da reitoria como materialização da arrogância e do poder universitário. Nesse sentido a pergunta de Maurício é mais do que pertinente e resgatou-me algumas lembranças na memória. Como não esperaremos (nem acreditamos) por devastações naturais no campus cabe uma inquietação: Quais sujeitos explodirão o jardim da reitoria?

Explodir o “jardim magnífico” (termo que deveria ser exterminado como forma de apresentação do gestor) torna-se plausível (como forma de contestação) se, e somente se, seu caráter político estiver explícito e bem definido.


Enquanto agitador político negando a condição pós-moderna do sujeito histórico, sou levado a acreditar no acirramento dos conflitos intra-comunidade universitária e entre parte desta e a população alijada do saber universitário. Alguns momentos de greve nesses anos 2000 são significativos e constituem-se em provas históricas desses antagonismos. Queria destacar a grave estudantil de 2003, apogeu da externalização dos conflitos comunidade estudantil x reitoria + classe dominante feirense. Durante longos 51 dias de acampamento e greve ficaram perceptíveis os prós e contras o referido jardim e sua engenharia. Embora nos deleitássemos na maciez de sua grama a estratégica subjetividade (para alguns) ou objetividade de sua composição representava uma busca pela dispersão e desmobilização de qualquer movimento organizado defront à reitoria.

O autoritarismo reificado que em nada combina com o belo presente num jardim, pode ser percebido nas disciplinares e cartesianas pedras de concreto quadradas que interligam, por dentro, os módulos da universidade. Excetuando a ligação VI-VII, o calçamento disciplinar dos tempos de ditadura combina com o histórico do capitão Boavista, truculento reitor durante a referida paralisação. Assim há autoritarismo ditatorial reificado na UEFS, em toda sua extensão, fruto de um processo político com origem simultânea ao seu surgimento e interrompido pelo grupo que atualmente está na gestão da universidade.

O fim do autoritarismo, o fim dos jardins e pedras e o fim do método UEFS de disciplinar modos, caminhos e verdades tem ligação direta com os estudantes que a fazem. Foram estes que na primavera de 2001 “explodiram” um obsoleto laboratório e reificaram A Senzala enquanto espaço de resistência. Foi o movimento estudantil que na primavera de 2003 “explodiu” e assumiu o controle do prédio da reitoria em tempos de reitorado ideologicamente e instrumentalmente militarizado. É preciso acreditar na força política e mobilizadora desse segmento, mesmo em tempos de entidades gerais atreladas a governos retrógrados. Afinal, os poderosos podem impedir o nascimento de uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a primavera.

Eduardo Rocha concluiu em 2006 o curso de Licenciatura em Matemática. O autor assume todos argumentos acima expostos, mantendo-se disponível para devagar sobre os mesmos em qualquer oportunidade.

1 comentários:

2 de fevereiro de 2010 às 14:57 M. Correia disse...

"Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De, que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés –
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma..."

(o guardardor de rebanhos - XXIX -, alberto caieiro, fernando pessoa ou eu mesmo)

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