|por Mauricio Correia*|
Não confio em informações das agências de notícias internacionais. Os motivos são muitos, mas um me chateia já o suficiente: a uniformização das versões entre as pouquíssimas agências que dominam o mercado de notícias. Isso necessariamente nos coloca num beco sem saída, já que a mídia local, desacreditada, mas cosa nostra, não tem feito questão nem ao menos de mandar correspondentes para fora do Brasil (corte de despesas?). Em suma, não possuo nenhuma fonte confiável no Oriente Médio, fato que por si só deveria me desautorizar a comentar o que tem acontecido por lá.
Em se tratando de algo que ainda acontece, e da qual ainda não sabemos quais serão os seus principais reflexos na geopolítica do mundo árabe, ainda não me arriscaria a dizer tratar-se de um novo modo de desestabilização de regimes, não incluído nos clássicos “revolta” ou “revolução”*. O que chega pela imprensa, é que as redes sociais têm tido um peso considerável na organização dos eventos públicos. Para um bom entendedor das línguas árabes, deve ser possível uma checagem no próprio Facebook, para o caso de pressupor-se ser esta também uma fonte confiável. Como não é o meu caso, prefiro tentar enxergar os fatos pelo binóculo da especulação, ora tendo-as por verdadeiras, ora identificando nos discursos possíveis hipérboles e eufemismos carregados de interesses outros que não a democracia no mundo árabe.
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Sobre as razões que levam a região a ser alvo de interesses tão comovidos por parte das nações que ainda levam a cabo “O Grande Jogo”, por óbvias que me parecem, não merecerão considerações maiores do que uma só palavra pode alcançar em significado: Petróleo.
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A península arábica, que juntamente com o norte da África, Turquia, adjacências e sul da Rússia formam o que hoje conhecemos por Oriente Médio, tomou a atual configuração apenas ao final da Primeira Guerra Mundial, quando, entre palácios da Inglaterra e da França, militares e burocratas riscaram um mapa inventando fronteiras conforme seus próprios interesses. Naquela época havia somente especulações sobre o potencial dos poços de petróleo intocados sob os desertos. E apenas alguns poucos visionários, entre eles empresas americanas, já haviam percebido o papel que este belo e viscoso óleo negro desempenharia no decorrer do século XX.** Na medida em que as primeiras conseqüências desta desastrosa intervenção aconteciam, entre revoltas locais, redes de intrigas tanto entre os novos líderes árabes quanto entre as potencias que os apadrinhavam, a Europa e os EUA lavaram as mãos e abandonaram o Oriente Médio a própria sorte, entre guerras civis, genocídios e toda sorte de tragédias que empurraram os árabes à desorganização política e econômica, gênese da condição que hoje se encontram.
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Errata: Europa e EUA colocaram por lá um eficiente cão de guarda, com uma patinha posta sobre uma quantidade incerta de ogivas atômicas. Ele sorri quando é provocado.
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Um fio de otimismo: não seriam desta vez as ditaduras aliadas desse lindo ocidente consumista que caem como peças de dominó? Não estão os povos árabes utilizando de forma eficaz as armas criadas por aqueles contra quem efetivamente lutam, após décadas de mordaça?
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Uma questão: contra quem os árabes que se movimentam agora lutam mesmo?
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A Palestina, por exemplo. Como se posicionarão os novos líderes que surgirão com a queda dos antigos em se tratando da política do Estado de Israel naquele país? Recentemente, a ONU não aprovou uma resolução que condenaria os novos assentamentos em território palestino, incentivados pelo governo de Israel. Foram 14 votos contra um, a favor da resolução. O único voto contrário foi dos EUA, que tem poder de veto. Sabe-se lá a que preço. Neste último domingo, a força aérea israelense realizou ofensiva na faixa de gaza, matando civis, alegando bombardearem “objetivos”, ao invés de pessoas. Sempre com a justificativa de resposta a algum míssel palestino que cai no deserto, ou em uma casa vazia.
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Acredito ainda não ser possível avaliar os resultados da última – e talvez maior – intervenção brasileira na questão árabe. Lula, usando daquela malandragem tão cara a nossa cultura, deu uma boa cutucada nos norte-americanos, não se sabe se por diversão, interesses comerciais ou pela paz mundial. Sobre diversão, acredito que Lula deve ter dado boas risadas ao saber que o companheiro Obama ficou magoado com ele; sobre interesses comerciais, soube-se que alguns meses depois da aproximação com o Irã e seus aiatolás, uma comitiva com mais de cem grandes empresários brasileiros fez um tour pelo oriente médio fechando contratos; sobre a paz mundial, não seria ingênuo a ponto de levá-la a sério na atual configuração das coisas.
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Efetivamente, a única notícia que me deixa, não diria otimista, mas veramente emocionado no meio desse balaio de ratos, é saber (ainda que de fonte não confiável) que agora, quando a Líbia encontra-se em pleno estado de sítio, as forças que derrubarão Ghaddafi gritavam “Brazili, Brazili” entusiasticamente ao deixarem brasileiros passarem ilesos pelas trincheiras.
*Mauricio Correia, bacharel em Direito pela Uefs.
* Sobre essa questão, ótimo texto de Muniz Sodré: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=630JDB002
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