|por Franklin Oliveira|
Salvador esta semana foi um marasmo só. Também, quem manda São
João cair num fim de semana? Aí o pessoal emendou com São Pedro e já ficou lá
pelo interior. Foi por isso que esta semana pouca coisa funcionou de verdade
por aqui. As repartições atenderam pouco. Os consultórios nem se fala, e pouca
gente apareceu nos exames. Até os taxis reclamaram da falta de gente pra
transportar.
Pensei que não ia poder ir ao jogo Vitória X Avaí devido a minha
crise da coluna. Aí aproveitei a ocasião pra comprar um rádio e deixar de
assistir ao jogo na internet pois ninguém merece ter que ficar olhando a
telinha e o som interromper logo no ataque do meu rubro negro. Mas descobri que
certas coisas não frequentam mais imaginário do comércio. Imaginem que não
existem mais rádios! É MP3, MP sei lá de que, equipamentos paraguaios e
chineses que também sintonizam emissoras, e o escambau. O que mais parece com o
velho radinho só pega FM!
Duas horas rodando e não consegui comprar um simples rádio. O
jeito foi botar o rabo entre as pernas e capengando, esquecendo os choques e
formigamentos da coluna, ir ao jogo. Pedi ao meu vizinho pra estacionar perto
mas pra isso tivemos que chegar as quinze pras três. Aí foi barbada arranjar vaga no
posto logo em frente da ladeira do Barradão.
Entreguei as habituais dez “pilas” ao guardador e enfrentei a
sofrida ladeira. Doía toda vez que respirava mas consegui chegar vivo lá em
cima. Aí troquei minha carteira do programa Eu
sou mais Vitória e adentrei
feliz ao estádio. Puxa, parecia que a torcida tinha sofrido mais do que o
normal a virada do Goiás no último jogo. Eu também tinha achado o fim da picada
mas não estava ali?
Aos poucos começaram a chegar os amigos de sempre nas cadeiras.
As opiniões variavam em relação ao time, desde os que querem reforços aos que
(poucos) achavam que esse elenco mesmo já dá pra subir. Mas me preocupei pois o
quase consenso é pau no técnico Carpegiani. Eu concordo que ele errou em
Goiânia mas isso não é motivo pra sacá-lo do time, ainda mais pra botar quem: o
eterno substituto Ricardo Silva.
A conversa estava tão boa que nem percebemos que as cadeiras
quase foram se enchendo e melhorando o público. Aí o Vitória entrou em
campo...de preto e branco. Será que tinha vindo assistir o jogo errado? Que a
diretoria resolveu assustar o Avaí fantasiando o time como seu arqui adversário
o Figueirense? Que estava pensando que o negócio era aquela série chata de TV
Havaí 5 – 0?
A série era do tempo da onça, sendo exibida entre os anos 60 e
80. Foi uma série policial, que se passava em meio ao clima paradisíaco da ilha
havaiana, que combatia o submundo através de uma polícia estadual de elite, a
Hawaí 5-0. Lembro-me que levei anos cantando a musica tema da série que é muito
conhecida.
A equipe policial não tinha onze mas três a cinco membros.
Vibrávamos com Jack Lord (Steve McGarrett), Danny Williams (James Arthur), Kono
Kalakaua (Zulu) (que foi substituído mais tarde por Ben Kokua (Al Harrington),e
Chin Ho Kelly (Kam Fong). Mais tarde entrou Duke Lukela (Herman Wedermeyer).
Isso até quando eu assistia, mas sei que depois entrou um monte de gente não
sobrando quase ninguém dos que iniciaram. Os caras desmantelavam quadrilhas,
prendiam mafiosos, o diabo! Tudo isso com muita ação e com roteiros que davam
gosto de ver.
Os famosos detetives sequer apareceram no jogo do Vitória contra
o falso Hawai que, aliás, nem foi bom de roteiro. A começar que a equipe
policial nem usa mais o H e mudou o nome pra Avaí mesmo. Quando percebi isto vi
que não tinha jeito de não dar Vitória. O time nem parecia o da série policial.
Começou tímido em campo e o leão baiano aproveitou pra dominar a bola. Antes
dos dez minutos Marquinhos já chegava na cara do goleiro e perdia bisonhamente
o gol chutando em cima. Mas sabem como é, como o pessoal é da lei e da ordem o
juiz não estava nem aí par as faltas desclassificantes que tomavam jogadores
como Nino e Pedro Ken.
Aos doze minutos a bola sobrou pra Neto Baiano mas o zagueiro
tirou. O Vitória começava a marcar sob pressão mas os detetives passaram a
tocar a bola e esfriaram legal o jogo. Ao invés do Hawaí ser aqui parecia que
estávamos na Sibéria. E foi na casa dos vinte que os detetives se ensaiaram.
Primeiro o ataque deu um peteleco pro gol que Douglas defendeu firme.
Logo depois, aos 22 e 23 minutos, os ex-detetives assustaram de
novo. Na primeira oportunidade contaram com a colaboração de Douglas, que saiu
de forma afobada e foi driblado com o cara chutando cruzado e a bola bateu na
trave. Foi uma confusão mas a defesa acabou afastando. A próxima foi uma falha
clamorosa de Rodrigo que o atacante aproveitou, entrou de cara, e...chutou lá
pras bandas dos Estados Unidos.
Aos 25 a defesa deu outro presente mas o time da série famosa
chuta mal. As coisas iam mal para o Vitória. Tartá, Neto e Marquinhos não
estavam num dia inspirado e ainda tinha a Avenida Mansur. Olha que a equipe
policial já podia ter feito o nome da série mas o leão baiano decidiu reagir e
Marquinhos, entrando pela direita, acertou uma no gol para o goleiro espalmar
pra escanteio. O jogo então ficou mais equilibrado até os 37 minutos quando
Marquinhos (sempre ele) quase chega no gol, e, aos 42, quando houve uma bela
troca de passes de cabeça que quase termina dentro do gol.
Que fazer no segundo tempo pra mudar o quadro? Do jeito que
estava podia ter umas duas horas de jogo que os delegados não tomariam gol. Nas
cadeiras, porém, não havia dúvidas tinha que ocorrer mudanças e o preferido pra
sair era Pedro Ken entrando o novato Marco Aurélio em seu lugar.
Parece que Carpé gastou todos os seus erros em Goiânia pois,
graças a Deus, entrou com Marco Aurélio e Gabriel após o intervalo. A surpresa
foi quem saiu, Tartá e Rodrigo. Na oportunidade houve pouca reclamação, mesmo
havendo quem defendesse a permanência de Tartá, pois vinha sendo o melhor
jogador do time. Mas não é que o time melhorou?
O Vitória começou em cima com os detetives se defendendo. Aos
três minutos causou o maior reboliço na área dos homens quando o goleiro deu
rebote. E, aos treze, nova confusão, mas sem resultado concreto. O pessoal
saudosista da série nem via Steve Mc Garret ou Zulu mas uma equipe toda voltada
para a defesa. O Hawai mudou a equipe, da mesma forma que fez durante os doze
anos da série, mas pouco adiantou.
Aos 24 minutos Douglas quase mata a torcida do coração ao largar
a bola no meio da área num escanteio, mas a defesa mandou pro espaço. Quatro
minutos depois Jack Lord desceu num, contra ataque perigoso mas a bola bateu e
voltou pra Marco Aurélio pegar de “prima” e o goleiro botar pra escanteio. Um
minuto depois o mesmo Marco Aurélio passa a bola pra Pedro Ken chutar de fora
da área e a bola bater na trave esquerda e ir morrer no cantinho da outra
trave: 1 X 0.
Aí o Hawai foi pra cima e chegou mesmo a lembrar os velhos
tempos da série. Os detetives deram sufoco. Foram mais de dez minutos de bolas
cruzadas e cobranças de falta da intermediária. Numa dessas Douglas aceitou uma
falta incrível cobrada do meio do campo. Ainda bem que tinha um bandeirinha
camarada. Foi o melhor zagueiro do Vitória. Quando a zaga claudicava lá estava
ele levantando o bastão. Gente boa esse paulista!
Enquanto os detetives atacavam Marco Aurélio enfiou outra bola
com açúcar, agora pra Mineiro, que havia entrado no lugar de Marquinhos, e o
menino fez um golaço aproveitando-se de um furo do zagueiro: 2 X 0.Ainda deu
tempo pro Neto Baiano bater uma falta nas mãos do goleiro e prum detetive ser
expulso. Quem te viu, quem te vê. A polícia não é a mesma nem lá nem, cá. E o
Vitória passou por mais um.
Franklin Oliveira Jr. é desportista, escritor, professor universitário e criador do
blog Memórias da Fonte Nova e da WEB TV Pra que política?
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