|por Franklin Oliveira|
Gente, vocês tem que assistir ao filme Os intocáveis. Tem gente que só gosta do que é feito
em Hollywood mas acaba perdendo bons filmes de países como a França. Este é de
Eric Toledano e Olivier Nakache, e tem no elenco o ótimo ator François Cluzet e
a revelação Omar Sy. Apesar de ser anunciado como comédia o filme é muito
profundo. Trata da história de dois mundos. De um lado está o mundo de
Phillippe, um rico aristocrata branco, que fica paralítico após um acidente de
paraquedas. E, do outro lado, está o de Driss (negro africano nascido na
Nigéria), recém-saído da prisão por roubo, para ser seu acompanhante.
Os diretores dizem que a história é verdadeira e que os dois
continuam amigos até hoje. Entre uma risada e outra dos assistentes o filme
desfila um método nada usual para um cuidador. Aliás, tomara que Dona Laura
(que cuida de meu pai) não o veja jamais. É que Driss se candidata para uma
vaga de um emprego sem ter habilitações pra tal. É descuidado, desleixado,
assedia sexualmente suas colegas, fuma maconha no trabalho, o escambáu.
A começar pela contratação, que só saiu por Driss não sentir
piedade do seu empregador que já estava cansado da pena das pessoas. Desta
maneira o francês-africano não tem saída a não ser aceitar a função, já que foi
despejado de casa pela mãe que nem sabe que ele ficou preso. A partir daí
desfilam situações antagônicas, a da relação entre patrão e empregado, rico e
pobre, nacional e imigrante, branco e negro, portador ou não de deficiente, e ,
principalmente, entre proletário e burguês.
O filme surpreende especialmente por propor a todos esses
estados antagônicos uma conciliação que está longe de existir na vida real.
Logo a França cuja sociedade moderna é fruto da revolução mais radical contra a
aristocracia que custou a vida de pelo menos de mil nobres e a cabeça de Luís
XVI! Que foi o território onde se desenrolaram os acontecimentos da Comuna de
Paris de 1871! Deu pra ver um pouco disso quando estive com Cybele em Paris e
presenciei que os trabalhadores de lá não dão mole para os patrões.
O empregado sintoniza o patrão de novo com a vida, mas não
aquela que os franceses viviam antigamente, mas a da crise civilizatória atual
onde prolifera a violência, as drogas, e a resolução digamos pouco usual, dos
problemas. Mas, embora a narrativa seja bem diferente, o final é hollywoodiano,
terminando tudo bem para todos e onde o patrão fica com uma namorada.
O engraçado da história não foi o filme mas a semelhança entre
ele e a situação intocável do Vitória na tabela do Brasileirão. Mesmo que não
tenha sido um desastre de paraquedas que torou o leão da elite de clubes que
possuem títulos nacionais a chegada do Driss esse ano parece que vai mudar tudo
isso fazendo com que saiamos dessa paralisia.
O campeonato da Segundona de 2012 também vai mudar a vida do
rubro negro, e olhem que apesar de também ter nome estrangeiro o nosso Driss
não é africano mas italiano: Carpegiani. Eu, como todo mundo, falei contra
esses costumes tão estranhos como os do filme. Afinal Carpe não senta no banco
como os outros técnicos preferindo ficar lá nas cabines de ar condicionado dos
estádios. Fiquei em dúvidas também se ele ia se adaptar á Segundona, pois nunca
dirigiu nenhum time dela, e se esse negócio de botar dois auxiliares no banco
pra dar as ordens aos jogadores ia dar certo. Mas não é que tudo até agora tem corrido
á mil maravilhas?
O meu time cumpriu uma via
crucis no certame mas foi
subindo progressivamente, entrou no G-4 e chegou à liderança há duas semanas e
não tem largado o osso esperando o Criciúma tropeçar o que aconteceu esta
semana com a vitória do Guará. Todo mundo sabia que os catarinenses não tem
reservas á altura para um campeonato tão longo. O que resta saber é se o
Vitória vai manter a pegada.
Ontem foi titirrany em Natal. Depois de sofremos um mau pedaço
pra vencer o Barueri no Barradão viajamos esperando que os times jogassem mais
abertos dentro de casa. Qual nada, a situação do segundo turno só fez agravar
as coisa. Todo mundo quer tirar um pedaço do líder e não é que o América de
Natal, em pleno alçapão de Goianinha, jogou com três volantes e nos contra
ataques? Assim como em boa parte do filme ninguém dava mole pro Driss ontem não
deixavam andar os principais jogadores do rubro negro como Pedro Ken, William e
Elton.
Na terça feira já o Barueri marcou homem a homem nossa dupla de
atacantes, de sorte que eles não conseguiram fazer jus a sua fama de
brocadores. O jogo começou lá e cá, Willie chegou à área do América e esses
também, mas foi peteleco de ambos os lados. Diferentemente do filme, onde o
herói só podia mexer o rosto, o leão tomou as rédeas do jogo aproveitando o
recuo do Mecão. A primeira chance de ouro veio aos sete minutos quando a bola
sobrou na grande área para Pedro Ken que chutou mas a bola bateu num zagueiro e
sobrou de cara, com o goleiro Dida vencido, e Elton demorou pra chutar e perdeu
o gol.
O rubro negro era dono das ações mas quando o América ia era
sempre perigoso. Aos 16 minutos um cara bateu uma falta cruzado pra Deola
defender e Victor Ramos rebater, mas outro cara pegou o rebote e chutou fora
por cima. Três minutos depois um bom lançamento de Uéliton pegou Willie bem
colocado mas ele não conseguiu dominar a bola na área.
Mais uns minutos foi a vez de Michel chutar bem de longe pra
bola bater num defensor. Mas, foi quando o Vitória estava melhor, que o Mecão
abriu o placar. Foi num contra ataque rápido, e lançaram Curió que tabelou sem
querer com um atacante e chutou na entrada da área pra vencer Deola se
aproveitando do escorregão do lateral Gilson: um a zero pros inimigos.
Trememos nas bases, e o pior que o Criciúma havia ganhou o Braga
(com uma bola que não entrou!) no dia anterior, mas confiamos numa reação. Será
que o América iria ter preparo físico pra segurar o tempo todo este estilo de
jogo? Afinal, no filme, o protagonista parece que vai morrer umas três vezes e
se salva! Logo aos 26 minutos seu lateral direito sai contundido tendo que
entrar o reserva. Dois minutos depois o cruzamento de Pedro Ken de uma falta de
Willie não resulta em nada. E aos 30 quase sai o segundo, num cruzamento nas
costas de Léo que Gilson tirou de cabeça pela linha de fundo.
Não dava pra continuar este estado de coisas até o meio do
filme, e Carpé fez alterações de posicionamento importantes, uma delas
colocando Pedro Ken pra jogar na borda direita do campo a partir da defesa. Só
assim deixaram de perseguir o maestro do Vitória. Com os atacantes bem marcados
só sobrou alternativa a quem vinha de trás. Foi assim que, aos 35, num
escanteio, pulou todo mundo e Victor Ramos (ele mais uma vez) deu de cabeça
prensado com o beque e abola cobriu o goleiro. Era o empate. Aí voltou a dar Vitória de novo até o
intervalo. Quatro minutos depois William deu um chute sensacional de longe e o
goleiro Duda fez uma defesa portentosa colocando pra escanteio. E, ainda antes
de terminar o primeiro tempo, Elton foi travado na hora em que ia chutar.
Eu e meu vizinho Carlos Bride demos tratos á bola sobre como o
time viria pro segundo tempo. Não seria melhor colocar Tartá no lugar de Elton?
Afinal, este não estava bem talvez devido ao excesso de marcação, e havia trocado
de lugar com William na área mas as coisas não estavam dando certo.
Mas Carpé continuou confiando no time que entrou com mais volume
de jogo. Aos dois minutos foi a vez de Léo tentar matar a bola na área mas não
acertou e o beque mandou pra escanteio. Aos quatro quem chegou foi o América
batendo de fora da área pra Deola pegar. E aos oito minutos, quando o leão
desceu mais compacto, William deu um passe sensacional pra Willie bater de
primeira, era o nosso segundo gol. Foi a virada no filme e na vida real.
O Mecão chegou duas vezes no minuto seguinte, batendo de fora da
área e cabeceando num cruzamento da direita. E, não demorou muito pra juiz e
zaga dar a maior entregada. O bandeirinha não marcou a saída da bola pela
lateral e o jogador natalense conseguiu o escanteio. E foi na batida deste que
a zaga dormiu, Deola saiu mal, e o zagueiro cabeceou pro fundo das redes. Tudo
igual em Goianinha, aliás como no jogo do turno no Barradão.
Sabem como é né, se fosse antigamente agente estaria feliz, mas
agora o Vitória era o líder e temos que ganhar todas. Ainda faltava mais de
meia hora pra terminar o jogo e tentamos o tempo todo a vitória, mas o pior é
que o Mecão sabia disso e o técnico Roberto Fernandes mandou caprichar nos
contra ataques.
O leão chegou aos 15 (Elton chutou mascado) e aos 16(Victor
Ramos chutou por cima). Depois vieram as substituições: o centro avante Max
entrou no lugar de Isac passando a dar um trabalhão, e Tartá entrou no lugar de
Léo mostrando a ousadia do carpe. Mas as arrancadas do carioca foram poucas e
ainda abriu espaço na lateral onde o América penetrava.
O leão tinha posse quase absoluta da bola mas falhava no último
passe por estar congestionado o espaço da intermediária pro gol do Mecão. O
tempo ia passando e agente pedia a entrada de Marquinhos no lugar do Elton mas
não veio. Os natalenses colocam Soares pra reforçar o ataque e o Vitória o
volante Fernando Bob deslocando Gabriel pra lateral direita onde estava o
buraco.
Faltando quinze minutos pra acabar o América começou a baixar o
pau assim como se resolviam as coisas no filme, e o juiz caseiro fez vistas
grossas pra todas. Teve uma falta desclassificante de Max em Uéliton, seguida
por um empurrão em Victor Ramos, e o cara nem aí! Logo a seguir Tartá foi
parado na marra. O time então corrigiu a defesa saindo Uéliton pra entrada de
Rodrigo. Aos 38 o Mecão fez seu último ataque batendo forte uma falta por cima
do gol. Depois disso só deu Vitória até o final.
Foi uma pena não sair o gol. Acho que atacamos umas seiscentas
vezes naqueles poucos minutos. Aos 40 Gabriel pegou na entrada da área e chutou
forte mas o goleiro Dida defendeu. Aos 43 o juiz não deu a vantagem quando
Tartá estava entrando de cara parando o jogo pra dar falta. Êta cara sacana! Um
minuto depois Elton não consegue parar uma bola num cruzamento e o leão perde
nova chance e no lance seguinte Rodrigo perde o gol de cabeça dentro da área.
Finalmente, aos 46, Pedro Ken bate uma falta na entrada da área
e Dida pega de ponta de dedo e a bola ainda bate na trave antes de ir pela
linha de fundo. Não dava tempo pra mais nada pois o juiz terminou o jogo,
apressadamente, quando o leão cobrava curto o escanteio. Não sei por que o
Criciúma não é prejudicado pela arbitragem. Assim é f... sem PH das farmácias
antigas.
Mas não há de ser nada, Driss continua bem vivinho em sua
amizade com o patrão, e continuamos com três pontos na frente dos catarinenses
e a onze do São Caetano, que está em quinto lugar. E na terça feira acertamos a
vida do Criciúma em casa. Como tem sido há quase dois meses todo mundo vem
jogar atrás dentro do Barradão. Botam dez da intermediária pra trás e tentam
fazer alguma coisa nos contra ataques deixando para o leão toda a iniciativa.
Sabem como é né quem sai pro jogo acaba deixando espaço pros contra ataques.
Mas não há de ser nada, é um jogo de seis pontos e temos que faturar de
qualquer maneira pra pensar em ser campeões. Vamos lá nego.
Franklin Oliveira Jr. é desportista, escritor, professor universitário, e criador do
blog Memórias da Fonte Nova e da WEB TV Pra que política?
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