|por Franklin Oliveira|
Gente, essa semana fui ver A arte da conquista. O filme, que foi
lançado no ano passado, é uma mistura de drama e romance como só os
norte-americanos sabem fazer. O diretor e roteirista é Gavin Wiesen e os heróis
são o Freddie Highmore (George) e Emma Roberts no papel da Sally. A trama é muito interessante a
absorve os espectadores em boa parte do filme. George é um adolescente
solitário que cursa a faculdade em busca do tão sonhado diploma e quando está
prestes a se formar percebe que tudo aquilo é uma ilusão.
O garoto, então, torna-se desatento,
rebelde, passa a ler autores contestadores e perde o interesse por coisas
menores como trabalhos escolares e o próprio canudo. Mas é “salvo” pelo gongo.
Até então nunca havia se apaixonado, mas aí surge Sally pra mudar a sua vida.
A garota, apesar de ter uma beleza
exótica e umas tiradas diferentes, ainda tem os pés no chão do mundo normal e
George desenvolve por ela uma paixão platônica. Os dois passam boa parte do
filme tentando se afastar um do outro mas a mão divina vai ao final
aproximá-los.
O filme então perde o encanto. Atraiu
a minha atenção por aparentar ser contestatório da sociedade conservadora e
consumista norte-americana, no entanto termina mostrando que “depois da
tempestade vem a bonança”, ou seja, depois da rebeldia contra o sistema vem o
enquadramento dos rebeldes. Fica tudo como dantes no
Quartel de Abrantes como dizia o general português.
Saí do Cine Glauber Rocha pensando em
minha própria vida, pra verificar se continuo rebelde e anti -convencional como
era nos tempos da faculdade. Fui pegar o batente na UNIJORGE encucado. Tinha
duas aulas pra dar, nas turmas de Gestão Hospitalar e Negócios Imobiliários.
Confesso que passei bastante ao largo
dos professores que tratam de planejamento estratégico ligado à Administração.
Acabei dando uma aula bem diferente, discutindo a improvisação reinante na
trajetória do nosso país e deixando a pergunta para os alunos se as leis ações
verificadas após os anos trinta não se tratariam de um planejamento restrito ao
Estado brasileiro.
Mais tarde foi a vez de discutir com
outra turma a origem dos conflitos sociais. Tinha que tratar das diversas
versões, mas nesse dia, se falei das ideias de Santo Agostinho, Thomas Hobbes e
JJ Rousseau, confesso que dei mais tempo pro velho Marx.
Saí da faculdade direto pra pegar no
SporTV o jogão do meu Vitória contra o Ceará. Mas mesmo autorizando o
motorista do taxi a correr cheguei a casa quase no meio do primeiro tempo.
E o pior é que já tínhamos tomado um
gol, num pênalti desesperado cometido por Victor Ramos para evitar a entrada de
cara de um atacante do vovô. Soube que o George não tava nem aí, pois achava
que essas coisas não tinham a menor importância. Eu não, torci desesperadamente
pro Mota perder, mas ele nem caçou conversa, foi goleiro prum lado e bola pro
outro.
O Vitória parecia meio desarvorado,
ainda estava se recuperando do gol. Agora era a hora de mostrar rebeldia com a
situação, pois, ao contrário do George, o leão anseia por um título nacional.
Ainda levou certo tempo mas o rubro negro acertou as três linhas, começou a
acertar os passes e trocar melhor a bola no meio do campo.
Conseguiu chegar á frente uma, duas
vezes, sendo barrado no último passe pelo sistema de marcação do futebol que é
pior do que o educacional. Mas na terceira vez, Pedro Ken passou pra Gilson que
enfiou pra Elton na grande área e este correu na linha de fundo e passou pra
William, que estava na cara do goleiro, e este botou no fundo das redes de
Fernando Henrique.
Pronto, podíamos continuar
protestando mas pro primeiro tempo já basta. O Ceará, entretanto, não se
acomodou. É tanto que foi pra cima e quase quase conseguiu desempatar quando
Mota fez de novo das suas ao cabecear em um cruzamento pra área que Deola teve
que pegar em cima da linha.
O empate não interessava a nenhum dos
dois clubes nem ao jovem George. Os cearenses queriam se aproximar do G-4, e o
leão seria ultrapassado pelo Criciúma no terceiro critério de desempate, o
número de gols feitos. Se o rapaz do filme não queria cursar a faculdade pra
nós era importante dobrar o primeiro turno na frente.
Acho que coincidiu o belo segundo
tempo de meu time com a chegada de Sally. Ela iluminou a vida do George assim
como o time deu uma nova luz ao Castelão. Começamos melhores e com iniciativa
do ataque, até que a bola chegou a William que enfiou para o menino Willie, e
este matou no peito e cruzou pra Elton, que havia se deslocado pra pequena
área, tocar pra botar o time na frente do marcador.
Enquanto George estava todo enrolado
pelo menos o Vitória conseguia passar á frente do sistema. Mas...será que íamos
garantir o escore até o fim? Afinal, nem o menino conseguiu manter sua
rebeldia! As minhas dúvidas se reforçaram na saída da bola quando Robert mandou
um foguete pro gol mas Deola fez uma defesa sensacional. Era o tal milagre
divino!
O Ceará atacava mas a bola morria nos
zagueiros do leão, enquanto isso nossos contra ataques eram mortais. Teve um do
Gilson pela esquerda, em outro a bola ficou pererecando entre a dupla sertaneja
Willie e William, até que fizemos um gol antológico. Se fosse com o Bahia a
imprensa tricolor colocaria o time no céu.
A bola veio de pé pra pé, desde o
goleiro Deola, até que foi passada pra Pedro Ken na área que deu de bico entre
o goleiro e um zagueiro pra fazer o terceiro gol. Não havia mais pessimismo de
George que aguentasse afinal a vitória estava desenhada embora faltassem ainda
24 minutos pra acabar o jogo.
O Ceará enlouqueceu, passou a
adiantar os meias e enfiou três atacantes, mas nesse dia Deola era a inspiração
em pessoa. O vovô fez de tudo pra vencê-lo mas não adiantou. O goleiro fez uns
três a quatro milagres.
Houve um que o cara veio entrando
sozinho e ele tirou com o pé, em outro se espichou todo e colocou a bola
acrobaticamente pela linha de fundo. A situação era muito perigosa pois se o
Ceará fizesse mais um iria incendiar o jogo, e ninguém se esquece da virada do
Goiás.
Mas George já estava reconciliado com
Sally e o final do jogo parecia tão evidente como o do filme. Assim o Carpé
colocou mais um zagueiro (Rodrigo) tirando Willie e fizemos uma barreira na
entrada da área pra bola morrer por ali.
O The
End chegou em seguida.
George recebeu seu diploma mas o Vitória ainda não. Mas esse ano, quem entende
de conquista mesmo é o leão. Chegamos ontem á metade do sonho de se tornar campeão
nacional e eu poderia curtir o meu fim de semana. Por alguns dias o chato do
Cri Cri não nos incomodaria. Pegamos o bastão mais uma vez, e que venha o
Barueri na terça feira!
FRANKLIN OLIVEIRA JR. é escritor,
desportista, professor universitário e criador do blog Memórias da Fonte Nova e
da WEB TV Pra que política?
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