|por Franklin Oliveira|
Sábado foi um dia de cão lá em casa.
Acordei às oito da madrugada com a falta de nossa colaboradora Cida que foi
acometida por outra crise. Logo depois quebrou a máquina de lavar. Aí minha
cara metade desabou a chorar. Fico impressionado como as mulheres entram em
pânico por tão pouco! Mas talvez eu seja mesmo, como todo homem,
insensível. O dia começava muito mal, embora eu tivesse esperanças
que terminasse bem. Pra isso coloquei todos os meus talentos caseiros em ação
pra ver se botava a joça pra funcionar, e nada! O jeito foi telefonar pra
assistência da BRASTEMP, mas só fiz confirmar que de nada adianta pedir auxilio
nos fins de semana, ainda mais estando na garantia.
O jeito foi arrumar a cama, varrer a
casa e otras cositas más pra evitar que o caldo entornasse de
vez. Mas minha mulher preferiu me mandar pra bem longe cortar o cabelo.
Confesso que tenho algeriza de cortá-los desde os anos 60 quando agente tinha o
costume de crià-los. E aos sábados é bem pior. É uma desgraça circular por aí
tentando achar um salão vazio. Nos shoppings nem pensar, não dá nem pra entrar
na loja. O jeito, então, é apelar para os barbeiros avulsos. Os do tempo de meu
pai não existem mais e aí o jeito é bater perna. No primeiro que encontrei
a ficha de espera passava dos trinta e a recepcionista ficava tapeando o povo
dizendo que a espera era de “meia hora”. Acabei entrando mesmo foi
num salão da Direita da Piedade onde entrei em uma fila de apenas seis pessoas.
Mesmo assim nesse dia o almoço só foi sair duas horas da tarde. A maré de má
sorte já ultrapassava o meio do dia.
Mas eu esperava que as coisas
mudassem de tarde. Afinal o Vitória havia feito uma partida excelente contra o
Goiás, voltando aos seus grandes dias e disparado na liderança. Tudo bem que
tínhamos um problema na proteção da zaga e Carpé passou a semana toda trocando
farpas com Uéliton pela imprensa sem resolver o problema. Iríamos ver o mau Bob
de novo por ali? Só essa hipótese já me assustava e meu vizinho Carlos Bride
que já tinha interfonado pra ir assistir o jogo na casa dele.
Nesse dia me atacou até uma dor de
barriga quando o time entrou em campo completamente diferente do que foi
anunciado pela imprensa. As “novidades” eram Carlinhos na lateral (valha-me
Deus!), Michel como primeiro volante e Mancha como segundo, e, de quebra,
colocando de primeira o homem - surpresa Dinei, que ainda está longe das
condições ideais. Confesso que gelei, só me lembrava da máquina de lavar
quebrada.
A primeira vez que Carpegiani aportou
nas plagas baianas um segmento da imprensa o chamou de Professor Pardal, por
causa das muitas mexidas que fazia no time do Vitória. Eu nunca concordei com
as críticas embora reconhecesse alguns excessos do treinador. Dessa vez os
jornalistas estão tendo que concordar que ele está mais amadurecido,
conseguiu dar um padrão de jogo à equipe, montou um elenco bem razoável, e
tem alternado titulares com algumas boas peças de reposição.
Mas no sábado Carpé deu uma recaída
feia. Vejam se não tenho razão para a comparação. O Professor Pardal é um
personagem de ficção, criado em 1952 por Carl Banks para Walt Disney. Ele
surgiu como um amigo do Pato Donald e do Tio Patinhas, que eram as estrelas das
revistas de quadrinhos da época. Foi o inventor mais famoso da cidade de
Patópolis. Era um personagem muito estimado pelos brasileiros apesar de causar
muita insatisfação com alguns de seus inventos. Mas tudo isso Pardal tirava de
letra pois o que fazia era sempre com boa intenção.
Tudo isso já deveria bastar para
mostrar a semelhança entre os dois, mas tem mais. Assim como Carpé montou um
trio, com seu filho e Ricardo Silva na borda do campo, Pardal sempre foi
ajudado, seja pelo Lampadinha (um androide com uma lâmpada no lugar da cabeça)
e pelo sobrinho Pascoal, um menino-prodígio que encontrava saída para
todas as situações.
Na ficção o maior rival de Pardal é o
Professor Gavião, mas há também os menos cotados, como os irmãos Metralha e a
Maga Patalojika. E não é que não deu outra coisa lá na Ilha de Florianópolis?
Eu pensei que entendia de futebol mas confesso que não conhecia quase ninguém
do Avaí, um verdadeiro exército de Branca Leone, que estava há nove pontos do
G-4 e tinha acabado de perder seu melhor jogador para o Flamengo. O técnico era
o Argel Fucks (muito prazer!) e ainda tinha Moretto, Mika, Pirão na defesa,
e Jesus em pessoa no ataque, o anúncio de que poderiam acontecer milagres
em campo.
Jogando contra um time que tinha de
ganhar de qualquer maneira bastava ao Vitória ficar mais atrás, marcar os caras
no seu campo, e aproveitar as falhas do adversário pra ganhar o jogo nos contra
ataques. Aliás foi isso que fez o Goiás na semana passada e nos deu um trabalho
danado. Carpé escalou o time errado e nós pagamos por isso. Acho que baixou um
espírito de Pardal nele depois que o Criciúma venceu na véspera e passou a
ficar a dois pontos da gente.
Nesse dia houve de tudo.
Arranjaram-me um juiz genérico, irmão de Paulo Cesar de Oliveira, e bem
diferente do astro da família. O jogo começou igual. Aos 3 minutos Carlinhos
cobrou uma falta pra área que Mancha chutou pra longe. Aliás o time, que dizem
que treina tanto, não acerta um chute de fora da área. Logo a seguir é a vez do
Avaí chegar, também de falta, mas a bola se perde pela linha de fundo.
O Vitória voltaria aos nove, com
Tartá pela esquerda driblando o zagueiro mas cruzando mal nas mãos do goleiro.
Aí o Avaí passa a gostar do jogo. Chegou aos dez minutos na área de forma
perigosa quando o uruguaio Acosta passou como quis por Gilson e cruzou para
Jesus, que só não fez o milagre em virtude de Vitor Ramos prensar a bola pela
linha de fundo. Os caras começaram a botar pressão e a bola não passava do meio
do campo. Foi aí que lançaram mal uma bola na direita que acabou nos pés de
Gilson, mas aconteceram uma série de coincidências trágicas.
Em fracções de segundos o uruguaio
veio rápido e levou a bola, não sem antes dar um com um empurrão que jogou
nosso lateral no chão. Gabriel ficou paradão pensando que o juiz iria atender a
marcação do bandeirinha e o cara veio entrando e bateu pro gol, fazendo Deola
dar rebote e Jesus fazer o primeiro milagre da partida: um a zero pra Maga
Patalojika. Mas o pior é que o “comentarista de arbitragem” da rede
Bahia, tal Rodrigo Cintra, disse que o lance foi “legal”, quando todo mundo viu
o cara derrubar o lateral pra tomar a bola. Durma-se com um barulho desses!
Depois disso era esperar a reação
demonstrada pelo leão nas outras partidas que fez fora de casa, e olhem que
parecia que iria haver repeteco. Aos 16 Carlinhos cobra outra falta da lateral
mas não dá em nada. Dois minutos depois o time desce bem mas Dinei chuta fraco
pro goleiro com nome estranho pegar. Mais um minuto Tartá faz outro cruzamento
que quase Dinei pega, mas o zagueiro que estava afim de um Pirão bota pra
escanteio. A desculpa do dia é o vento e, logo depois, é a vez de Elton, na
grande área, chutar por cima da trave.
Foram cinco bons minutos do leão,
quando forçou o Avaí a marcar em seu próprio campo. Os catarinense só voltaram
num contra ataque, aos 22, quando chutaram da intermediária, e quase
conseguiram o segundo, forçando Deola a mandar pra escanteio. A virada
prometida não chegava. Pedro Ken estava muito marcado e não conseguia jogar em
lado nenhum no campo. Gilson esteve num dia ruim e Tartá, que tinha feito boas
jogadas na esquerda, acabou se perdendo pelo meio. Aos 25 quase PK chega, mas o
goleiro se antecipa. Pouco depois Elton cruza uma bola nas mãos do goleiro.
Tava russo, nem a contusão de Diogo Acosta foi pra valer voltando logo ao
campo.
A melhor chance do primeiro tempo
acabou vindo de um escanteio cobrado por Tartá quando Gabriel deu uma bela
cabeçada pra defesa sensacional do homem da Maga Patalojika. Ainda teve outros
lances como o único bom cruzamento de Gilson que Elton tentou cabecear da marca
do pênalti, mas jogou pra fora. O Vitória tinha mais controle de
bola e iniciativa mas os malucos de Argel Fucks continuavam nos contra ataques.
Gilson dá uma falta perigosa mas o cara bate por cima da trave. Cinco minutos
depois Acosta chega outra vez, mas chuta sem direção. E, aos 45, Tartá perde
uma bola besta e o atacante entra de cara pra Gabriel salvar a pátria.
Tivemos que desligar a TV no
intervalo para não ouvir mais o tal do Cintra dizer que o gol do Avaí foi
“legal”. Deve ser torcedor do Bahia. Esse cara também disse que o gol de mão do
América Mineiro contra o leão foi correto. Naquele dia só mudou de opinião
depois da TV passar mil vezes o lance. Nossa preocupação passava dos
limites. Só no jogo do turno com o Criciúma o leão havia ido pro intervalo
perdendo e isso era um mau presságio. As perguntas não queriam calar. Porque o
Vitória tinha armado um esquema tão ofensivo? Porque insistir com o tal de
Carlinhos que obriga a Pedro Ken a ficar por ali ajudando a lateral? Quem disse
a Tartá que deveria largar a ponta ou a Michel que ele protege a zaga? Porque a
diretoria não chega a um acordo com Uéliton, que é sabidamente o único homem
que temos pra fazer essa função? As coisas só não ficaram pior porque o
Bragantino abriu o placar contra o Atlético Paranaense.
Dinei estava irreconhecível, não ganhava
uma bola. Dividia com Carlinhos pra ver qual era o pior em campo. O que eu
faria era colocar Rodrigo Costa na zaga indo Gabriel para seu lugar e colocar
Marquinhos no lugar de Dinei, mas o que Carpé Pardal fez foi colocar o segundo
no lugar de um volante (Mancha) deixando ainda mais facilidades para o ataque
do Avaí. Não deu em nada sua modificação. Marquinhos até que se esforçou,
fez algumas jogadas, mas nem o próprio Elton estava em dia inspirado.
Logo no primeiro minuto Carlinhos fez
um cruzamento chocho, e, a seguir, a chochura ficou pro chute de Elton de fora
da área. Aos quatro minutos quase morremos de coração quando o atacante do
Avaí entrou impedido de cara com Deola, mas o juiz assinalou, não sem as
reclamações do tal do Cintra da Rede Bahia que torcia para os catarinenses
ampliarem o marcador. Os loucos de Fucks continuaram atacando aproveitando
os buracos no meio e na direita e decidiram a partida aos sete minutos quando o
lateral Julinho passou como quis por Carlinhos e pelo solitário Michel (que só
ficou olhando) e chutou. Bem que Gabriel conseguiu tirar de dentro mas o rebote
sobrou para o próprio Julinho que cabeceou pra Deola aceitar uma bola
defensável: dois a zero pra Maga Patalojika.
Carpé - Pardal ainda levou quatro
minutos pra entender seu erro retirando Carlinhos e colocando Rodrigo Costa
antes que tomássemos uma goleada. Mas aí o time já estava um bagaço,
ninguém jogava necas de pitibiribas. O Atlético empatava com o Braga levando a
casa do meu vizinho a um verdadeiro pandemônio pelo horror de uma virada dos
paranaenses que nos deixasse a apenas oito pontos do quinto lugar. Lá na ilha
Marquinhos chuta de longe sem direção. Mas a falta de direção principal estaca
com Pardal que colocou o manjado Artur Maia em campo no lugar de Tartá. Tudo
bem, até que ele foi pra cima dos adversários, incomodou, mas tudo com a falta
de produtividade de sempre desse delegado que é uma eterna promessa.
O time só conseguiu chegar ao gol aos
20 minutos quando a bola rodou pela área pedindo “me chute” e quem teve que
fazer isso foi o lateral Gilson, mas o goleiro da Maga pegou. As substituições
de Fucks reforçaram a marcação e a bola só chegava de caju em caju. Quatro
minutos depois foi a vez do Avaí chegar mas a zaga tirou. Mais três para Pedro
Ken bater por cima. O time continuava desfalcado na entrada da área onde não
conseguia tomar a bola do adversário, e numa dessas enfiaram a bola prum
atacante que sofreu pênalti de Deola.
Foi a única alegria do meu sábado,
ver Pirão colocar a bola lá no continente. Mas o martírio continuou. Aos 31
Jesus perde da marca do pênalti, e, dois minutos depois outro atacante demorou
pra chutar e por pouco não aumentava o marcador. O time de Pardal só voltou ao
ataque aos 39 minutos, quando Dinei foi derrubado dentro da área pelo zagueiro
e o juiz, pro desprazer do comentarista da Rede Bahia de plantão assinalou o
pênalti. Dessa vez, os próprios colegas do “comentarista” se insurgiram contra
sua opinião mas ele continuou reclamando. Mas de nada adiantou o
pênalti pois Elton bateu mal as pampas e nem foi conferir o rebote do
goleiro. A última coisa que o time fez foi com Michel chutando por cima do gol
aos 48 minutos.
Não sei o que está acontecendo pois o
Vitória voltou a jogar como fez o ano passado, um time meramente caseiro. Não
ganhou uma partida fora nesse segundo turno. Será que só estão contando pra
subir os jogos dentro de casa? A situação exige providências. Serão três
partidas em casa nas quatro próximas rodadas. Temos de ganhar no mínimo nove
pontos pra nos deixar na cara da Primeira Divisão. Mas a preocupação deve ser
também os jogos fora de casa. Se não voltarmos a pontuar bem neles o Criciúma
vai nos passar deixando o leão como eterno vice. Outras medidas fora de campo
devem ser tomadas. Ou recupera Nino e faz um acordo com Uéliton ou se contrata
urgente um lateral e um bom volante para as partidas finais. Perguntar não
ofende, será que fechou mesmo o valor do bicho pelo campeonato?
Franklin Oliveira Jr. é
desportista, escritor, professor universitário e criador do blog Memórias da
Fonte Nova e da WEB TV Pra que política?
0 comentários:
Postar um comentário