|por Giliad de Souza|
Nesses últimos dias temos acompanhado mais um momento da crise mundial do capitalismo, que teve seu início com a crise do subprime estadunidense. Não raro são os comentários e os comentadores que apontam este momento de crise como desdobramento de algum tipo de exogeneidade sistêmica, ou seja, como algo externo à lógica própria do capitalismo. Recentemente, José Luis Oreiro, em seu blog, afirmou que este enorme endividamento e a conseqüente dificuldade de solvência (capacidade de pagamento) da dívida pública dos EUA têm como principal fonte a “insensatez” dos seus executores de política econômica, os policymakers, sobretudo o conflito entre os democratas e republicanos. O mais interessante é que, em função desta conjuntura, ele vislumbra um sério risco de uma cheia socialista, tanto nos países europeus quanto no yankee, “em função do stress social causado pelo desemprego em massa” (sic). Na mesma direção, ele afirma que o nazismo foi resultado de os aliados ocidentais “desperdiçaram inúmeras oportunidades de estancar o [seu] expansionismo”, além das inúmeras concessões feitas a Hitler.
Pois bem, frente a isso, é interessante observar que tanto Keynes quanto os keynesianos sempre tiveram uma grande preocupação em defender o capitalismo, principalmente da própria "insanidade" dos seus defensores. Sobre a interpretação no tocante ao nazismo, é válido destacar que o apoio ao nazismo foi muito forte entre os capitalistas e os políticos da época: viam o nazismo como um importante inimigo ao comunismo soviético. O primeiro ministro britânico da época, Sir Winston Churchill, queria fazer um acordo com Hitler para que ele atacasse e destruísse USSR e isso em nome da famigerada “democracia”. Ou seja, a oposição à democracia que o nazismo representava era o que menos importante importava, contanto que o inimigo em comum fosse devidamente combatido.
O Sr. Oreiro, na mesma via, faz uma convocatória ao Tea Party (o que há de extremista do ponto de vista conservador e de direita nos Estados Unidos) a lançar mão da “insensatez” e de seu comportamento de “criança mimada” e adotar uma postura mais séria, objetivando a salvação do capitalismo. Ora, a luta do Tea Party (e da direita em geral) tem amplo apoio e financiamento do capital financeiro e das grandes corporações. O objetivo deles é o de privatizar o sistema de seguridade social, acabando assim com o capitalismo regulado que surgiu durante a Grande Depressão dos anos 30. Como existe uma falta de oportunidades de investimento, vide as baixas taxas de juros aplicados nas maiores economias do mundo, essa privatização abriria amplas possibilidades tanto de investimentos quanto de lucros. Por mais que essa atitude viesse a agudizar a luta de classe, a qual não tem por "escrito" qual o resultado final dessa luta, a classe capitalista em geral compreende como uma possibilidade concreta de recuperação da taxa de lucro e de investimento.
Os inimigos do povo, dos explorados, dos trabalhadores, podem vencer novamente. O que é fato é que o capitalismo "bem comportado" que os keynesianos gostam e querem manter foi uma excepcionalidade (e não uma regra). A regra do capital é a barbárie, é a produção sem um objetivo coerente (distribuição equânime dos frutos da produção), é a acumulação do capital que tem como condição necessária a destruição, sobretudo desse próprio capital, isto é, crise. A crise do capitalismo é muito grave, as políticas keynesianos não funcionam a muito tempo (basta ver o caso do Japão, por exemplo, que desde os anos 80 que estão estagnados) e as necessidades de rentabilização levam os atores defender a expansão das esferas de investimento, não interessando se estas esferas apontem, desde a sua gênese, para uma crise desmedida. A lógica do sistema força/impõe essas ações. A insensatez não está na política, mas no sistema, na lógica do capital, ou seja, a "marcha da insensatez" está no capitalismo e não na política dos defensores do capitalismo real.
Giliad Bota Fé no Leão, pois é torcedor de Coração por um time de sua Região.
1 comentários:
Muito bom seu texto Gil!
Acho que voltar as origens é sempre bom, e quando se fala em crise não é diferente! Uma crise, ao mesmo tempo que tem suas especificidades em cada momento histórico, também se mostra como um fenômeno inerente à dinâmica do sistema capitalista...sobre isso já falava Marx, Hilferding, Hobson, Lênin,... e Keynes também!
Acho muito complicado essa utilização de nomes dos autores para se referir a períodos históricos ou determinadas políticas...Sempre se acaba divergindo do sentido proposto pelo autor. E isso acontece bastante no ambito do "keynesianismo"!
Abs
Wagner
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