|por Camillo Alvarenga|
Em idos dos anos 80 na efervescente Feira de Santana, surge a reunião de poemas de três autores, Adevaldo Rodrigues, Benedito Dilson e entre eles a figura de Washington Moura, que viria então num breve futuro, fazer parte da administração central da Universidade Estadual de Feira de Santana além de professor da instituição.
CRENÇA I
CRENÇA I
“O meu Deus
Sorri.
Num instante
franze a testa
me repreende.
Depois
solta os lábios
E ri.”
Recuperamos para a história recente, este poema contido numa publicação datada de 1984, na qual nosso caro “Doctor” Washington Moura aparece demonstrando seu tão caro adjetivo artístico, o poeta.
Entre tantas funções deste “homo academicus” bem sucedido na vida universitária onde destacaremos sua passagem pelo terreno da militância política e sua posterior ascensão ao poder instituído na vice-reitoria da administração central da Universidade Estadual de Feira de Santana.
E nesse sentido, do território histórico que é esta coletânea, (Visões Inquietas, Feira de Santana, 1984) construída na época com apoio do D.C.E.( Diretório Central dos Estudantes da UEFS) e da ADUFS(Associação dos Docentes da Universidade de Feira de Santana) pinçamos além deste primeiro poemeto, uma bela passagem da literatura feirense de então; no poema CRENÇA II escrito na página 50 temos o seguinte fragmento:
“Não foge aos abismos
Se embriaga de revolta
Cospe servidão
Traga toda ânsia humana
Deflora as mentes impenetráveis
Vasculha as guerras
Combate todas elas
Viola as cordas que amarram os subjugados
Pisa a dependência enrustida
Depedra o gigantismo incontrolável
Aterroriza a destruição descabida
Volta às guerras
Engole todas as bombas
Emporcalha a supremacia.
Deus existe, mas está espremido entre duas paredes
E grita contra injustiças
Encharca e queima os mulambos
Picha a cara do desajuste
Resiste ao fracasso
E possibilita vida”
Depois da leitura destes versos, temos a dimensão de um “Doctor” engajado nas causas humanistas possuidor de um lirismo militante que prepara o leitor para imersão na literatura universitária dos anos 80.
A poesia transcende a burocracia, não estamos falando aqui de vocação ou algum caso de artista, mas sim de um intelectual consciente das ferramentas que tem a disposição enquanto recurso de alcance de suas bases.
Como uma espécie de atuação crítica expressa nas letras, ou seja, a mostra do que nos lega a produção cultural dos intelectuais, que fazem a realidade institucional da academia, perpassa um dos ofícios mais fantásticos que é a poesia.
E nos versos da página 51 temos em “PENAS” temos a síntese sertaneja.
“Gavioes não mais sobrevoam o Gavião
Malvadeza não há, nem havia
Urubus é o que se vê
Flores já não acham água no Jacuípe
Havia
Se existissem estariam murchas
E a bom-ba não as alcançou
Alcançará?
Costelas de animais estão expostas ao sol
Uma obra de arte
Como montagem criativa criançal.
Século XXI te saudará
Teus filhos do desafio
Não desafinarão
O sol existe, e sempre existirá
Imponente, vermelho de tanto amarelar.
Nós gelamos
Como na Antártida
Estamos longe
Mas o alcançaremos
Quando vir até nós
E aqui no Gavião
A rachadura está para terra
Como o xique-xique está para o rochedo.”
Dessa forma a cor do universo feirense ganha mais luz e a Transa lança mais um farol sobre a cultura local. Nos preparamos agora para gravar uma entrevista com Washington Moura para a sessão Charlação numa parceria com TV Olhos D’Água para produzirmos um material áudio visual... E a Transa Revista, em fase de expansão de suas atividades se prepara para realizar trabalhos que transcendam o periodismo que se apresenta na imprensa atual.
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