|por Carlos Cesar Buono*|
Mais uma vez os Campeonatos Estaduais terminam de forma bem previsível. Com os grandes entre os finalistas. Em São Paulo, pra variar, os 4 grandes farão as semifinais do próximo final de semana (promessa de grandes partidas). No Rio, surgiu um Olaria entre os semifinalistas, desbancando o grande Botafogo, com os outros 3 grandes. Obviamente que o Olaria perdeu e a final é um Vasco e Flamengo. No Sul, provavelmente teremos um Gre-Nal. No Paraná, o Atle-Tiba definiu o campeonato. Em Minas, tudo caminha para mais um Cruzeiro e Atlético. Os outros Estados me perdoem, nenhum preconceito, mas ficaria maçante falar de todos.
Os Estaduais como todos sabem, há anos, estão cada vez mais desinteressantes. Os times menores quase não revelam ninguém; pior, parecem times de futebol master. Os grandes nunca priorizam a competição, utilizando apenas como uma pré-temporada estendida, tentando montar o time pro Brasileirão.
Acontecendo junto com os Estaduais temos a Copa do Brasil e a Libertadores da América. E o calendário fica lotado, com jogos encavalados, sem descanso pros atletas. E quem ganha com isso? A televisão (entendam GLOBO), é claro.
Na Europa, os times que disputam mais partidas numa temporada jogam em torno de 60 partidas (entre campeonato nacional, copa nacional e copa européia) numa temporada. No Brasil, soomando só o Estadual com o Nacional já atingimos essa mesma marca. Lembrando que ainda tem a Copa do Brasil, a Libertadores e a Sulamericana.
Esse ano é o último em que o Clube dos 13 mediou a venda dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro(graças a Deus!). Mas perdeu pra Globo(meu Deus!) que negociou individualmente com os clubes e fechou com quase todos. Parece que o único solitário corajoso(e desapegado da grana das transmissões) é o Atlético Mineiro, que disse que não fechará com a Globo(meu Deus!).
O contrato dos clubes com a Globo prevê que ela e somente ela poderá alterar o calendário dos jogos, sem consulta aos clubes. MEU DEUS! Isso quer dizer que a Globo, agora, é a dona do Futebol Brasileiro. Só ela passa os jogos da Seleção e da Libertadores, agora manda e desmanda no Campeonato Brasileiro, coisa que já fazia com os Estaduais. Só a Copa do Brasil que fica de fora dos mandos do Plin-Plin. Só falta o Galvão Bueno assumir a presidência da CBF pra ficar tudo mais simples.
Essa salada mista de competições que fiz, comparações com a Europa e direitos de transmissão serve para mostrar exclusivamente uma coisa óbvia a muito tempo e que me deixa muito triste: cada vez mais os interesses financeiros mandam na nossa paixão nacional(não a cerveja, o futebol!).
O futebol, no Brasil, é cultural. Quando alguém nasce, alguém vai(provavelmente o pai) e compra o uniforme do time que quer que @ filh@ torça. Com menos de um ano essa criança já ganhou uma bola. E fazem você chutá-la - "Não, não pode por a mão", alguém sempre grita. Depois na Escola, no intervalo(ou na entrada, ou na saída, ou quando mata aula) a molecada sempre corre atrás de uma bola, uma lata amassada ou uma caixinha de Toddynho. Somos criados pra amar o futebol, ver futebol, jogar futebol, falar de futebol, em suma, viver futebol. E a Globo caminha a passos largos para ser a dona do futebol. Os Clubes e a CBF parecem gostar disso.
Alguns jornalistas criticam, reclamam, denunciam. Fazem o que podem. Alguns deputados criticam, reclamam, denunciam. Parte da população reclama(tomando sua cerveja assistindo ao jogo na Globo). O Atlético Mineiro critica, reclama, denuncia. Tá na hora de juntar esforços e ir pra cima da Globo e da CBF. Ah, e também do Ministério dos Esportes, que nada fala sobre isso.
Quando conseguirmos fazer o futebol deixar de ser tratado como mercadoria e fazê-lo ser compreendido como cultura e tirarmos das garras da Globo e da CBF o controle de todo o nosso futebol, aí sim voltaremos a viver o futebol. Um futebol com menos e melhores jogos na temporada, um futebol mais moleque, insinuante e leve, preocupado com o jogar bem e bonito(por mais que perca), não com o jogo feio, retrancado e de resultados.
Salvemos o futebol. Fora aos Ricardos Teixeiras e aos Galvões Buenos, as CBFs e Globos que mandam e desmandam em tudo, que transformam tudo em mercadoria e tiram a graça e tesão da gente.
* Estou jovem, sou socialista. sou santista (de time e de cidade), moro em São Paulo e quero mudar o mundo e luto pra isso.
2 comentários:
Otima análise Carlos César,
Gostaria de complementar com uma pequena consideração. Tem me incomodado muito a campanha feita pela Globo acerca do nome de Neymar, iniciada desde a última Copa do Mundo.
Tudo bem, eu sei. Ele joga muito, tem visão de jogo, além de saber chutar com a direita e esquerda, etc. Um excelente jogador. Mas isso não justifica a malhação em cima de Dunga durante a Copa por não o ter convocado; a queda do técnico do Santos ano passado após conflitos sobre o comportamento do garoto; e a exibição da imagem dele como a promessa do novo Pelé, Ronaldo, e tantos outros que “saíram de baixo”e chegaram na mais alta escala do futebol mundial.
Isso só alimenta o sonho de milhares de meninos, que tem um lindo futebol e grande potencial, mas que nunca terão oportunidade nos “grandes times” para demonstrá-lo, pois o mercado é restrito.
Muitos desses não estudam em prol de uma carreira, ou de ficar rico, que nunca deslanchará.
É um simples desabafo de alguém que adora e se decepciona com o futebol brasileiro. Ao mesmo tempo.
(parece até nome de comentarista esportivo mesmo).
Muito bacana... Mas tenho uma crítica e um reflexão.
A crítica é que comparar com a Europa é trocar 6 por meia dúzia...
A reflexão é que os estaduais talvez possam ser apenas uma pré-temporada, mesmo, mas em que isso é ruim? Para diversos times pequenos é a ÚNICA oportunidade de se jogar, aliás há uma diferença territorial imensa entre os países europeus e o Brasil o que se desdobra em um país em que o número de times é imensamente maior do que lá. Quando falamos de times grande e médios (e médios para grande, como meu SPORT!! heheheheehehehe), podemos até falar sobre a rentabilidade dos estaduais, mas para um time como Bahia de Feira de Santana, que desbancou o Bahia da capital como segunda força no futebol baiano esse ano, não haveriam oportunidade para times como esse... Enfim...
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