|por Franklin Oliveira|
Ontem, quando acabou meu sofrimento,
digo o jogo Vitória X Joinville, fui assisti um filme que diz bem o drama que
passei nesta semana. É o E
agora, onde vamos? da diretora, roteirista e atriz Nadine Labaki. A
película foi indicada pelo Líbano como melhor produção estrangeira, e é
anunciada como “drama” embora não se saiba se é um drama ou uma comédia,
inclui, inclusive, coreografias e musicas.
A autora imaginou um vilarejo
parecido com a ilha de Icária, eternizada por Thomas Morus em sua Utopia. Ali, um grupo de
mulheres, consegue manter a todo custo os cristãos e islâmicos de uma
comunidade do Líbano, cujo único elo de ligação com o mundo exterior é uma
ponte, afastados da guerra
que afeta todo o seu redor. Não consegue, porém, mostrar qualquer diferença de
classe na vila, e até do ponto de vista religioso, igreja e mesquita dividem a
mesma casa. Passa para o espectador que a população vivia em paz até que descobre
a TV e esta faz chegar a eles a informação de que cristãos e muçulmanos estão
em guerra.
Terminantemente pacifista imagina uma
solução tipo tirar o sofá da sala pra todos continuarem felizes. Assim, as
lideranças femininas sabotam a TV, contratam prostitutas, inventam tudo ao seu
alcance pra deixar os homens ocupados, reproduzindo assim o machismo destas
sociedades onde cabe a eles iniciar e terminar os conflitos. O filme chega ao
cúmulo de admitir que uma das mães esconda o assassinato do filho adolescente
pra não haver retaliação.
Digo que é uma metáfora ao sofrimento
dos torcedores do Vitória nessa semana por alguns motivos. É que as mulheres do
filme são os torcedores que passaram todo o ano fazendo das tripas coração para
o leão subir enquanto a guerra teimava em se instalar no elenco. Os cristãos no
filme da vida real, são os do São Caetano, e os muçulmanos são os torcedores do
leão, que deviam usar o véu pela vergonha de continuar não possuindo um título
nacional.
Na verdade a briga do leão deixou há
muito tempo de ser pelo título. Não é a toa, pois a diretoria do rubro negro
não é desses arroubos, foi incapaz de criar até uma cultura de campeão
nacional, vivendo eternamente com a baixa estima de disputar “pra não cair” ou
só “pra subir”. O lugar é o que menos interessa.
Assim, o que a grande torcida do
Vitória, que assumiu na semana a condição do 1º clube do Nordeste em matéria de
pontuação, que tinha colocado 11 pontos na frente do 5º lugar, cinco pontos á
frente do Criciúma, e visto o Goiás lutar contra a faixa de rebaixamento, teve
que se consolar neste sábado em lutar pra subir. Voltamos ao mesmo sufoco do
ano passado tendo que torcer pro Goiás vencer o São Caetano, para o CRB ganhar
do Guarany, e, claro, pra gente garantir o óbvio, derrotar o desmotivado
Joinville, que luta pra se classificar na Copa Santa Catarina pra pegar uma
vaguinha na Copa do Brasil do ano que vem. Só assim que saberíamos para onde
vamos, a Primeira Divisão.
Imaginem que, de tão preocupado,
cheguei a ir ao enterro de Alex Alves no cemitério Jardim da saudade. É que ele ajudou o Vitória a subir em
1992, ainda com 17 anos, e (quem sabe?) poderia estimular o leão fazendo o
mesmo vinte anos depois. Declarei isso até a Rede Bahia lá mas, como todo mundo
sabe, só fala ali as pessoas que a emissora quer.
Na sexta á noite nem consegui dormir
direito e passei a manhã de sábado ouvindo músicas de fossa. Almocei com a
cabeça na partida e depois fiquei contando os minutos pra chamar o meu vizinho
pra assistir o jogo. Não tinha nem muita gente em Joinville, também não
esperavam mais nada! Quanto a nossa torcida levou umas oitenta pessoas pra
passar frio em Santa Catarina.
O leão entrou em campo com a faixa
negra “Alex Alves: um nome na história” e os dois times fizeram uma homenagem
no círculo central ao nosso grande jogador. Graças a Deus Uéliton foi uma baixa
semelhante ao menino da guerra do filme, foi pros quintos dos infernos e ainda
se escondeu isso. Tomara que vá pro Íbis. Mas eu promoveria uma modificação no
time que entrou colocando Rodrigo Mancha de primeira, mas PC Gusmão preferiu
colocar os dois atacantes que não estão em plena forma, William e Elton.
O leão começou com vontade subindo
pela direita mas passaram mal a bola. Voltou a subir, desta vez pela esquerda
com Gilson, e ganhou um escanteio. Mas, na cobrança acabou sobrando cartão
amarelo para William e o zagueiro do Joinville Diego Jussani. No retorno
da bola em jogo é a vez do Joinville subir mas Lima não consegue dominar, a
mesma coisa acontece com Elton logo a seguir.
Ataque mesmo que é bom só ocorre aos
4 minutos, com Elton passando pra William que chuta fraco. Logo depois é a vez
do Joinville que chega bem mas Deola defende. Na jogada, porém Michel se
contunde e obriga a PC colocar Rodrigo Mancha. Tá vendo, antes ele entrasse de
primeira! A perda do cabeça de zaga logo aos sete minutos desconcentra o time
que leva uns bons minutos desorientado, além disso havia as subidas do lateral
Gilson que não eram cobertas deixando a defesa aberta pelo lado esquerdo.
Levaria algum tempo pro leão voltar a
ter a iniciativa da partida. Enquanto isso William faz boa jogada e dá pra Nino
perder a bola. A torcida, porém, pega no pé do atacante que já jogou no rival
Avaí. Nino desce bem e centra a bola mas o juiz marca falta de Elton no zagueiro.
Logo a seguir ocorrem dois escanteios seguidos para o Joinville e, a seguir,
passam a bola nas costas de Gilson e o cara vai entrando, vai entrando, e cruza
pra Lima quase fazer um golaço de calcanhar. Acho que foi o fantasma de Alex
Alves que soprou pra bola não entrar!
Mas logo depois é a vez do leão,
quando Nino faz grande jogada e cruza pra Gilson também perder gol certo
chutando no lado de fora da trave. Estava lá e cá, e o Joinville sobre
perigosamente mas Lima não consegue dominar a bola dentro da área. Estava lá e
cá, e a zaga rubro negra enfia uma bola pra William mas o goleiro do Joinville
consegue se antecipar e até dribla o atacante pra delírio da torcida
catarinense. Não perdem por esperar!
Só aos 20 é que a equipe do SporTV
coloca o tempo na telinha, exatamente quando a zaga do leão se confunde e a
bola termina indo pra escanteio. Ufa! Mas pelo menos até aí não sofremos gol o
que era um costume no primeiro tempo dos últimos jogos. E, cinco minutos
depois, tivemos a alegria de ver substituído Lima, o melhor atacante do
Joinville, acho que poupado para o jogo decisivo local de quarta feira.
O Vitória parece recuperado da saída
de Michel e, aos 28 minutos, alegria tomou conta do nosso pequeno apartamento
do Tororó. É que Gilson enfiou um bom lançamento pra William que entrou pela
esquerda e chutou na saída do goleiro, a bola saiu fraca e quase não entra,
dois zagueiros vieram em sua cola, mas o fantasma de Alex Alves foi mais rápido
e soprou a pelota para o fundo das redes: um a zero. Pronto, bastava isso e,
com o empate do São Caetano, agente subiria. Na comemoração a justa homenagem
quando William faz os mesmos gestos de capoeira que notabilizaram o atacante
falecido. Já sabemos aonde vamos. Três minutos depois , porém, o Joinville perde
gol feito quando Gabriel salva.
O jogo passa a apresentar a
iniciativa dos catarinenses que tem, inclusive, três escanteios seguidos, e
chutam de longe pra Deola colocar pra escanteio. Mas Willie perde boa chance aos 41
minutos, é que recebeu um lançamento precioso e, se aguardasse no próprio
campo, não estaria em impedimento e entraria livre pra marcar o segundo gol.
Nossos contra ataques são bons mas não estamos acertando o último passe. O
Joinville bate falta de longe mas Victor Ramos bota pra corner. E foi só no
primeiro tempo.
Ainda deu pra assistir um pouquinho
de São Caetano X Goiás que estavam no zero, nada acontece também no jogo entre
Criciúma X Atlético Paranaense, mas a desgraça do Guarany tinha feito um gol em
Maceió o que levaria ao último jogo do São Caetano a ser uma marmelada
paulista. Mas as coisas estavam pelo menos bem lá em Joinville.
O Joinville dá a saída mas logo o
rubro negro retoma os contra ataques e William chuta fraco pela linha de fundo.
Aos cinco Pedro Ken lança William em profundidade mas este não domina a bola.
Logo depois é a vez do Joinville ir ao ataque mas não consegue dar o chute
final pela boa colocação da defesa do leão que parece estar bem. Aliás o ponto
alto do jogo foi a atuação de Rodrigo Mancha e, quem diria, Fernando Bob!
O rubro negro troca bola no ataque
aos oito mas William chuta fraco nas mãos do goleiro. O Joinville tenta opções
no ataque e tira Jailton pra colocar o ex-jogador do Vitória Aldair. Aos onze
Fernando Bob dá um chutaço de longe e quase faz o gol! Mas dois minutos depois
Mancha toma cartão amarelo, e, de quebra, Gabriel fura e graças a Deus o
bandeira dá impedimento do atacante do Joinville que vinha entrando sozinho.
Ufa!
Aos 18 PC dá o ar de sua graça
tirando William pra entrar o delegado Tartá. Mas pelo menos consegue prender a
bola pelo meio. Os catarinenses começam a encaixar ataques mas a defesa está
bem colocada e se antecipa bem nos cruzamentos que geralmente são um horror no
Vitória! Deola ganha tempo.
Na metade do segundo tempo Nino quase
surpreende o goleiro num lance sensacional, batendo de primeira quando esse
estava fora do gol, mas a zaga tira. A seguir Willie não aproveita outro bom
lançamento, mas o Joinville também não o faz. Aos 26 Gilson perde a bola
bestamente e dá falta no atacante tomando cartão amarelo e ficando de fora do
jogo final contra o Ceará, isso se precisarmos de uma final.
A zaga do Joinville faz ótimo
lançamento mas Deola salva sensacionalmente. Aos 28 minutos dois gols seguidos
perdidos pelos catarinenses, o primeiro quando o atacante chutou na trave de
fora da área, e o segundo, quando outro cara perdeu quase da pequena área e a
bola que ia pro gol bateu em Gilson por milagre. No contra ataque o enrolado
Tartá também perde gol feito chutando em cima do goleiro.
Elton é outro que toma cartão amarelo
e fica de fora na última partida. Nino faz jogada sensacional driblando vários
defensores mas chuta por cima do gol, e o nosso centro avante pega a bola na
cara do goleiro e o cobre mas a bola fica zanzando na pequena área até que
aparece um zagueiro pra tirar.
Nicácio entra no lugar de Willie
quando PC pretere o favorito Marquinhos. O atacante homônimo do Joinville toma
cartão amarelo. E...o Goiás empata pra delirio lá de casa. Eu e meu vizinho, o
Carlos Bride, comemoramos até mais não poder, enquanto o narrador do Sport TV
completamente desinteressado do que o resultado significava na Bahia, dizia com
voz fria “o Goiás empatou”!
Agora faltavam só oito minutos e eu
não podia mais sentar. Nicácio pega a bola no ataque e dá pra Tartá que sozinho
na frente do goleiro consegue perder o gol. Depois é a vez de Pedro Ken, que
poderia decidir o jogo, que vai entrando e tomando falta de todo mundo, até que
aparece na área chutando para o goleiro colocar a bola, com as pontas dos
dedos, pela linha de fundo.
Mas em um minuto nossa classificação
foi pra cucuia. Primeiro, foi o pênalti para o São Caetano, que o goleiro
Harley do Goiás pegou sensacionalmente, e, enquanto comemorávamos, o atacante
pegou uma bola e enfiou pro Leandro Carvalho(conhecem?)entrar na área, contar
com o escorregão de Gabriel (sempre ele!)e o atraso de Victor Ramos na bola, e
botar a bola no fundo das redes decretando o empate e o adiamento(espero!)da
classificação do leão. Alex Alves dessa vez não pode fazer nada!
A frustração total se apoderou lá de
casa. E agora aonde vamos? E olhem que o Vitória ainda chegou umas três vezes
no ataque, com Elton, com Nicácio, que perdeu de cara com o goleiro, e com
Nino, mas não acreditávamos mais no poder do leão que tinha deixado escapar a
apenas dois minutos do final a sua subida.
Mudamos pro jogo do São Caetano e
ainda deu pra acompanhar uns dois minutos quando sacramentamos com o 1 X 1 pelo
menos a condição de jogar pelo empate na última partida pra subir. E ainda fomos bafejados pela virada do
CRB contra o Guarani. Não é possível que percamos a subida desta vez.
Olhem só, basta empatar contra o
Ceará, que vem de três derrotas seguidas e dispensou vários jogadores,
apresentando modificações importantes em sua defesa e no meio de campo, tendo
ainda a prerrogativa de contar com o jogo desesperado do Guarani que não pode
perder pro São Caetano senão cairá para a 3ª Divisão, e(quem sabe?)até com um
desastre no clássico de Curitiba entre Paraná X Atlético Paranaense. Se depois
de tudo isso conseguirmos perder a classificação será o fim dos fins da picada!
Aí teremos sobejas razões de perguntar: é agora, aonde vamos?
Franklin Oliveira Jr. é desportista, escritor, professor universitário, e criador do
blog Memórias da Fonte Nova e da WEB TV Pra que política?
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