|Por Gimerson Roque, dum status virtual, mas com perfil bem real|
Realmente não somos racistas! Não é com muita surpresa que recebo a noticia da eliminação do participante Daniel do BBB 12, após ter notado o tamanho da polêmica levantada por uma suposta cena, na qual o mesmo estaria sendo acusado de estuprar a Brother Monique, colega participante do programa. Cena essa ocorrida na madrugada do sábado para o domingo no amanhecer da primeira festa da edição em andamento. Logo o Daniel que no primeiro dia do programa interrogado pelo apresentador Pedro Bial sobre o sistema de ações afirmativas, a famigerada cotas, durante sua resposta soltou a tão conhecida e generalizante frase: “ debaixo da pele somos todos iguais, temos todos o sangue vermelho”.
Disso nós até sabemos como sabemos também da prática “não racista” da Rede Globo, a qual diariamente é demonstrada não só nas 12 edições do BBB, mas em toda sua grade de programação com a exibição de corpos belíssimos e “eurocêntricos”, basta lembrarmos as “gostosonas” e bonitões de outras edições, além da presença maciça nas telenovelas. Ou alguém ai se lembra de algum protagonista de novela negr@? A Preta de “Sete Pecados”, alguém deve ter gritado ai, e qual o outro mesmo? E galã de novela negro? Quem? O Lazaro Ramos e o outro mesmo? E de protagonistas brancos alguém lembra? E de galãs? Aposto que vieram vários nomes e sobrenomes em nossa mente. Com isso, não estou querendo defender uma atitude que se ocorrida deve ser averiguada conforme manda a Lei e julgada, ainda segundo a mesma, portanto, não seremos nós que a julgaremos.
Mas sim de “colocar o dedo na ferida” e dizer que embora o Ali Kamel (diretor executivo da emissora e nas horas vagas escritor) nos diga em seu paupérrimo livro “Não somos Racistas” e que o próprio Daniel considere que somos todos iguais debaixo da pele, não é bem assim que a banda toca no país tupiniquim. Na verdade somos racistas sim e temos vergonha de nos assumirmos como tal. Alguém já se perguntou que estando os dois em um reality show, no qual é permitido o consumo de droga (sim meus caros álcool é droga e mata) e que ambos estavam supostamente alcoolizados a culpa pelo acontecido pode ser tanto do Daniel, quanto da Monique? E por que só o Daniel foi eliminado do programa? Já sei deve ser porque ele é homem e deu uma de “miseravão”. Ou será simplesmente por ser negro! Ainda sobre a generalizante frase dita pelo Daniel.
A emissora o mostrou que nem todos são iguais, mesmo que tenhamos sangue vermelho, até porque não somos julgados pelo que há debaixo dela e sim o que há sob ela. E nesse caso a emissora “G” dá show de bola, pois da mesma forma que o ex-participante adentrou a casa foi colocado pra fora, ou seja, em seu devido lugar pelas portas dos fundos, local de saída reservado aos negros desde á época da Casa Grande e Da Senzala. E lembremos ainda falando novamente no Ali Kamel, e o que parece ser um pensamento comum dentro do Projac sobre as ações afirmativas: “Os negros brasileiros não precisam de favor. Precisam apenas de ter acesso a um ensino básico de qualidade, que lhes permita disputar de igual para igual com gente de toda cor”. (2006, p. 95). Portanto, meus car@s pensem em tudo isso, pois enquanto vejo bombardeios nas redes sociais com enunciados dizendo coisas do tipo: “BBbosta”, “deve acabar”, dentre outras, tudo isso para denotar não assistir o programa, e enquanto isso a Rede Globo está ai nos mostrando a realidade da nossa Sociedade Racista, ou será que a televisão não reflete sobre a Sociedade?!
Embora concorde que o programa é de péssimo gosto, mas fazer o que se o preconceito não tira férias, nem folga e está até mesmo nesses programas!! E volto a afirmar que se comprovado o fato deve sim o ex-participante sofrer as punições cabíveis, mas será que a atitude do BBB 12 em não ouvir o lado do Daniel e execrá-lo da forma que foi está errada! Se estupro é crime, racismo é o quê? Ou serei eu sempre o complexado vendo racismo em tudo?!
Gimerson Roque é estudante de Sociologia na UFRB
2 comentários:
Ou serei eu a feminista vendo machismo em tudo?
Caro Gimerson,os fatos narrados e interpretados por você também chegaram a mim durante esta semana, não pela edição global, pois como negra assalariada me dou ao luxo de dispensar a aula de
preconceitos e exclusão dada pela emissora G nas edições diárias do seu menino dos olhos o BBB.E de toda a informação que me chegou, me sinto na OBRIGAÇÂO de chamar atenção para dois aspectos que parecem ter sido ignorados por esta sua análise:A primeira delas (que já guardo comigo a alguns anos) é: se Racismo existe( e eu como mulher negra sei bem disso)machismo também existe. E a segunda informação é: Me foi relatado que a edição que revelou o "não comprovado" abuso tratou o caso com a naturalidade de mais uma tórrida paixão revelada pelo confinamento, soube até que a tal edição teve seu grã finale coroado com o chavão: o amor é lindo, e que só após as muitas denuncias de telespectadores do payperview sobre a inconsciência dá até então amante, o caso foi tratado como violência. Com isso eu quero dizer que a globo é machista e não racista?
Não, com isso eu quero dizer que a globo como fiel representante do modo de vida dominante é racista, machista, elitista..mas nós, da margem, da periferia, do gueto não podemos deixar que a defesa de uma bandeira, a nossa vontade militante de flameja-la o mais auto e mais longe quanto se possa, derrube todos os outros mastros legitimamente levantados:Culpar uma mulher visivelmente desacordada de uma abuso que ela tenha sofrido é tão inadmissível quanto a discriminação de um negro por sua cor.
Esse diretor do BBB fez uma jogada que deveria ser muito previsível para nós militantes. Tratar uma situação ocorrida por conta do machismo em nossa sociedade dizendo que é o racismo vindo a tona, essa foi a primeira defesa do Boninho quando questionado a respeito do assunto, que o Daniel estava sendo vítima de racismo. Engraçado que ninguém citava a palavra negro até então. Claramente tira o dele da reta colocando dois grupos desfavorecidos atualmente nessa nossa sociedade racista-machista-homofóbica para brigarem entre si.
Então tal debate acaba virando guerras entre torcidas, o pior é ver que movimentos sérios como o negro e feminista virarem tais torcidas por conta de um BBB.
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