Haverá um fim para o universo?

|por Alexandre Amadeu*|
Na antiface desse questionamento, pressupomos que ele teve um inicio e, portanto, a questão se estende a infinita dúvida humana, o que existia antes do inicio e o que irá existir depois do fim? Essas são questões que remontam a antiguidade do pensamento cosmológico humano. Todavia, mergulhando com cautela no mar tempestuoso da filosofia, a questão que desejo levantar é sobre a relação Ser Humano / Meio Ambiente no cenário atual.

As mais conservadoras análises científicas apontam um futuro tecido e pintado por catástrofes naturais e condições cada vez mais inóspitas para a sobrevivência da espécie humana. No entanto, o que por vezes foge ao foco dessas análises e das várias ações desenoveladas a partir de sua divulgação - tanto no âmbito individual como coletivo local, como global - é a contradição de se falar em soluções para as questões ambientais sob o ponto de vista do desenvolvimento sustentável das sociedades humanas dentro de um arcabouço, prático-metodológico, que desencadeou a mesma forma insustentável de relação Ser Humano / Meio Ambiente que os diferentes estados baseados na economia capitalista, sobretudo os ditos países desenvolvidos e suas colônias mercantis-ideológicas, praticam na atualidade...


A coruja grita repentinamente! - Se a espécie humana surgiu em um dado momento, ela certamente terá um fim! Assim sendo, e retornando harmonicamente a indagação filosófica do universo, o que existia antes e o que continuará existindo depois que a espécie humana passar? - O som e todas as outras criações de Pachamama, que com sua infinita criatividade, e elaborada técnica de improviso continuará seu perpetuum mobile pelo espaço... Eis que a ferida exposta sangra a ideologia neoliberal do mercado globalizado! A ação antrópica nos diversos ecossistemas da biosfera tem começo, tem meio e, possivelmente, caso os atuais índices de impacto ambiental das atividades humanas se mantenham, terá um fim previsível.

Nesse ponto, movimentos ambientais (ONGS, OCIPES, etc...), capitaneados pela classe média urbano-industrial, e as tentativas de diálogo internacional, ditadas pelas multinacionais dos diferentes setores agro-industriais, fogem, estrategicamente, do ponto-chave da questão na elaboração de propostas de políticas publicas de âmbito local e internacional. A base motora atual do sistema capitalista é o crescimento linear e ascendente do consumo. Sociedade de consumo, essa é exatamente a dimensão que não é posta em questão quando pensamos em mitigação do uso dos recursos naturais. E, portanto, podem ser chamadas de conservadoras, todas essas ações mitigatórias que não levam em conta esse complexo padrão cultural das sociedades europeizadas... O vôo sem asa, mesmo que esculpida de nuvens, é inimaginável...

Então, em um mundo onde mais da metade da população vive em estado de extrema pobreza, como teorizar e praticar outro modelo de sobrevivência que aponte para diminuição do padrão de consumo? Tirar de quem já não tem? Tentar convencer a elite mundial de que é necessário mudar seu padrão de vida e dividir entre toda a população mundial as riquezas produzidas a partir do trabalho humano? Uma flor rompeu o betume asfáltico do pensamento moderno! Para pensarmos, e avançarmos concomitantemente, na resolução da problemática ambiental atual é imprescindível que a dimensão socioambiental entre na palheta de cores de nossa ação coletiva. Não há riqueza de poucos sem a pobreza de muitos! Portando, a solução existe e é viável. Precisamos de mudanças radicais, desde as relacionadas ao comportamento individual – redução de bens de consumo, mais participação nas decisões coletivas, etc. - até as que dizem respeito aos nossos relacionamentos coletivos, desde o núcleo familiar as mais complexas formas de coletivização social – melhorar e ampliar o transporte publico coletivo, mudar a ênfase e o método dos sistemas produtivos – tanto industriais quando agropecuários.

O instante é singular no espetro da história do homo sapiens. A ação humana ganhou força geológica e consequentemente global, nunca interferimos com tanta força e contundência, tanto nos sistemas locais, vivo e não vivo quanto na biosfera. Então precisamos de modelos socioculturais adaptativos singulares como resposta às questões que estão postas. Se nunca na história humana houve um diálogo profícuo entre as diversas culturas e grupamentos sociais, esse é o momento ideal. Não há como impor regras, temos que consensuá-las e tentar beber as soluções de outras fontes culturais que não apenas as das sociedades urbano-industriais, dirigida politicamente e controlada ideologicamente por uma pequena classe burguesa.

Ainda ouvimos a música da diversidade. Ainda temos socio-bio-diversidade suficiente para nos recompormos como espécie biológica e voltarmos a interagir de forma equilibrada com as múltiplas dimensões da natureza. O passo da história urge, e o rugir da mãe terra poderá tomar caminhos distintos: ou um rugir tempestuoso e catastrófico ou uma lírica melodia entrecortada de contrapontos socio-bio-diversos e interações politico-culturais enriquecedoras, sem a orientação desigual da divisão de classes socioeconômicas. 

* Alexandre Amadeu ´cursa Biologia na UEFS e é Técnico do LAPRON/UEFS

1 comentários:

29 de junho de 2011 às 17:14 José Caetano disse...

De pé, oh vítimas da fome
De pé, famélicos da terra
Da idéia o povo já consome
A crosta bruta que a soterra
Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo, oh produtores

Boa, Alexandre...

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