O contato com o alheio em Richard Renaldi





Você está andando na Getúlio Vargas, num horário de pico comercial, ninguém consegue andar tranquilamente por mais de três minutos. Tem que parar pro carro grande e caro com alguém intransigente dentro passar, tem que parar pra bicicleta passar – não há ciclovias aqui -, tem que parar porque alguém decidiu coçar a perna e não há mais espaço pra passagem. Tem que parar – tratando-se do cotidiano feirense – pra carroça passar. De repente, chega uma pessoa que você não conhece e pede pra que você toque a pessoa ao seu lado pra que ela fotografe vocês. Isso não acontece em Feira de Santana, mas aconteceu durante algum tempo nas ruas de Nova York.























O fotógrafo americano Richard Renaldi nos mostra, através da séria “Tocando Estranhos”, como pessoas reagem a essa situação de maneiras desiguais, não é de se espantar que a grande maioria reaja friamente, encostando o mínimo possível no desconhecido ao seu lado. Em outros casos, surpreendentes a meu ver, os desconhecidos aparecem como íntimos, aparentando serem amigos de longa data. O interessante é perceber como Renaldi conseguiu quebrar barreiras sociais com a criação desse projeto, além de demonstrar que ao contrário do que se pensa, tem muita gente disposta a participar de realizações desse tipo, embora o fotógrafo tenha feito a proposta de que era necessário apenas haver o toque, mesmo que minimamente, os corpos dos desconhecidos deveriam estar em contato. Além de desconhecerem-se, as pessoas que aparecem nas fotos também desconheciam o fotógrafo.
















A linguagem corporal é o que mais me interessa nesse projeto, é notável o juízo de valor que as pessoas demonstram em relação à pessoa com quem estabeleceu contato pra posar pras lentes de Richard Renaldi. O cosmopolitismo nova-iorquino também é característica marcante na observação das fotos, acentuado pelo aparente individualismo como um traço determinante. Sem forjar situações, as fotos seguem mais a espontaneidade do que o autoritarismo fotográfico dos estúdios, mostrando a naturalidade (ou não) no lidar com uma pessoa estranha. O importante também é que o gênero “retrato” é mantido – o que muito me agrada. Os tabus, as convenções sociais, preconceitos, divisões, limites, são traços marcantes pra interpretação que, claro, fica a cargo do leitor dessas imagens.  


































 








 






 


























































































Clique nas fotos para ampliá-las. Mais no site do retratista: http://www.renaldi.com/

3 comentários:

6 de julho de 2010 às 23:40 Bruno Silva disse...

A escolha das fotos e as palavras são de uma sensibilidade apreciável. A arquitetura dos gestos e os trejeitos dos indivíduos oferecem e explicam diversas noções que interiorizamos acerca dos estranhos, os outros.

8 de julho de 2010 às 04:49 Aruã disse...

bom texto. simples, direto, informativo e crítico. simplicidade e beleza andam de maos dadas.

10 de julho de 2010 às 18:21 Anônimo disse...

claro que os tabus, as convenções sociais, preconceitos, divisões, limites, marcam também (por que não?) as interpretações do leitor que registrou essas imagens. adorei o resultdo de olharmo-nos. estranho. estrangeiro.

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