Sobre "O Grito da Terra" de Olney São Paulo.


Por ocasião do aniversário de nascimento do cineasta baiano, nascido em Riachão do Jacuipe e radicado em Feira de Santana, Olney São Paulo ( 1936- 1978), a Transa Revista vem sinalizar para uma de suas obras, o longa "O Grito da Terra" de 1964, com destaque para a música de Fernando Lona, inspirado num romance que ainda carece leitura, a adaptação cinematografica gerou estas breves linhas que indicam passagens do filme sobre o efeito de impressões psicológicas; nem sinopse nem crítica.

A película se abre com Loli enfrentando o horizonte - suspirando como se quisesse romper distâncias - numa cena seguinte seu pai lhe diz: "a terra nunca é madrasta", no sertão onde a "seca" é sinônimo de fé, a realidade sertaneja se funda na crença sobre o clima, ou seja na virada do tempo, na chuva. A câmera em seguinte aponta para vaqueiros reunidos - cavalos - pé de serra, se descobre uma lagoa. Cortando o cotidiano da zona rural, planta-se uma cerca e desprende-se da tela o axioma: "trabalha, sofre, mas vive". Mariá, diferentemente de Loli, é uma personagem com consciência conformada, que escuta seu pai.

Aprensenta-se ao espectador uma bifurcação, agora de um mirante Loli avista rotas para além das montanhas... No armazém se negocia farinha -produção da lavoura - e cachaça. A representação do sudeste é lugar comum... nas palavras do forasteiro, lá no "Sul terra celestial" "corre dinheiro e muito"... Em seguida Loli no lago é pura lascívia, possuida pelo forasteiro, ao contrário Mariá pensa sobre casar com Geraldo que incita a aventura ir embora, enfrentar a vida juntos.

Nesse contexto hostil, surgi a representação da educação na figura de um negro. O professor que alude ao povo enquanto a imagem da novilha perdida: "o povo sem educação é como uma novilha perdida". A imagem a seguir dá conta de um novilho que havia se perdido tendo ficado "preso no cipó". A cultura da mandioca; no armazén a nota, a caderneta, o fiado é a tônica entre consumo e capitalismo na zona rural. Ao passo que a festa enquanto o lazer do povo aparece enquanto zabumba. pandeiro, samba, forró, roda, sanfona...durante o rito cantam a canção: "eu não sou daqui eu sou de fora"

Já na feira aparecem  jaca, couro, farinha, e a figura do cobrador de impostos do Estado apoiado pela  polícia na alusão ao governo que segundo um dos personagens é "(rico) tira da gente". Num outro instante o filme fabrica uma alegoria de um "homem alto como o céu e as mãos cheias de esperança". Na política discute-se reforma agrária como se observa e uma das falas: "ouvi dizer que o governo ia dar terra aos pobres".

No entanto a educação é retomada como fôlego para a transformação social porque "o analfabeto é um morto". Nas terras cultiva-se feijão,  fumo, mandioca e milho. Assistimos a grilagem, compras de terra por parte dos coronéis, o filme descreve costumes do interior do sertão brasileiro seus coretos, filarmônicas, igrejas, sinos, a produção da safra de fumo a procura de comprador, leilão de gado, doado pelo coronel, para a Igreja.

A trama se esquenta, Loli mata o forasteiro que a disputava com o coronel, e uma canção incide seu verso latente de uma cosmovisão local baseada no conformismo: "o que é do homem destino fome, céu e terra".O filme além de indicar de certa forma, raízes do êxodo rural, possui em seu bojo uma música dominada por uma canção de lirismo triste. O negro professor, parece em alguns momentos um arquétipo de preto velho,  é chamado de "retirante" em algum instante do filme. Passa na tela uma boiada, "um mundo só".

Na ética do longa reina a lógica de um fatalismo, um destino inevitável. O capanga de um dos coronéis mata um dono das terras, revelando impunidade. Num universo onde fica claro que você só é alguém se tem terra, como ao tempo dos fisiocratas. A sociedade  se  revolta  movida pela fome,  enfrenta a luta para tomar a farinha e o poder. Abre-se então, no final da história, uma comporta de farinha do lombo do animal e cataratas de sonhos despencam nas rimas para camponeses com faca, foice e facão.

# Olney São Paulo, Cinema, Romance, Bahia.

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