Peter Higgs, Seleção


|Por Antônio Arapiraca|
Na sugestiva data de 4 de julho de 2012, o maior consórcio científico internacional se utilizou de recursos de altíssima tecnologia e transmitiu em banda larga para todo o planeta a descoberta científica mais importante de todos os tempos. Quer dizer, anunciaram que a tal partícula sub-atômica pode ter sido finalmente encontrada. De todo modo encontraram algo, e assim como no mundo futebolístico, o mundo científico também tem as suas estrelas.

Neste caso estou me referindo ao renomado físico inglês Peter Ware Higgs, que em meados dos anos 60 ajudou a prever teoricamente a existência de tal partícula. Claro que muito mais gente pensou, escreveu e fez experimentos sobre isto, mas para que os negócios funcionem bem é preciso sempre eleger um craque. Isso não é nenhuma novidade, ou já esquecemos que no início do século passado o craque Albert Einstein levou toda a fama por causa da sua Teoria da Relatividade? Infelizmente os outros craques envolvidos em questões relativísticas são pouco, ou quase nunca citados.

Claro, as contribuições de Higgs e Einstein foram excepcionais, mas não foram únicas. Assim como Pelé não ganhou nenhum título sozinho, muito menos Maradona, Platini e Beckenbauer. Porém, diferentemente do que acontece hoje no mundo científico, que irá receber rios de dinheiro devido à ilustre descoberta, o mundo do futebol anda mal de craques (não de dinheiro como é evidente!). Falo de craques de verdade e não de embustes midiáticos. A situação anda tão feia que tem até clube brasileiro fazendo camisa em homenagem à seleção da Espanha, como fez o Esporte Clube Bahia.

Mas, essa coisa da mídia no mundo da ciência é impressionante. O que vimos foi todo um aparato midiático em torno do anúncio da grande descoberta. Emissoras de TV, rádios, imprensa escrita e veículos da internet se acotovelavam para transmitir em tempo real este grande evento. E claro, a imprensa brasileira marcou presença. Várias emissoras montaram grandes estúdios com visões panorâmicas do grande acelerador de partículas LHC e tinham repórteres especialmente posicionados para não deixar nenhum detalhe escapar. Uma equipe destacada de comentaristas de ciência seguia explicando tudo para manter a população bem informada.

Diversos dos grandes jornalões impressos foram enfáticos e estamparam na capa: PETER HIGGS, SELEÇÃO!!! Confirmando a empatia que a tradição futebolística brasileira tem com as questões científicas. Neste caso, a metáfora se refere ao Prêmio Nobel de Física, honraria concedida anualmente aos craques desta ciência. Ganhar este prêmio é equivalente a ganhar uma Copa do Mundo de Futebol. Nosso país se ressente dolorosamente pelo fato deste prêmio não ter sido entregue aos físicos teóricos brasileiros César Lattes e Jayme Tiomno por suas contribuições à física de partículas.

O não reconhecimento dos nossos cientistas é para nós equivalente à perda do título na final da copa de 1950. Sinônimo de dor, comoção nacional. A questão é tão dramática para o nosso país que o Itamaraty já considerou solicitar uma reconsideração por parte da Real Academia de Ciências Sueca, só que para manter a convivência cordial entre as duas nações a diplomacia brasileira desistiu da idéia. Porém, fica registrado o protesto e o sofrer de um povo apaixonado por ciência e futebol. 

Antônio Arapiraca é físico, professor do CEFET/MG e editor do fóton Blog

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