Partido, uma utopia possível!

|por Edson Mascarenhas|

Para nós jovens, que não alcançamos quatro décadas de vida ainda, a recente história do Brasil nos deixou um legado que com certeza nos marcará por um longo período! Aqueles que acompanharam o fim da ditadura militar e fizeram parte do novo efervescer político de um país recém-democrático, vivenciaram aquilo que a “grosso modo” seria identificado como uma verdadeira descida do “Céu ao inferno” na política!

Digo isto de um lugar próprio, de quem pôde participar dos últimos anos de militância de esquerda, daquele que já foi o maior partido de trabalhadores da América Latina, e, portanto, um dos maiores do mundo. Fica claro e evidente de quem estou falando, bem como deve ser transparente que especialista não sou neste assunto, nem mais especificamente no partido em si... Mas então, o que quero com essas linhas já escritas e as que virão?

O mesmo que você caro leitor: Respostas! Principalmente, para uma pergunta que anda inquietando este ser humano que vos escreve, e ela é: O partido político ainda é um meio de organização dos setores progressistas para mudar a nossa realidade? Bom, o caminho que percorrerei nos próximos parágrafos será duro; tanto para a minha defesa, mas principalmente, para que aquele que lê estas palavras concorde com o escrito!            Portanto, esta é uma tarefa que prefiro driblar, optando por inquietar muito mais que responder.

Um primeiro passo fundamental para que nos inquietemos é abandonar o senso comum, superá-lo diria eu, pois ele nos leva a um campo de generalizações bestializado, que nos torna meros espectadores ante uma situação dada, na qual “tanto faz, como tanto fez”, não temos poder de ação, de transformação, e isto é um equívoco mortal. Para tanto, rejeito veementemente algumas afirmações que recorrem no nosso cotidiano: ouço, vejo e lamento!

Levar a frente essa postura diante da complexa situação política brasileira com afirmações do tipo: “É tudo farinha do mesmo saco!” ou “Todo político é ladrão!” e outras tantas do gênero só nos fazem demonstrar nossa falta de conhecimento para com a história em geral, e mais especificamente a do nosso país! Aqui vai um alerta fundamental: bem como nunca houve uma democracia racial neste país, com afirmações do tipo: “Não dá para diferenciar o brasileiro pela cor da pele, somos um povo miscigenado!”, demonstra nada mais que a vontade gigantesca de colocar o racismo nosso de cada dia abaixo do tapete, ou melhor, da nossa ignorância.

Tampouco é possível afirmar igualdade entre esquerda e direita! “Hoje em dia não sabemos mais quem é quem!” E vos pergunto: você nasceu professor, atendente, médico, enfermeiro, policial, engenheiro? Você se torna, através da sua experiência cotidiana, da sua relação concreta com o meio em que vive e com as pessoas com quem convive. Ainda que propague aos quatro ventos ser o melhor no que faz, não é isso que vai comprovar a sua prática, mas sim o contrário! Não é o que você pensa que te faz ser humano, este específico que agora lê este texto! É o fazer-se cotidiano, em sua complexidade, com suas contradições, que te tornas o que és!Portanto, temos de aprender a enxergar as mudanças!
Se hoje observamos um grupo gigantesco de setores, antes aliados aos projetos políticos do campo da esquerda, abraçando literalmente alas conservadoras, é porque foi uma escolha:intencional e decisiva dos rumos!Se projetos de transformação da realidade foram trocados por projetos de manutenção do sistema, ou melhor, do status quo, é porque houve uma mudança de pensamentos, de projetos e, consequentemente, de ações.

Fácil de entender não é, e de aceitar, pior! Principalmente porque no nosso caso, do Brasil, o partido que se construiu, se consolidou, militou, verdadeiramente nasceu das massas, dos trabalhadores urbanos, do campo, dos estudantes, bem como dos intelectuais. Suas proposições sempre foram aliadas com os menos favorecidos, com a causa negra, com a mulher, com a terra, com trabalho! Não obstante era motivo de chacota dos setores reacionários, que afirmava que em suas fileiras, se encontrava o que de pior tinha na sociedade: pobre, preto, nordestino, sem terra, feministas e homossexuais! E fica o questionamento: qual outro partido neste país tem uma inserção massiva nos setores mais progressistas de nossa sociedade, no movimento negro, no movimento feminista, nos sem terra, nos sindicatos de trabalhadores, urbanos ou rurais? A resposta é simples: nenhum! Mas um grande problema nisso tudo é justamente essa hegemonização feita pelo partido que acaba fazendo com que propostas e avanços históricos produzidos por esses setores sejam relegados a um segundo, terceiro plano, ficando muito atrás das benditas alianças políticas visando às (re) eleições. Um exemplo claro e notório seria a relação entre a juventude e a histórica UNE, o seu papel de antes e o atual.

Reside aí uma importante diferença entre este e qualquer outro partido brasileiro. E talvez, aliás, ousadamente afirmo, essa ser a maior fonte de decepção e desilusão por parte dos nossos pares em geral, mas principalmente, pela juventude! Esta, a desilusão, nos acompanha cotidianamente de forma perversa e sagaz! Desde aquele que dedicou anos à militância, até aos que nem sequer conhecem o real significado da palavra; alguns com mais outros com menos legitimidade para tal.

Assim o partido nos é apresentado como um meio que aglutina as demandas mais variadas dos setores populares e críticos da sociedade, encaminhadas para o fórum de deliberações, que a partir de nossos representantes ajudam a definir através de voz, caneta, papel e embates a nossa realidade concreta! Para isso precisamos cada vez mais de mobilização e articulação em torno de um projeto que tenha como horizonte a superação desse modelo perverso de sociedade. Precisamos mais que nunca, nos envolver nos processos de deliberações, pois se não o fazemos, com certeza alguém o fará por nós e estes não necessariamente desejarão o fim desse modelo!

Penso que temos gastado muito tempo nos lamentando e pouco, muito pouco nos politizando! Não, não são todos iguais! Podemos não gostar das alternativas, mas não podemos negar que elas existam! Construir novos caminhos é uma atividade da qual não podemos nos furtar!

É verdade caros amigos, a história é absurdamente implacável, e hoje, nos apresenta esse panorama nublado, no qual o nosso “limpador de para-brisas” e o nosso “farol baixo” será um só: o conhecimento! Sem nos debruçarmos sobre livros, revistas, artigos e teses sobre o assunto, dificilmente entenderemos o que se passou, e pior: ficaremos à deriva da história, sem um posicionamento crítico, lúcido que embase uma ação transformadora desse quadro perverso para outro quadro que será pintado com as nossas mãos, através da nossa própria experiência de luta!

A boa notícia é que como dito no início do texto, a maior parte de nós, desiludidos, temos menos de quatro décadas de vida! Portanto, muitos anos pela frente paranos mobilizarmos, construir, talvez até se decepcionar novamente, mas sempre lutar!

Pois essa é a nossa tarefa, fazemos parte daquilo que chamamos de JUVENTUDE!

Edson Mascarenhas é Historiador licenciado pela UEFS.

1 comentários:

14 de agosto de 2012 às 05:58 Matheus Barros- CFP disse...

Valeu Edson, interessante a leitura!

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