Meus caros amigos

|por Franklin Oliveira|

Gente, vocês vão me desculpar mas meu artigo de hoje é dirigido ao pessoal do exterior, seja da Patagônia às Ilhas Fiji, que lê esse blog. Afinal, é justo que de vez nos lembremos deles. Pensei então em dar notícias do Brasil a esta rapaziada. Vou logo dando um aviso que não tem nada a ver com a musica escrita nos tempos da ditadura por Chico Buarque pro teatrólogo Augusto Boal que se encontrava em Paris na ocasião. Meu caro amigo me perdoe, por favor, se eu não lhe faço uma visita. Mas, como agora apareceu um portador, na verdade um blog como este, mando noticias neste artigo, ou numa fita como fez o Chicão.

Aqui na terra continuam jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock n roll. A diferença daquele tempo é que só dá Copa e Olimpíada. A primeira continua com o calendário atrasado e, na segunda, nossa delegação já chegou a Londres, e olhem que desfilou muito animada!

Desta vez a nossa meta é chegar a vigésimo lugar. Como vocês que estão no exterior sabem, a burguesia daqui é fissurada em ganhar medalhas de ouro na Europa e sair no New York Times. Menos do que isso não serve, e o atleta que consegue só a medalha de prata é considerado um fracassado.

Tomamos um cuidado especial com os esportes coletivos, onde o país tem mais chance. Esses atletas são tratados a pão de ló. Ficam nos melhores hotéis, ganham polpudas gratificações, o escambau. O problema é que o amadorismo nas Olimpíadas foi pra cucuia há muito tempo e até pode se escolher jogadores da seleção brasileira de futebol pra disputar a medalha.  

Uns dias chove, noutros dias bate sol, mas o que eu quero é lhe dizer é que a coisa aqui está preta. Se Chico não foi politicamente correto naquela época ao falar de “coisa preta” (e não branca ou amarela) como símbolo da ruindade, o certo é que a musica manteve sua atualidade. Hoje, com a danada da crise, estamos chegando ao fim da picada.

Desde FHC o Brasil entrou numa roda viva de expansão do crédito que pegou os brasileiros de jeito. Com Lula isso foi pra estratosfera. A turma adorou o cartãozinho de plástico e o endividamento bateu legal. Imaginem que a média de dívida por família é de cinco milhas!

Os primeiros sinais da crise foram em 2006 mas Lula conseguiu empurrar a situação com a barriga por Lula distribuindo dinheiro aos bancos, indústria automobilística e ao comércio. Ela, porém, voltou em 2010, e aí o presidente, da mesma forma que Obama e Cia, voltou a empenhar o dinheiro do país em obras desnecessárias, fez com que sediasse a Copa e a Olimpíada, e, é claro, aumentou a verba da propaganda. Com isso rolou de novo a situação e até conseguiu que fosse considerado crime falar da crise na imprensa.

Os que estão comendo o pão que o diabo amassou no exterior não devem nem pensar em voltar. Agora a crise não pode mais ser adiada e o governo de plantão do PT é o administrador dela. Colocou uma gerente que nada sabe fazer a não ser cortar gastos, e o PIB, indicador para o qual ela não está nem aí, caiu lá pras calendas gregas.

O Brasil, nos dois anos de Dilma, está entrando numa paradeira geral. Mas, pelo menos, podemos nos orgulhar de sermos o único país onde o governo promove uma política recessiva sem cair do índice de aprovação nas pesquisas.

Mas pelo menos os funcionários públicos estão chiando. Tem até greve, como a dos professores da Bahia, que já passou dos cem dias. É a única coisa em que parecemos com a Grécia, Espanha, Itália e Portugal. É que Dilma não está nem aí para os servidores, chegando sua ministra Miriam Belchior a dizer se surpreender por “os funcionários brasileiros estarem reivindicando em tempos de crise na Europa”.

Chico mais uma vez tem razão. É à custa de muita mutreta pra levar a situação que agente vai levando de teimoso e de pirraça. E a gente vai tomando também, pois sem cachaça ninguém segura este rojão. O pessoal da ANVISA, por exemplo, já entrou no clima. O órgão, que deveria fiscalizar a comercialização de remédios, liberou geral. Acaba de aprovar o acesso a remédios sem receita até em gondolas das farmácias, desde que se coloque o cartaz:

 “Esses medicamentos podem causar efeitos indesejados. Evite a automedicação: informe-se com o farmacêutico”.

E olhem que tudo isso é “justificado” pelo direito de livre escolha do consumidor! Durma-se com um barulho desses! Mas, pelo menos agora posso comprar os remédios de meu pai á vontade sem a necessidade de correr atrás do médico pra pegar a receita!

Não gostei foi do anúncio de Dilma sobre a energia. Ela tem editado medidas pra livrar a cara do empresariado na crise. É um programa atrás do outro. São bilhões pra cá, bilhões pra lá. Basta qualquer montadora reclamar das vendas que a presidenta prorroga o desconto do IPI e outros bichos para a galera.

Mas agora exorbitou. Imaginem que ela retirou diversos impostos que encarecem a conta de luz só para as indústrias. Pode? Eu também quero meu abatimento. Afinal não aguento mais pagar uma conta de luz de 150,00.

Já fiz tudo o que podia pra reduzir e nada. Disseram-me que o problema era o chuveiro, aí passamos a tomar banho frio, sem ligar o chuveiro elétrico. No mês seguinte veio os mesmos 150,00. Depois me falaram que era a porta da geladeira, que quando se abre muito aumenta a conta. Aí minha mulher baixou a ordem, só abrir a porta da geladeira três vezes ao dia, no café, no almoço e no jantar. Freezer nem pensar, só abríamos uma vez por semana. No final do mês fomos ver a conta e...150,00 no pedaço!

Quando fomos por ai pela Inglaterra aproveitamos pra gastar antecipadamente o dinheiro da conta de luz acreditando que estaria zerada. Qual nada,veio de novo os 150,00. E não adianta pedir verificação do registro hein! Realmente, ninguém aguenta com esta COELBA depois de privatizada.

Meu caro amigo eu não pretendo provocar nem atiçar suas saudades mas a notícias principal por aqui é a campanha do Vitória, rumo á Primeira Divisão. Ontem, eu e mais 35 mil pessoas, fui ao Barradão ver o leão jogar contra o CRB. Agora o pessoal, além de subir, quer ser campeão da Segundona, imagine!

No dia anterior o Criciúma já tinha tirado o cavalo do Vitória da chuva dando de quatro no Barueri, e fora de casa! Mas isso não afastou nem um tantinho de pessoas do Barradão. Pra você ter uma ideia da crise o rubro negro está jogando de preto e branco. A torcida não aguenta mais de tanto doar sangue e o diabo da camisa não volta á cor normal. Mas pelo menos ontem já estava meia boca, com algumas listas vermelhas.

Só deu o timão no jogo. Começou logo em cima, embora com poucos atacantes. Até aos vinte e cinco minutos os alagoanos nem chegaram ao ataque e tivemos boas chances. A primeira foi quando Neto Baiano (que agora vai pra aí no Japão) chutou e o goleiro Cristiano pegou. Depois foi a vez de Marquinhos chutar em cima desse cara que foi a personagem do jogo.

O CRB não atacava certo? Errado, pois quando atacou colocou a defesa em polvorosa. Cruza pra cá, falha pra lá, e o goleiro Deola, que o Vitória trouxe pagando os olhos da cara, rebate nos pés de Jadilson que só não fez o gol porque Denner cortou o chute jogando a bola pela linha de fundo.   

Depois disso (quem diria?) os alagoanos alugaram o meio de campo. O timão só ressuscitou faltando uns dez minutos, mas aí a coisa não era mais a mesma, o CRB já estava mais ambientado ao Barradão e só tivemos uma oportunidade na cabeçada de Uéliton por cima do travessão.

Agente ficou comentando todo o intervalo. Que é que Carpé vai fazer? Vamos ver se ele é técnico mesmo! Minha ideia era soltar os dois laterais e botar mais uma atacante (Marcelo Nicácio) tirando Leílson. Eu achava que não era um jogo pro menino pois costuma ser rápido e vem de traz. Mas retranca só se resolve pelas pontas e com, pelo menos, dois atacantes de área.

Mas aí Carpegiani tirou...o lateral esquerdo Denner pra botar o meia Artur Maia. Quase puxei os meus poucos cabelos. O Vitória continuou sem conseguir entrar na área O Artur sumiu no campo e o máximo que conseguia era dar faltas. E o pior é que ficamos sem ninguém na defesa pela esquerda. E foi por aí que o CRB entrou umas três vezes, aos nove minutos Luciano deu uma porretada que se entra, valha-me Deus!

A bola continuou batendo na defesa alagoana e voltando. O time só tentava entrar pelo meio sem o mínimo sucesso. E o pior é que era de forma bem comportada, sem partir pra cima.  Foi aí que agiram as forças ocultas quando Leílson se contundiu e Carpegiani botou Marcelo Nicácio.

Ufa, até que fim tínhamos dois centro avantes. Eles deram um trabalho danado a defesa do CRBesta. Em cinco minutos já tinham cavado duas oportunidades mas as bolas ou iam pra fora, ou paravam nas mãos do goleiro Cristiano. Um saco esse cara!

Aos dezenove Marquinhos fez um jogadaço recebendo o passe e colocando por cima, mas ele salvou de ponta de dedo. A essa altura o Vitória tomou conta do meio de campo. Só dava o meu time! Pra manter o ritmo Car´pé botou o Léo na lateral esquerda.

Acho que o menino foi uma autocrítica dele de ter colocado o Artur Maia. O que eu sei é que Léo partiu pra cima e foi uma arma surpresa contra os alagoanos, que tinham agora de cobrir a lateral direita dos avanços de Nino, a esquerda com o pessoal que caía por aquele lado, marcar os dois centro avantes, e ainda se preocupar com o pessoal ia pra cima driblando pelo meio.

Começou uma briga entre o gato e o rato. O Vitória atacava a bola passava pela área, o pessoal chutava e a defesa ou Cristiano tirava. Lembro-me que eu rezei pra todos os santos. Não é possível que um time sofra uma pressão dessas e não saia o gol. Mas, qual, aos 35 quase tudo vai por agua abaixo quando esticaram uma bola pro Luís Felipe, que entrou pela direita e bateu firme mas Deola salvou pela linha de fundo. Foi quase quase!

Mas foi só esta. O timão não estava nem aí continuando a atacar. Cada tiro perigoso quase vinha abaixo o estádio. Mas veio abaixo mesmo foi quando Victor Ramos fez um lançamento pra área e os beques bateram cabeça sobrando a bola pro Neto Baiano que chutou por baixo das pernas do zagueiro e botou no fundo das redes.

Ufa, comemoramos pra valer. Já eram 40 minutos do segundo tempo. E foi enquanto estávamos vibrando é que a bola foi cruzada na área do leão e o atacante perdeu o gol na pequena área de frente com o crime. Logo depois o juiz terminou a partida. Decididamente sofrer assim é demais. Não sei se vou terminar o ano vivo desta maneira!
Meus amigos, eu quis até telefonar pra dar o resultado do jogo mas a tarifa não tem graça. É muita pirueta pra cavar o ganha-pão, que agente vai cavando só de birra, só de sarro, engolindo tanto sapo no caminho.

Cybele manda um beijo pra família e pode que segurem a barra por aí. Um abraço especial pra Matheus e Karen aí em Londres e pro Rafa, Ângela, Thelma e San Martim aí em Villarchan na Galícia.

Franklin Oliveira Jr. é desportista, escritor, professor universitário, e criador do blog Memórias da Fonte Nova e da WEB TV Pra que política?

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