A melhor notícia do mundo

|por Franklin Oliveira|

Na última sexta o planeta teve a melhor notícia da história. E olhem que não foi a explosão que se diz que deu origem ao universo pois é veementemente negada pelas religiões e criacionistas. Nem a suspensão da guerra civil na Síria. Ou muito menos a marcação da data do julgamento do mensalão pelo STJ. É que o glorioso E.C.Vitória entrou no G 4 da Segundona do Brasileirão. Isso não acontecia há cinco anos.

Descemos em 2010 e desde então não passamos nem uma rodada entre os quatro que subiriam. Aliás minto, nesse ano isso ocorreu num sábado, quando o meu rubro negro ganhou sabe-se lá de quem, mas no domingo foi ultrapassado, por sabe-se lá de outro e voltamos para o purgatório.  

Há dois anos tínhamos virado o time dos “quase”. Quase ganhamos a Copa do Brasil numa histórica decisão contra o Santos de Neymar e Cia. Perdemos lá no galinheiro de Vila Belmiro por dois a zero e vencemos no Barradão por dois a um. E olhem que o juiz deixou de marcar um pênalti cometido pela defesa do peixe. O resultado é que fomos vices, e passei o desprazer de ver Robinho, Ganso e Neymar comemorarem o caneco na nossa casa.

Depois daí tudo desandou. É bem verdade que a diretoria demorou pra contratar jogadores e técnicos pensando que o elenco estava “em cima”. Mas num campeonato por pontos corridos a coisa foi outra e fomos ficando por baixo. Quando chegou o último técnico, o delegado Antônio Lopes, a coisa estava mal a Bessa, faltando apenas nove jogos e o leão na zona de rebaixamento.

Houve uma grande campanha pro Vitória não descer. Com exceção dos habituais azarões do Bahia todo mundo torcia para o Vitória não cair, ainda mais que o tricolor estava bem cotado para subir e ficariam dois clubes baianos na Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro. Quando Lopes chegou não faltavam muitos pontos pra ficarmos na elite, ganhando 15 pontos dava. Eram cinco partidas fora e quatro dentro de casa. As de fora eram o fim da picada, Santos, Guarany, Internacional e outros bichos, e as daqui duríssimas, terminando com Corinthians e Atlético Goianiense.

A diretoria prometeu pagar prêmios e o diabo e o time passou a jogar melhor, mas...não ganhava de ninguém. Foi aí que descobri a importância dos três pontos. Conseguimos empatar sem gols às duras penas com o peixe no Pacaembu. Em Campinas e Porto Alegre o leão chegou a abrir o placar mas aconteceram coisas do arco da velha, daquelas que só existem com o Vitória. Tomamos até gol olímpico.

A torcida lotou o Barradão nos quatro jogos finais. Nos dois últimos então não cabia de tanta gente. O Corinthians chegou com Ronaldo e tudo e olhem que botou pra quebrar nos primeiros vinte minutos onde podia ter enfiado uns três gols mas só fez um. O Vitória foi salvo pelo gongo, ou melhor pela contusão de Ronaldo e aí mudou tudo. Empatou, botou os alvinegros do parque São Jorge na roda e só não ganhou porque o juiz deu a maior patriotada deixando de marcar um pênalti clamoroso, uma agressão do goleiro em nosso atacante Adailton.

O resultado é que fomos pro último jogo precisando vencer o Atlético Goianiense. Não parecia ser uma tarefa difícil. O time era do nosso tope mas sabem como é os esquemas defensivos de Lopes...Primeiro se estuda o adversário, depois se vai ao ataque com cuidado, e, quando se perde o “cuidado” já se está no intervalo e atrás no placar. Aí vem o segundo tempo e o delegado só substitui aos 15 e aos 30 minutos, mesmo assim quando a torcida já entrou no desespero.

Passamos todas essas aflições e mais contra os goianos. E olhem que eles não vieram pra se defender, pelo contrário. Enquanto Lopes estudava o Atlético chegou umas duas vezes na cara do gol, e mais duas quando “atacava com cuidado”. Graças a Deus a bola não entrou. O que eu sei é que só aos 30 do segundo tempo o Vitória foi jogar alguma coisa e entraram Junior e Ramon pra mudar a cara da partida. Mas aí já era tarde.

Bem que Ramon sofreu um pênalti e Junior fez um gol de bicicleta, mas o juiz ignorou a primeira falta e marcou uma inexistente no segundo lance. Fiquei paralisado na cadeira quando esse cara de pau apitou terminando com o jogo e nossa chance de ficar na Primeira Divisão. Nunca foi tão duro subir a rampa do Barradão em um dia em que “quase” ficamos na Primeira Divisão.

No ano passado foi só sufoco, não ganhamos nem no jogo de damas. O campeonato baiano parecia uma barbada, estávamos muitos pontos á frente quando começaram as semi finais. As partidas que pareciam difíceis eram as contra o Bahia, mas ganhamos logo em Pituaçu e podíamos até perder no Barradão, o que acabou ocorrendo.

Depois daí nunca um pentacampeonato foi mais fácil, principalmente quando o Vitória empatou em Feira de Santana com o genérico. Bastava um empate no Barradão e quando Giovanni abriu o placar de falta a torcida comemorou o campeonato. Mas qual, Lopes mandou o time todo recuar e tome-lhe sufoco fazendo o primeiro tempo terminar empatado. Pensam que o time se corrigiu? Nada!

O time continuou jogando do meio de campo pra traz e Viafra, que já vinha mal há um bom tempo, acabou por entregar o ouro definitivamente num chute despretensioso de João Neto. Não adiantou ir pra frente, fazer as substituições habituais, que não teve santo que evitasse o desastre que forçou aos jornais a mudar até a manchete preparada para a comemoração do penta do leão.

Por incrível que pareça Lopes ainda foi preservado no clube só caindo mesmo quando do começo desastrado na Segundona. Mais uma vez o Vitória passou por vários técnicos, perdeu um monte de pontos bestas, e, quando Wagner Benazzi assumiu como “especialista em Segunda Divisão”, mesmo conseguindo reagir no final, morremos na praia perdendo a classificação por apenas um ponto para o Sport.

O que foi bom este ano foi começar a montar um time desde o início. O ruim mesmo foi tropeçar de novo no técnico, contratando o anacrônico Toninho Cerezo. Este, acostumado a ganhar os tubos no Japão, só fez m... quando treinou ultimamente no Brasil. Já tinha desgraçado com o Guarany e o Sport, e não contente com isso, quis arrombar também o Vitória. O cara transformou o clube em laboratório inventando a valer e perdendo todos os pontos possíveis imaginando que tiraria a diferença na fase final.

Como no tempo em que ficou fora não leu uma linha do que se passava na Bahia não sabia que 80% dos títulos são conseguidos só administrando a vantagem conseguida antes da fase final. Não deu outra coisa! Nosso arqui adversário, que não ganhava nada há onze anos, botou o time pra frente na primeira fase e na segunda jogou lá atrás. Quase não ia pra final eliminado pelo Feirense mas acabou conseguindo um gol milagroso aos 43 minutos do segundo tempo.

Na decisão contra o Vitória jogou todo atrás no Barradão e Marcelo Lomba, que jogava pra renovar contrato, conseguiu um empate sem gols. Não contava com a subida de produção do Vitória que, nesse meio tempo, eliminou o poderoso Botafogo na Copa do Brasil. O resultado é que o rubro negro foi pra cima e só não levou a taça porque o goleiro Douglas resolveu dar um presente de Dia das Mães aos tricolores tomando dois frangos e enterrando definitivamente o sonho do leão ganhar alguma coisa.

Para começar a Segundona o Vitória só contratou o bom meia do Náutico Eduardo Ramos, mas começou bem, ganhando (no finalzinho) do Barueri. Logo depois, porém, foi eliminado da Copa do Brasil, vergonhosamente, pelo Curitiba, e apanhou do Criciúma. Essas derrotas, assim como a perda do título, abalaram mais uma vez a nossa grande mas sofrida torcida que não compareceu a goleada que aplicamos no Ipatinga, e no empate que arrancamos do líder América de Natal no finalzinho.

O jogo de ontem teve sabor especial. Continuávamos com desfalques e jogávamos num alçapão. O Vitória como sempre fez dois tempos irregulares. No primeiro tempo alternou boas jogadas ofensivas com falhas da defesa, e no segundo só fez se defender. Mas temos que dar o braço a torcer ao técnico Carpegiani. O cara mandou treinar faltas e não é que foram elas que decidiram o jogo?

Não sei o que está acontecendo com o Neto Baiano até as faltas estão entrando. Depois de tomar um gol de impedimento (mas também de pixotada da defesa) foi a vez de Uéliton cobrar outra falta com o goleiro dando rebote pra Tartá marcar. Parece que essa onda maluca de não descer para acompanhar o jogo e dirigir o Vitória e a Seleção do Paraguai vai funcionar. Só não sei até quando!

Eu sei que só foram jogadas cinco rodadas. Que a defesa de meu time não inspira confiança, que não temos alas nem goleiro. Que ganhamos o Boa Esporte ontem no sufoco jogando todo mundo atrás pra garantir o resultado. E olhem lá que foi em Varginha, o lugar do ET. Mas vocês podem entender o que a colocação em terceiro lugar representa pra nós rubro negros.

Pô, até terça feira ninguém pode nos tirar do G 4. São quatro dias, noventa e seis horas de felicidade, pelo menos até o jogo contra o Guarany. Tomara que tenhamos chegado pra ficar. Será que podemos “administrar” até o final? “Só” faltam trinta e três rodadas. Uns cinquenta e seis pontos. Não tem torcedor do Vitória que não seja chegado a uma maquininha. Foi o que nos sobrou nesses dois anos. Mas a contar pelo sufoco que eu e meu vizinho passamos no segundo tempo de ontem só deus mesmo é que vai fazer agente ficar vivos até dezembro. Quem viver verá a maior noticia do mundo, o leão de Primeira!

Franklin Oliveira Jr. é desportista, professor universitário, escritor, e criador do blog Memórias da Fonte Nova e da WEB TV Pra que política?                       

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