Venezuela: de saco de pancada à pedra no sapato

|por Giliad de Souza|
Falar sobre a Venezuela, nessa última década, aqui no Brasil vem corriqueiramente acompanhado de alguma polêmica. Incrível como naquele país tudo é visto com bastante desconfiança pelos “formadores de opinião”, isto é, a grande mídia. Tentando escapar desse imbróglio e objetivando conhecer um pouco sobre como funciona o esporte por lá, em especial o futebol, deparei-me com uma dificuldade visceral: a falta de informação. Pesquisei em todos os grandes centros de informação da internet brasileira e nada. Quando é abordado algo, fala-se apenas sobre os confrontos contra a seleção ou times brasileiros. No entanto, não trazem qualquer nota sobre os jogadores, quais as principais forças, enfim, informações mínimas! Tive de acessar, em função disso, a mídia estrangeira. Pouca cobertura, porém com mais informações.

Pois bem, a seleção venezuelana carrega consigo o peso de representar um país que ainda não tem tradição futebolística e que este não está entre os esportes favoritos do seu povo, perdendo para o beisebol, que conta liga profissional e estádios lotados, basquete, empatando com o boxe. O futebol lá, por mais que não seja um esporte tão novo (sua federação foi criava em 1926, com representantes de 11 clubes, todavia reconhecida pela FIFA e CONMEBOL somente em 1952 – último dos países filiados neste), teve seus mais importantes feitos culturais recentemente, isto é, obter afirmação nacional e continental. Ela é a única seleção pertencente à CONMEBOL que nunca participou de uma Copa do Mundo. Na última década, ocorreu uma gigantesca tentativa de tornar o futebol o esporte predileto dos nossos vizinhos, que até então disputava lugar nos corações dos venezuelanos com o vôlei e rúgbi. Para isso, não bastava apenas marketing (coisa que ocorreu sem qualquer precedente), porém profissionalizar de fato sua liga, tornar seus jogadores desejáveis pelos clubes mais ricos do mundo e seus times com condições de disputar torneios internacionais. Tudo isto vem indubitavelmente logrando êxito, vide a evolução do retrospecto dos seus times na copa libertadores, além da própria seleção principal que antes amargava sempre a lanterna da qualificação sulamericana para a Copa do Mundo, agora rotineiramente tem superado seleções com mais tradição. Até ao ano 2000, havia ganhado apenas dois jogos: a 15 de Março de 1981, 1-0 frente à Bolívia, e a 12 de Setembro de 1993, 2-1 frente ao Equador. Na recente Eliminatória para 2010, ela venceu seleções dentro de casa como Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, e fora como Bolívia e Equador. Empatou em casa com o Uruguai e fora com o Brasil, Chile e Uruguai. Não duvido que nas próximas Eliminatórias, a Venezuela protagonize uma luta real para se qualificar para a Copa do Mundo. Quem antes era saco de pancada, agora tornou-se uma pedra no sapato!

O mesmo êxito pode ser dito dos seus jogadores, vide que, da provável escalação titular do seu jogo de abertura, 8 jogam fora do seu país originário. Por mais que, dos jogadores convocados para esta Copa América, grande parte atuem na Venezuela, sobretudo nos 2 principais times, Caracas F.C. e Anzoátegui, é inegável a inserção tida em especial no futebol europeu, onde concentra-se grande parte dos times ricos do mundo. Por isso, quer os envolvidos com futebol na Venezuela gostem do Hugo Chavéz, quer não, eles têm muito a agradecer ao presidente pelos investimentos e incentivo feito a esse esporte.

O time deve entrar em campo contra o Brasil com um 4-4-2, com 2 zagueiros, 2 laterais de saída e contenção, 2 volantes de contenção, 1 volante de armação, 1 armador, 1 atacante de beirada e 1 centro-avante clássico. O bom técnico César Farías é ainda um “garoto”, comparado ao padrão de idade. Com seus tem implementado um padrão técnico e tático digno de grandes seleções. A escalação provável é: Vega; Rosales, Vizcarrondo, Perozo, Cichero; Lucena, Rincón; González, Arango; Miku e Rondón, dos quais destaco o arqueiro Renny Vicente Vega, de 31 anos, goleiro do time Caracas F.C. que surpreende por sua capacidade de distribuição de jogo e na saída um para um; o lateral direito Roberto Rosales, de 22 anos, do AA Gent da Bélgica, jogador bastante veloz, ágil e com muita capacidade de aceleração; Juan Arango, o craque do time, de 31 anos, do time alemão Borussia M'gladbach que é o batedor oficial do time (escanteio, falta e pênalti), um jogador imprevisível, com bons passes, criativo, sabe chutar de longe e joga para a equipe; Miku, de 25 anos, do Getafe da Espanha, jogador rápido e com boa finalização e jogadas sem a bola; e Salomon Rondón, de 21 anos, do Málaga da Espanha, é a referência na área, jogador guerreiro, de muita força e impulsão. Olho aberto para essa seleção!

Giliad de Souza, Economista pela UEFS e Mestrando em Economia pela UFRGS e Vitória de Coração.

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