Em busca de um jóquei pro cavalo paraguaio

|por Ginaldo Farias|
O choro do defensor Ayala nos ombros do lendário arqueiro Chilavert, após o gol de Blanc aos 9 minutos do segundo tempo da prorrogação nas oitavas de final da copa de 98 (único gol de ouro da história das copas), é sintomático do início de um novo tempo do futebol paraguaio em que a derrota deixa de ser o resultado natural. Ayala ao lado de Gamarra e Chilavert formava a melhor defesa daquela Copa, vencida pelos franceses de Blanc. Algo semelhante aconteceu em 2010, desta vez nas quartas de final, o Paraguai seria novamente eliminado pelo futuro campeão com um gol no finalzinho da partida, com direito a pênalti perdido pelas duas equipes, Villa, artilheiro da Espanha, marca e elimina os guaranis de mais uma Copa. O jogo poderia ter ido para prorrogação se Santa Cruz não isolasse a bola cara a cara com Casillas no último minuto, para a tristeza de Larissa Riquelme e dos milhões que estavam torcendo pela classificação do time paraguaio, talvez devido às promessas da musa da Copa e não ao brilhantismo do futebol apresentado por sua seleção.

Nesses 12 anos que separam os jogos em que o Paraguai se impõe como o adversário mais duro no caminho dos campões do mundo, a seleção albirroja se consolida enquanto terceira força do futebol sul-americano, nem tanto por conta dos resultados alcançados, mas por sua regularidade. Nossos vizinhos classificaram-se para as últimas quatro copas com extrema facilidade, sempre antes da última rodada das eliminatórias, algo que não aconteceu nem a Brasil e Argentina que volta e meia passam por algum sufoco. Mesmo tomando a Copa do Mundo como parâmetro para avaliar a força de uma seleção (que outro critério haveria de ser?) e afirmar o bom momento do futebol del Chaco, sem dúvida a maior êxito da nova seleção paraguaia foi a conquista da medalha de prata nos jogos olímpicos de Atenas em 2004, quando seus garotos foram derrotados pela papa ouro Argentina. No pré-olímpico a classificação veio com uma vitória sobre o Brasil que tinha como base os meninos da vila geração Robinho, Diego e salto alto, 1 a 0, gol de De Vaca.

Antes da atual seqüência de participações em copas, o Paraguai esteve em quatro mundiais, o primeiro em 1930 no Uruguai, depois em 1950 no Brasil, 1958 na Suécia e após um jejum de 28 anos, no México em 1986, quando pela primeira vez avançou às oitavas. Nesse período de pouca expressão no cenário mundial os albirrojos conquistaram a América por duas vezes em 1953 e 1979, mesmo ano em que o Olímpia venceu sua primeira Libertadores, entretanto, nos últimos torneios continentais a seleção não tem obtido muito sucesso nunca figurando entre os quatro melhores. Em contrapartida seus times têm geralmente uma boa participação no nosso principal torneio continental de clubes, atrapalhando os planos de times brasileiros e argentinos com tradição e investimento bem maiores, o Olímpia venceu sua terceira Libertadores em 2002, o Libertad foi semifinalista em 2006 e este ano e Cerro Porteño foi eliminado nas semi pelo Santos de Neymar e companhia.

As oitavas de 98, a final olímpica de 2004 e as quartas de 2010 são, sem dúvida, os principais marcos da história recente do futebol paraguaio. A derrota apesar de não ser mais o resultado natural é ainda o resultado que prevalece, pelo simples fato de a seleção paraguaia ter uma deficiência no detalhe que faz toda a diferença em um jogo de futebol: o GOL. Com excelentes defesas, obediência tática e a tradicional garra do futebol no cone sul, sempre faltaram e ainda falta ao futebol paraguaio criatividade na definição das jogadas. O último passe, o drible, a conclusão nunca foram o forte desta seleção que sobrevive das jogadas aéreas e bolas paradas para superar os adversários. Se tentarmos lembrar os maiores jogadores do futebol paraguaio nos últimos anos, nos vêm a mente zagueiros, laterais, goleiro, talvez nos lembremos do meia Cabañas algoz da seleção e de clubes brasileiros, infelizmente tirado da última copa do mundo por uma bala na cabeça, porém está longe de ser um gênio da 10, apenas um excelente cobrador de faltas.

Há 32 anos morrendo na praia, o Paraguai vem para esta Copa América com a mesma base da boa campanha no mundial da África do Sul. A principal ausência é o atacante Óscar Cardozo, titular do Benfica. O jogador que perdeu o pênalti contra a seleção espanhola ano passado dá lugar ao argentino naturalizado Lucas Barrios que marcou 23 gols na última temporada pelo Borussia Dortmund, e ao lado do veterano Roque Santa Cruz será o responsável por balançar as redes adversárias na Argentina. Entretanto o novo ataque ainda não disse a que veio e na primeira partida contra a boa seleção equatoriana, o Paraguai manteve a regra da defesa impermeável e ataque ineficaz. O 0 a 0 estampado no placar não correspondeu às chances criadas pelas duas equipes durante o jogo, com uma leve superioridade do time comandado por Gerardo Martino, que escalou para a estréia da competição Villar; Piris, Verón, Da Silva e Torres; Barreto, Ortigoza, Riveros e Estigarribia, Santa Cruz e Barrios.

O segundo jogo será contra a seleção canarinho e a imprensa paraguaia especula a saída do lateral-direito Iván Piris, que não jogou bem contra o Equador, para a entrada de Antílon Alcatraz para o miolo da zaga, Dario Verón seria improvisado na lateral direita. Outra alteração para o jogo contra o Brasil será a escalação de Vera ou Cárceres no lugar do excelente volante Edgar Barreto contundido. O esquema tático com quatro defensores, três volantes, um meia de ligação e dois atacantes não deve mudar, apesar da extrema necessidade de fazer gols no próximo jogo em que depois de resultados ruins na estréia os favoritos do grupo B se encontrarão.

O cavalo paraguaio segue como forte concorrente à conquista da Copa América, mas enquanto não resolver o problema ofensivo vai continuar comemorando as derrotas que poderiam ter sido vitórias. Neste páreo ou aposto minhas fichas em outros cavalos.

Ginaldo Farias, é membro do Conselho Editorial da Transa, nunca esteve no Paraguai, há muito tempo não bate um baba e é fã do enorme carisma de Larissa Riquelme. 

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