A derrota dos derrotados

|por Helen Fraga|
Já se questionou alguma vez por que você torce pelo Brasil e não pela Venezuela, Perú, Paraguai ou pelo Uruguai? Obviamente por que é brasileiro!

No seu discurso da posse, Dilma disse mais ou menos assim: “você pai e mãe, que tem uma filha, pode agora acreditar que é possível uma mulher chegar à presidência deste país”. Bem, esta estatística é bem simples (probabilidade do evento sobre o espaço amostral): dividindo 1 por 95 milhões de habitantes, que é o número total de mulheres no Brasil dá, 0,00000001% de chances. Supor que somente por serem mulheres há algo que vincule Dilma e o restante das brasileiras, é cair no reducionismo biológico.

Da mesma forma, torcer pela seleção brasileira porque somos brasileiros, não explica em nada o modo cego e dominado pelo qual se torce pela seleção. Digo isso, porque somente agora, quando Brasil foi derrotado pelo Paraguai é que ouço comentários como, “poxa esses caras ganham milhões e nem um pênalti conseguem fazer”. Antes os resultados eram semelhantemente parcos e os salários similarmente exagerados e não surgia tal questionamento.

O fato é que esses seletos jogadores brasileiros, infelizmente, como heróis, somente podem ser aplaudidos pela capacidade de acertarem (ou defenderem) o gol. Como heróis, alimentam o imaginário de milhares de meninos pobres (porque os ricos têm todos os meios para se dedicarem ao tênis, ao vôlei, ao pólo...) em suas expectativas de vidas também pobres.

Sermos brasileiros pouco nos aproxima desses jogadores, que em sua maioria, vivem na Europa e que quando não estão jogando futebol estão gastando suas fortunas, suas mulheres, seus escândalos. Alguns deles são até oriundos de povoados daqui próximos, mas não voltam a morar neles, apenas compram mansões e veículos para as famílias e se mantêm distantes das suas raízes.

Mas quando não é o reducionismo biológico resta o gosto pela vitória. Uma certa vez me disse Paulo, logo depois de um jogo em que o Brasil ganhou do Chile, no mesmo dia em que a passagem em Feira de Santana tinha aumentado, “o Brasil ganha, a passagem sobe, e todo mundo fica feliz”. Ou não estamos lembrados dos “setenta milhões em ação, pra frente Brasil salve a seleção” no discurso ufanista dos militares para legitimarem seu regime de crimes e de sangue a tantos destes brasileiros?

Atualmente, o manejo do contexto se dá por outros meios. O que faz, por exemplo com que sejamos obrigados a assistir a transmissão dos jogos da Copa América tendo que escutar as bobagens e idiotices de Galvão Bueno, ou então de suas réplicas? O que faz com que Romário seja eleito como deputado no Rio de Janeiro? O que faz com que os patrocinadores da seleção brasileira sejam o ITAÙ, VIVO, AMBEV (Guaraná Antártica), TAM, NIKE e Hugo Boss? O que faz com que Ricardo Teixeira seja o presidente vitalício da CBF? (e depois se diz que ditadura é o povo eleger democraticamente, Hugo Chávez, na Venezuela).

O final dessa Copa América segue, sem Brasil e Argentina nas semifinais, os dois países historicamente rivais, mas também, reconhecidos mundialmente pela competência de seus jogadores, mercadorias de luxo neste mundo de mercadorias, para alguns poucos lucrarem muito com toda essa fantasia representante do capitalismo no futebol.

Também, para o Chile terminou a competição, diante da revelação do vinho tinto Venezuelano. Há decepção e até um pouco de saudades do ex-técnico Bielsa, nesta semana contratado pelo Athletic Bilbao. Voltam pelo passo cordilheirano Los Libertadores, os quinze mil torcedores, na pista a também quinze graus, negativos.

Helen Fraga é estudante de Economia pela UEFS.

0 comentários:

Postar um comentário