Arte_Política


|por Camilo Alvarenga|
POESIA, CINEMA E REVELAÇÃO.
14 de março ficou para trás... Virão 15, 16 e assim por diante, como sobrevive a cultura?  Como se tocam projetos de ordem e grandeza tão elevadas como a criação poética ou a arte cinematográfica? Como tratamos estas questões?

Estamos em face de um contexto que transforma em arte o choque, o impacto, o susto, ou ao mesmo tempo a bela execução de traços da tradição, crise de paradigmas, corrupção na concepção estilística, duelos ininterruptos entre a modernidade e seus desdobramentos. A película que transcende o papel, o verbo que suplanta a imagem, a fílmica derrubada pela escaleta, a estrofe que vira roteiro, o close que paralisa a metáfora, o discurso que se extravia no meio da cena, o verso que transborda a página do livro.

Invenção de modelos e tipos sociais ideais – a lá uma sociologia compreensiva de Weber – é uma missão cumprida tanto pela literatura quanto pelas artes visuais, pois que a expressão da subjetividade de um sujeito seja ele escritor, diretor, roteirista, operador de áudio, poetisa, repentista, carrega em si um efeito que é a sugestão estética. Assim o que emerge de sua consciência e chega ao público sob forma material de enquadramentos para a grande tela ou odes e sonetos para algumas páginas têm como conseqüência o alcance da percepção.

Essa força realizada pela arte sobre o campo dos sentidos provoca um exercício racional de compreensão da impressão que a aquela “nova” estética sugestionou, assim se dá um fenômeno psicológico de tornar a circunstância da sensação intelectualizada, “o que em mim sente está pensando”. Agora, quais as teorias que andam sendo ensinadas nas academias? Como estão sendo formados os futuros produtores, gestores, críticos, professores, e ativistas da área cultural no país, mais especificadamente na Bahia de tantos artistas...

Tempos após a “celebração” do Brasil por seu dia nacional da poesia, o qual por sua vez leva a marca do nascimento do artista baiano Castro Alves, que historicamente é uma das maiores expressões poéticas da nação, lança-se um olhar sobre a condição de existência da poesia numa época em que as obras de arte são mostra da sobrevivência de humanidade e, por conseguinte da percepção e recepção estética de uma sociedade.

Coerência é também nesta mesma data ter nascido o cineasta Glauber Rocha. Entre estes dois nascimentos, entre o fazer artístico de um e de outro se espraiam novos métodos, “uma câmera na mão...”, o versolibrismo elementos, aspectos que induzem, conduzem ao consumo de doses cada vez mais violentas tanto de cinema quanto de poesia.Mas em que pé  se encontra na contemporaneidade o processo criativo, produtivo, executivo e distributivo destas formas artísticas?

O que comemora a poesia, o que chora o poema, o que filma a lente, o que capta o microfone? Assistência técnica, política dos editais, ANCINE e ABL, academias e agências regulam o gosto, o ideal estético do país, as concessões de financiamento só ao gosto dos pareceristas, empresas privadas sustentam a ideologia dominante, o Estado deixa os artistas reféns. Em contra partida, as expectativas da sociedade vão sendo atingidas pela arte que se manifesta de maneira “espontaneamente” articulada nas paredes das ruas, nos grafites, no cineclubismo, nos grupos de declamação ou na intervenção de uma vídeo projeção em praça pública.

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