Juventude: pássaros de asas quebradas

|por Jamile Silveira*|


Muitos acreditam que os jovens são rebeldes por essência, que são como os pássaros que voam alto sem preocupações ou apego ao ninho. Mas a história nos mostra que em determinados períodos o vôo destes foi bem baixinho ou quase inexistente. Hoje, o contexto histórico (neoliberalismo, manipulação de informações, quebra de identidades) pode contribuir para esta quase paralisia, pois influencia bastante nas opções políticas e as práticas culturais das gerações juvenis.

Para fazer com que estes pássaros voem, temos um forte inimigo que os engaiolam: A mídia oficial. Programas que ditam moda e comportamento assolam nossas vidas todos os dias com informações massificadas do que deve ser a juventude brasileira. Há muitos anos Malhação doutrina o perfil dos adolescentes e continua no ar porque realmente causa impacto nesse publico. Em 2010, Malhação ID apresentou o novo produto Fiuk , que vende capas de revista, marca de tênis feminino e toca em banda. Tem coisa melhor para o mercado do espetáculo que vivemos? O impacto disso é o surgimento de Bandas montadas como Restart, milhares de fãs loucas e meninos que o imitam o seu visual porque se sentem cobrados, para serem aceitos nos círculos sociais. Quando perguntei a meu irmão de 16 anos sobre o que ele acha desse cenário, ele respondeu ”usar calça colada colorida é muito feio, mas os caras fazem porque as meninas adoram!”.

Quando penso que não terei mais surpresas, sou informada que a estrelinha do Brasil será o protagonista do filme sobre a vida do baiano Raul Seixas quando era jovem. Raul foi um dos grandes expoentes do rock brasileiro, de perfil musical provocador e que inspirou gerações que acreditavam na contracultura. Isso mesmo, Fiuk será Raulzito com calça colorida, camiseta com gola V e sotaque carioca.

O padrão desses passarinhos é cabelo liso tapando o olho, calça colada colorida, corpo completamente depilado e acesso a redes sociais da internet como MSN, Orkut ou Facebook. Os pés destes jovens estão fincados na terra e o céu permanece vazio a espera de muitos que não conseguirão voar.

*Jamile é Formada em História pela UEFS e Mestra em História pela UFBA.

9 comentários:

25 de janeiro de 2011 às 11:11 Juan disse...

Texto lúcido. No entanto, há que ter cuidado quando pretendemos identificar, tão prontamente, esses estereótipos vagando por aí. Por vezes usa-se como único critério o próprio maniqueíamos oferecido pela mídia oficial para perceber o "jovem padrão" no interior da nossa sociedade. Penso que há qualquer problema nisso, afinal de contas o que muito aparece pode esconder outros componentes. Geralmente o sujeito que condena Restart é aquele formou um paradigma musical, usufruiu da influência de outros tempos e por isso tem um conceito de música - o rock da década de 80', p. ex. Pra fazer uma oposição ao Restarte mencioname, por exemplo, o jazz ou o rock brasileiro dos anos 80. Perguntar-se-á, destarte: como se dá a formação de um paradigma musical de um jovem que nasceu nos entremeios dos anos 90? A discussão é ampla.

Estou tentando fazer um grupo de literatura em Feira de Santana, que terá encontros, discussões etc. Quem quiser participar é só ler o projeto no link http://bit.ly/dXSyIp

25 de janeiro de 2011 às 15:36 Cléo Emidio disse...

É importante reconhecer os padrões de comportamento e de valores de grupos como Restart da mesma forma como é preciso ampliar nosso horizonte e visualizar que pode existir juventude para além dos perfis como os predominantes na TV, muitas vezes esses jovens são colocados em eviência pelos estereotipos, de fato. Mas uma questão interessante se pensarmos os dois personagens em destaque no texto: de um lado Raulzito, associado a um imaginário "contestador", de outro modo, Fiuk e Cia, "representantes de uma geração desmobilizada". Esse aparente contraste, embora também destaco o perfil de ambos (e de certo modo das gerações que representam) por elementos como o vestuário e comportamentais, esboça uma inquietação muito forte sobre a pouca participação dos jovens na sociedade em geral. Mas o que mudou então? A partir dai da para pensar algumas coisas e aprofundarmos as discussões. Concerteza a mídia influencia significativamente na formação dessas novas gerações.

27 de janeiro de 2011 às 03:25 Ramiro Ferreira disse...

Fantastica a sua analise, de veras é realmente isso que esta acontecendo mas eu não culpo somente a midia mas a própria sociedade, pois nos momentos em que o voo dos destes passaros realmente prometia render bons frutos a sociedade foi preconceituosa e taxativa, muitos foram os casos de traição e delação duante o periodo dos movimentos estudantis, e quantos jovens perderam suas vidas para tentar melhorar isso que somos hoje(uma sociedade deturpada pelo capital e egocentrismo), mas a sociedade que defendiam os ignoraram e desprezaram seus esforços, um bom exemplo é a nossa presidenta, que foi presa por se manifestar contra a ditadura. A sociedade sempre buscou jovens moldados ou esculpidos ao estilo sem personalidade. Adorei seu artigo, pois ele de fato nos tras a reflexão sobre o que estamos fazendo dos nossos jovens. Por exemplo: nessa sociedade onde os valores não são mais o que você é o que será de nós quando ficarmos velhos e deixar de nos enquadrar no esteriotipo de pessoas que a sociedade tenta refletir, ou seja, o que será de nós quando nos preceitos desta sociedade "perdermos" o valo?

27 de janeiro de 2011 às 05:18 chocalhodecascavel disse...

Há pássaros e pássaros. Certo que uma parte da juventude brasileira esta afogada em um grande marasmo sociocultural. No entanto, mesmo timidamente a setores e grupos dessa juventude que quebram com esse paradigma que vc acaba de esboçar. O mov. estudantil ainda vivi - é só ve os últimos protestos contra aumento do transporte urbano, a juventude do campo - mobilizada em movimentos como MST e redes agroecológicas, a juventude das periferias - com o mov. rapper e outras expressões contraculturais. Enfim, creio que a juventude que vc pincela é essa urbana da classe media e alta capturada pela midia burguesa. Então aos passaros suas asas, aos avestruzes suas cabeças enterradas no sofá!!!! " A praça é do povo, assim como o seu é do condor!"

28 de janeiro de 2011 às 09:02 Jopatife disse...

Galera, muita atenção na hora de divulgar algo assim, essa notícia sobre Fiuk interpretar Raul Seixas é falsa, o único filme sobre raul é um filme documentário chamado O Início, O fim e o Meio. http://www.youtube.com/watch?v=wssqAAOw3G

Essa notícia sobre Fiuk veio de um site de humor chamado de Diário de Barrelas, algo assim. A revista deve ter atenção às fontes.

28 de janeiro de 2011 às 09:20 Transa, revista disse...

Caro Jopatife

Agradecido pela informação, no entanto a discussão feita pela Autora mantém a pertinência, pois o texto não é sobre essa questão exatamente e sim no que, em parte, a Juventude Brasileira se transformou.

Sempre grato

Transa Revista

28 de janeiro de 2011 às 10:28 Jopatife disse...

Claro, entendo a pertinência da discussão, tanto que não a questionei, mas o texto tem um teor informativo também.

28 de janeiro de 2011 às 15:10 Paula Araujo disse...

adoro fiuk e ele é super transgressor, vcs não tem visão...acham que a metade de 8 é 4...mas não vejo nada....rebanho de revoltadinhos de merda...acham o barato criticar por criticar . qq coisa que for modismo sempre vai ser ruim, pq possuem a ideia de uma elite superior transgressora (que não é verdade!) Juventude não tem cara, amigo...Renato Russo só escrevia sobre ele mesmo, e Fiuk tb canta sua alma e condição...mas se vc precisa se enxergar pelos olhos dos outros, ai procure analise.

1 de fevereiro de 2011 às 09:39 Cléo Emidio disse...

Tudo bem que há juventudes e juventudes (no plural). Conocordo quando dizem que existe segmentos da juventude que se mobilizam e estão envolvidas com algum tipo de engajamento político. No entanto, há que se poderar que esse extrato que se mobiliza é ainda muito pequeno e também disperso no ambiente de milhões que é a juventude e as dimensões do Brasil. Com isso digo que talvez existam poucas pessoas mobilizadas e engajadas em um processo que demanda muito mais participação (radicalização!). Nesse caso, qual seria o nó crítico? É um problema de organização? De representação (de entidades e instrumentos/meios)? De conteúdo/programa? Enfim...

Cara Paula, não há problema gostar desse ou daquele personagem, o que está em discussão é o fato de termos gerações que se mobilizam, e em torno que se mobilizam. Por exemplo: na época de Raul, existia um certo ethos de participação da sociedade cívil e em especial dos jovens. Essa participação refletia muito a contestação contra as imposições do regime ditatorial e por mais liberdade de expressão (lembremos que estava em voga novos paradigmas comportamentais, sexuais, ...). Se observamos hoje creio que a impressão que temos é que o jovem não participa mais. Acretido que isso seja coerente, não sei se concorda. Mesmo que consideremos que existem outras formas de participação que se relacionam com os emergentes paradigamas que pautam a juventude refletida em Fiuk, para ilustrar a juventude da atualidade, é de se considerar que o engajamento político desses jovens é menor.

Abraço,

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