É companheiro, estamos na superfície!

|Por Yohanna Assumpção*|
  

É ainda uma verdade o fato de não podermos habitar o interior do planeta, mas há algum tempo venho percebendo que a maioria dos jovens além de habitarem a superfície da Terra como todo e qualquer ser humano terráqueo, leva essa palavra muito a sério na sua ideologia de vida. Há aproximadamente uns três meses em uma das várias festas familiares que freqüentei, me pediram para colocar uma música para que todos nós pudéssemos ouvir, e então eu prontamente quis colocar o bom e velho jazz. Apenas quis! Pois logo minha prima de dezoito anos gritou de lá: - Ah! Não vai colocar essa música de velho!


- Ã?  Foi a minha resposta... Obviamente todos concordaram com ela e colocaram um dos famosos pagodes baianos e todos viveram felizes para sempre.

Foi quando parei para analisar o quão ridículo e fora de moda hoje é: ouvir jazz, vestir roupas que não estejam mais “na moda”, ler Virginia Woolf ou Caio F. Abreu ou George Orwell, gostar de cinema europeu ou ainda deixar de ir a uma balada pra ir ver um espetáculo teatral. Mas o líder em “fora de modismo” são os museus. Nossa! Os museus! Os lugares mais odiados por essa nova sociedade brasileira.

E então eu me pergunto: eu sou careta demais ou a juventude está cada vez mais superficial? Sim! Acho que essa é palavra que definiria perfeitamente a nova geração. A geração que não sai de casa sem maquiagem ou até mesmo sem escovar ou arrumar muito bem os cabelos, sem estar vestindo a última tendência da moda mundial ou sem aquele celular magnífico que faz até cafezinho e arruma a cama.

Me irrita e deprime o fato de saber que as bibliotecas estão há muito abandonadas, e os museus e teatros? Eu nem comento mais! Toda a forma de expressão artística idolatrada pela juventude de 70, na era dos “vcs, tbs, msm, tc, miguxas”, virou lixo.

E é uma pena saber que a nossa grande batalha em prol da liberdade de expressão e conscientização política e social não serviram de nada, porque é muito mais fácil seguir as várias ditaduras existentes do que se afastar da massa feliz com sua magnífica política “Panis et circenses” e usar um dos seus mais preciosos bens: o cérebro! É! O cérebro já está aposentado há bastante tempo, porque eu não acredito que alguém capaz de usá-lo ouviria coisas do tipo: rala a tcheca no chão, esfrega a xana no asfalto, e se sentiria satisfeito.
Mas com esse desabafo-protesto eu quero dizer que o que me mantém viva e ainda feliz apesar de tudo, é saber que ainda existem pessoas com menos de trinta anos que são capazes de usar e abusar do pensamento crítico e não aceitam todas as coisas impostas pelos não usuários de cérebro. Quero deixar claro que não sou contra as pessoas que cuidam da sua beleza física ou gostam de se vestirem “bem”! Sou contra sim! As pessoas que fazem disso seu único objetivo de vida e não colaboram de forma nenhum para uma melhor sociedade. 



Uma sociedade de leitores, críticos, artistas ou apreciadores de arte. Uma sociedade de pensantes ao invés de uma sociedade de propagandas ambulantes de roupas, sapatos, perfumes ou maquiagens. Uma sociedade que seja realmente bonita! E isso independe da sua estética física! 
E uma sociedade que consiga cavar um pouquinho mais só para não ficar tão na SUPERFICIE!


 *Yohanna é estudante de História da UEFS e artista de teatro.

8 comentários:

3 de agosto de 2010 às 05:55 Cléo Emidio disse...

Bom olhar, bem desenvolvido o texto...

3 de agosto de 2010 às 07:21 Anônimo disse...

gostei muito. acho que talvez essa repulsa por frequentar um museu ou outro espaço em que nossos valores - velhos e novos - sejam colocados em cheque é mais um sinal de como nossa juventude passa por uma 'crise de identidade'.
penso que o fato de não nos reconhecermos como sujeitos (sujeitos sociais) nos torna mais frágeis, mais vulneráveis a qualquer opressão/alienação/expropriação.

4 de agosto de 2010 às 07:05 Guga Caldas disse...

Muito bom o texto.
Realmente nossa juventude está em crise, principalmente de identidade. Está insuportável andar no shopping ultimamente, todos muito iguais: mesmo cabelo, roupas, atitudes... parece uma forma de se mascarar pra poder sair de casa! A necessidade de se adequar a um determinado estilo é evidente hoje em dia e a pessoa invariavelmente é caracterizada. Emo, Darck, pagodeiro, maconheiro...

4 de agosto de 2010 às 19:53 Daniel disse...

Muito bom o texto. Não são só os jovens que seguem modismos, mas também os velhos que tentando não ter modismos acabando tendo uma forma de modismo. Tentando manter viva sua forma de vida já antiquada; carregada de preconceitos e coisas banais. Eles também caracterizam logicamente uma sociedade jovem com poucos valores morais, a fim de escutar a músicas de baixo calão e viver de forma módica. Seria um efeito, dentro de um sistema. Os velhos tentam preservar sua cultura, achando que com isto irão gerar em jovens o despertar para os modismos deles. Quando na real, o que acontece é o contrário, o distanciamento é o primeiro passo do jovem em busca daquilo que se pode chamar de liberdade de expressão. Se os chamados velhos tivessem uma política de inclusão cultural, talvez os jovens de hoje não fossem tão modernistas e usassem seus pequenos cérebros a seu favor. Mas, ao combater de frente um movimento juvenil ligado no mundo da internet, perdem todo o legado e se tornam combatentes daquilo que plantaram. Jovens incultos buscando socializar de forma marginalizada, onde o conhecimento e a razão passam longe, onde a moralidade se torna distante e os valores étnicos vão pelo ralo... Para termos museus lotados, teatros cheios, e jovens mais inteligentes, precisaremos primeiro mostrar o que é bom de forma correta, sem sermões ou histórias toscas. Os tempos passaram e quem não se mescla a ele, logo vai virar peça de museu, abandonado e empueirado pelo tempo e pelas pessoas. Não podemos criticar o momento, temos que entede-lo e muda-lo ao nosso formato, somos resultado de várias sociedades e a renovação faz parte do sistema, a banalização é que não se pode aceitar. Bjus em todos!

4 de agosto de 2010 às 19:54 Daniel disse...

ops... segue meu blog, acessem e comentem www.blogdoelenco.blogspot.com

4 de agosto de 2010 às 20:14 Dhio Adhelino disse...

A Arte foi feita para traduzir o que pensa uma sociedade e também para passar em palavras, gestos ou desenhos, os ensinamentos para uma sociedade um pouco mais "civilizada". A partir do momento em que a arte é ridicularizada através de música toscas com linguagens chulas, prevendo somente o sexo como base principal deste conceito que chamam de arte do povo ou arte popular, ela passa a não ser mais arte. E quando você diz minha amiga, sobre os museus. Ah! Os Museus! Não é a toa que falam que museu e um local tranqüilo e quieto. Sim, pois ninguém mais procura os museus, a cultura de seu povo de sua gente. Cadê o interesse por suas origens, por seu passado. Pois digo que uma sociedade que esquece o seu passado, não vive o presente e nem sabe o que é futuro. Adorei a postagem Yohanna.

12 de agosto de 2010 às 11:30 À PÉ ATÉ ENCONTRAR disse...

Infelizmente, a nova geração brasileira anda muito preocupada com estereótipos, pseudo- intelectualismo e um monte de PATAQUADAS!
Acho que esta última palavra define bem as novas posturas...Tenho é pena, muita...Sou professora e me lembro dos meus tempos de aluna, das minhas brincadeiras, dos meus gostos, das conversas e dos amigos que tive...Olho com nostalgia e sei que muito do que eu pude viver os adolescentes e jovens do momento não viverão...Porque existem coisas mais importantes que se importar com o ser, com o ver, com o ler...Com o SER HUMANO...É uma sistematica massificação mental e consumista...OW JAH!AJUDA-NOS!
Perfeito texto!

16 de agosto de 2010 às 05:25 Anna Karolina Carneiro disse...

Este texto não poderia ser melhor!Traduz fielemente o meu pensamento,queria muito que todos dessa juventude pensasse desta mesma forma!Tenho 19 anos gosto de coisas totalmente diferentes também do que somos obrigadaos a gostar,a vezes me sinto um ET!Mas um ET com muito orgulho pois não quero ser olhada como uma pessoa comum!

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