Contra a coerência

| Por Ederval Fernandes |


 
A suposta “coerência” de Dunga pode ter um dimensão mais profunda. Por não ter habilidade para montar duas ou mais alternativas para a Seleção, ele resolveu apostar todas as fichas no esquema que lhe rendeu dois títulos e um primeiro lugar nas eliminatórias, mesmo ciente (não apenas ele, mas todo o mundo) que este selecionado não sabe criar uma escassa jogada de gol que não seja de contra-ataque.


É sabido que a grande peça da engrenagem do selecionado de Dunga é Kaká, e que este não passa por boa fase no Real Madrid. Ademais, Kaká também não está em plenas condições de jogo, motivo que o fez se apresentar mais cedo que os demais jogadores, para iniciar tratamento. Com o desempenho do camisa 10 posto em cheque, mais uma pulga na orelha do torcedor começa a brotar: será que Kaká sofre mesmo do alardeado problema crônico no púbis e isto deixará seu futebol reduzido pela metade no mundial?

As explicações desconexas, o tom arranjado de “não passa de uma bobagem” que o jogador e o departamento médico da Seleção estão adotando, deixam espaços para crer que a lesão talvez seja mais séria do que se tem falado. Difícil saber. Temos que esperar a Copa.

Em mesma situação está Luis Fabiano. O centroavante passou os últimos meses acumulando lesões na Espanha e incertezas e pesadelos no torcedor brasileiro. Seu problema não deve ser tão sério, ao menos nem o tom exagerado das manchetes chega a supor sua ausência do Mundial. Ainda bem.

Caso o Imponderável de Almeida (personagem nelsonrodrigueano) resolva agir num treinamento ou rachão e tirar da Copa essas duas peças de Dunga, como é que o treinador irá reagir frente a esse fato inesperado e fatal? 

Talvez uma tragédia desse calibre possa ascender em Dunga uma iluminação total que venha devastá-lo por completo: de que a vida não é uma patética equação matemática e as certezas e as coerências que os espíritos mais pragmáticos possuem, não passam de um medo infantil do sobrenatural e do inesperado.

Millor Fernandes uma vez escreveu que ”coerente é o sujeito que nunca teve outra ideia”. No caso de Dunga, estou inclinado a achar que é exatamente esse tipo de coerência que ele possui e anda por aí dizendo ser o seu maior mérito.

1 comentários:

29 de maio de 2010 às 17:10 Gil disse...

Sua crítica a "coerência" foi extremamente coerente, hehe. Venho travando alguns debates, inclusive alguns acalorados, com alguns tietes do nosso técnico 7 anão justamente a esse respeito. Sem Kaká, Dunga perde sua "Kriptonita" contra a tática "padrão" (4-5-1 de meio-campo inventivo/ criativo), na medida em que uma "república de volantes", citando Juca Kfuri, só funciona bem com uma capacidade anormal de conta-atacar. Como ele não levou substituto qualquer pra Kaká, caso se confirme a seriedade da lesão, o Brasil vai de 4 volantes (pq quem vier me dizer que Julio Baptista, Elano, e Cia não são volantes precisa deixar de assistir o campeonato inglês... obvio que os caras sabem sair jogando...)!!! Muito mais volantes que a concessionária da GM.

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