Voz, violão, poesia e Sertão


Existe diferença entre um cantor e um “cantador”? Para Carlos Silva, “cantador profissional”, sim. Em entrevista a Caio Augusto e João Daniel G. Oliveira, o músico, poeta e cordelista explica que o cantador é responsável por falar da sua história, das suas raízes – ele é um ator social por obrigação.

Na noite do último sábado, em Feira de Santana, a Transa Revista foi conferir a apresentação de Carlos Silva no espaço Cidade da Cultura, localizado no Conjunto João Paulo II. Com um repertório de canções próprias e outras de mestres da cantoria (Xangai, Vital Farias, Raimundo Sodré), Silva iniciou sua apresentação com “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho; de fato, suas semelhanças com o dono de clássicos como “Avôhai” e “Chão de Giz” são muitas. Portando seu violão e acompanhado de percussão, Carlos Silva misturava canções com declamações de poesia e cordéis.



Carlos Silva começou sua carreira em 1978, mas ela não seguiu initerrupta até os dias de hoje. Na nossa conversa, Silva nos contou que, nos primeiros anos, tocava “de Raul a The Who”, e que ainda não estava disposto a seguir profissionalmente o caminho da música. Nascido “por acidente” em São Paulo, mas criado na Bahia (município de Aporá, em Itamira), Silva voltou para a maior metrópole do país para lutar pela sobrevivência – mas não foi através da música. Somente no final dos anos 90 é que o cantador teve seu renascimento musical, e conseguiu gravar seu primeiro cd e seu primeiro folheto de cordel.


Após decepções com músicas que Silva fazia mas que não eram exatamente sua praia, o compositor voltou seus olhos para as canções sociais, viu-as ganhando corpo, e hoje se sente muito feliz com a repercussão de uma de suas principais canções, a “Estrangeirismo” (um misto de cordel, poesia e música que fala das invasões lingüísticas no país): neste ano, sua letra está sendo utilizada nos livros didáticos da editora Saraiva, rodando todo o Brasil.

Conheceu Asa Filho, dono do “Cidade da Cultura”, via internet. Este se empolgou ao ouvir suas músicas e ao saber que o poeta tinha um irmão morando em Feira – e com isso conseguiu trazê-lo aqui. Silva diz ter gostado muito da receptividade da cidade, sobretudo porque, segundo ele, em Feira e nas cidades do interior do nordeste em geral, as pessoas “absorvem mais que em outros lugares”. Gostou de conhecer aqui nomes que o ajudaram como Luluda Barreto, Tanúrio Brito e Franklin Maxado. Na rodoviária da cidade, chegou a conhecer o repentista Bule Bule.


Um episódio muito importante na vida artística de Carlos Silva o fez perceber – infelizmente – o quão precário é o incentivo à cultura no Brasil (segundo ele, mesmo as políticas de apoio à cultura do governo são até certo ponto inúteis, pois, se você não tem um nome já conhecido, dificilmente conseguirá algo): o artista fora solicitado para que uma música de sua autoria em parceria com o também músico Zé Riba, a “Oito pilha é um real”, fizesse parte de um projeto para lançar um CD na França da gravadora Urban Jungle, onde bandas como Nação Zumbi e Funk como le gusta estariam presentes. E, até hoje, mesmo o poeta sem saber dizer se isso é, no final das contas, triste ou não, Carlos Silva recebe por direitos autorais – mas lá da França, e não no Brasil.

todas as fotos foram retiradas do site do músico. no site, você pode conferir canções, poemas e cordéis do artista. o endereço é http://carlossilva.com.br

0 comentários:

Postar um comentário