Não temamos a Greve!


 | por Paulo Moraes |

A todos e todas que acreditam em outro mundo


Nos últimos 20 anos de nossa era, esta palavra foi resignificada, foi mudado o seu sentido tirando principalmente a sua razão, pois parece que ao levantar esta palavra hoje, em pleno século XXI, estamos a falar de uma coisa do passado, e de certa forma o é.

Os anos de 1990 foram o fim de um era de lutas e conquistas da classe trabalhadora brasileira, ao contrário do que fez na década anterior. Esta década anterior foi tão brilhante para os setores que não estavam mais a fim de se subjugar aos patrões e latifundiários, que estes a apelidaram de a Década Perdida, pois eles perderam. É claro que não foi feito nenhuma revolução no Brasil nos anos de 1980, mas quando esses perdem um pouco já esperneiam como loucos.



Nos anos 1980, a classe trabalhadora construiu de forma coletiva; tivemos três grandes instrumentos que fizeram os dominantes tremerem diante dos seus nomes: o Partido dos Trabalhadores (1980), a Central Única dos Trabalhadores (1983) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (1984), infelizmente hoje apenas um ainda constrói a luta por outro mundo que o mítico MST. Se a Classe Trabalhadora um dia construiu suas ferramentas para o enfrentamento ao capital, então significa que podemos construí-la novamente, mesmo em uma época de tão pouca esperança.

Mas voltemos ao nosso tempo e à questão desse texto. Hoje “fazer greve” é atrapalhar os cidadãos de bem da nação, é parar o país que não pára de crescer e que segundo o maior banco do país é o “país do presente”. Isto é uma falácia; a greve continua a ser o maior instrumento que a classe trabalhadora tem para defender seus direitos que a cada dia são atacados por patrões e pelo Estado. Este último, aliás, também atua desde sempre como patrão; para isso, basta ver o que o ilustre Lula e o nada ilustre Wagner fazem quando alguma categoria do serviço público entra em greve: cortam os salários imediatamente. É só lembrar da greve de 2007 dos professores da rede estadual e das universidades baianas.


Nós que estamos no fogo cruzado sempre achamos que é melhor ficar em cima do muro e não se posicionar e apenas dizer “acho que a greve é coisa do passado e devemos fazer novas coisas para mobilizar”. Aí é que se enganam: isso é estar do lado dos patrões, sejam privados ou estatais, pois a greve é sempre a última alternativa, e os patrões, como estão nas décadas vencidas, fazem com que essa atitude, através de seus instrumentos (isso mesmo, eles também se organizam) seja considerada ruim ao povo.


È fundamental que a partir de agora reflitamos sobre a greve. Não vamos ter medo. 2010 é um ano chave para a classe trabalhadora: em junho, em Santos-SP, haverá um novo Conclat (Congresso da Classe Trabalhadora) que reunirá duas centrais sindicais que não fazem acordo com o patrão no intuito de construir uma nova ferramenta de luta para a classe, que seja autônoma, de luta e principalmente classista, que saiba que não existe acordo com o patrão, pois já são muitos anos que eles pisam na gente.

Não tenham medo da greve e sim a construam para a constituição de outro mundo.


2 comentários:

6 de março de 2010 às 10:31 Marcos Rosa disse...

Lá pelos anos 90 quando morava em Salvador percebí que se tinha algo que tumultuava a vida de qualquer prefeito era uma greve dos Garis promovida pela falecida Limpurb. Foi nesta década que conheci algo que me seria muito íntimo na década seguinte: a tercerização. Não lembro o prefeito da época que deu o golpe final nos sindicalistas que derrubavam qualquer ibope. lembro apenas que simplesmente terceirizou o serviço de limpeza e nunca mais houve greves de garis em Salvador, claro, ao preço de muitas demissões.
Já nos anos 2000, quando vivenciei o chão da fábrica do Pólo Petroquímico de Camaçari, tive o segundo encontro com a terceirização. Neste momento já tinha outra compreensão deste movimento ante-sindicalismo. Movimento este que Maria da G. Druck chamaria de Des-fordizando a Fábrica, e Eliziário de Andrade daria o nome de Nova Ofensiva do Capital e talvez, G. Delleuze chamasse de Sociedade de Controle, seja qual for o nome a questão era que os petroquímicos que organizaram greves históricas nos anos 80, parando a produção de dezenas de fábricas em plena Ditadura Militar, naquele instante não conseguia reunir meia dúzia de trabalhadores para uma rápida assembléia. Motivo? A grande maioria dos trabalhadores do Pólo eram terceirizados e não estavam nem aí para o que aquele sindicalistas estavam berrando. Ah! e parte da minoria que ainda estava ligada aquele sindicato estava preocupadas em manter o status de "empregado" e corriam de sindicalistas como baratas correm de galinhas. Pessoalmente achei aquela experiência magnífica pois estudante de história na condição de empregado terceirizado assisti a agonia do Sindquímica - não que estivesse gostando mas eu vivenciava alí algumas páginas de textos lidas a noite no curso. De lá pra cá percebi que não existem mais condições suficientes para iniciar e manter uma greve nos setores privados. Não queria esta na pele dos sindicalistas de hoje, pois a tarefa de garantir direitos conquistados antes é árdua. O contexto muda levemente no setor público, em virtude da estabilidade, ainda assim é com muito custo que professores, bancários, e ás vezes, petroleiros conseguem manter greves no Brasil.
Quem sabe os trabalhadores/sindicalistas devam pensar em outra forma de manter seus direitos?

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