MAC lança livro e abre exposição de artes visuais nesta quinta-feira

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Para dar início ao calendário de eventos mensais em 2010 no Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira, a Divisão de Artes Plásticas e Literatura da Fundação Cultural Municipal Egberto Tavares Costa convidou os artistas plásticos Nelson Magalhães Filho de Cruz das Almas e Devarnier Hembadoon de Salvador para realizarem uma mostra dos seus trabalhos mais recentes e ao poeta Roberval Pereyr para lançar o seu novo livro.




Nelson Magalhães Filho apresenta a série “ANJOS BALDIOS”, trabalhos que provocam reflexões sobre a unicidade e autonomia da obra de arte, sobre os alcances da pintura enquanto processo e resultado, sobre o confronto entre representação e revelação. Obras que são uma afirmação tácita da perenidade das práticas informalistas do pós-guerra e da vigência das premissas neo-expressionistas da transvanguarda. O gesto visceral das pinceladas de Nelson não é calculado ou precedido de qualquer estudo preliminar, mas, sim, controlado por emoções de um espírito muito distante do aprazível e do contemplativo. Uma verdadeira sismografia do soturno, do sinistro, do melancólico e, por vezes, do trágico, que se revela como antítese da impressão retiniana. Não é pintura de observação mas de introspecção. O conjunto das telas falam de algo que, embora desafie nossa lógica, existe. Invertendo a idéia de representação, numa operação do avesso do olhar, na melhor tradição expressionista, o artista desencava uma fauna misteriosa de figuras que emergem do acúmulo de pinceladas e que não descrevem nenhuma realidade aparente. São anjos baldios, quase ubíquos, definidos pelas camadas de tinta e intangíveis além do suporte da tela. Não é uma produção ilusória premeditada, fake de imaginário fantástico destinado ao escapismo dessa nossa atualidade permeada de simulacros, mas uma arqueologia do surreal que visa a refletir sobre a essência de uma humanidade desencantada.

 

Devarnier Hembadoom apresenta, “PRAMIL: o beijo da mulher dama Ou do espelho da vontade à oscilação infinita do pendulo da dor...” A mostra é baseada na poética em Processos Criativos nas Artes Visuais do Mestrado em Artes Visuais da EBA-UFBA, que gerou a dissertação LUPANAR: implosões na alma, explosões no corpo... Tendo como Orientadora a Profª. Drª. Graça Ramos. A exposição consta de 30 trabalhos da série LUPANAR, entre pinturas, fotografias, desenhos, artes digitais, artes gráficas, objetos, instalações musicais e vídeos. A exibição é resultado de uma pesquisa que Devarnier vem desenvolvendo há três anos com prostitutas que trabalham no centro de Salvador. Tendo referência nos lupanares (prostíbulos) soteropolitanos e suas extensões na cidade, o artista toma o corpo das prostitutas como seu objeto de investigação, capta e converte em obra de arte manifestações existenciais: sentimentos, sensações, emoções, e modificações físicas e psicológicas ligadas aos estímulos insistentes das atividades laborais destas mulheres. Investiga suas reações de suporte a tais experiências, quase sempre com drogas legais e ilegais, o alcoolismo, a dependência dos remédios, sobrevivência e meios de resistência junto à vida no submundo. Pretende com a sua arte representar plasticamente, discutir, investigar, captar e converter em arte visual as dores, neuroses, sentimentos e sensações das prostitutas do nosso tempo. O que é droga e, ou quem é drogado na sociedade pós ansiolítica?; tornar visível plasticamente a invisibilidade destas questões; propagar o modo sincrético de composição plástica; aplicar utilidade provocativa e reflexiva às questões do nosso tempo e espaço; instigar o renascimento da contracultura. Os que esperam mulheres nuas e abertas como no mercado sexual da tv, revistas, novelas e na música baiana, se frustrarão. Pois, as prostitutas representadas nesta obra são trabalhadoras do sexo desconhecidas e despossuídas dos dotes físicos estereotipados, propagados pela mídia em geral como aspectos que arrastam consigo a promessa de felicidade. Durante a vernissage haverá o lançamento do CD e do vídeo (PRAMIL: o beijo da mulher dama Ou do espelho da vontade à oscilação infinita do pendulo da dor...) homônimos da exposição, com canções a partir dos diálogos estabelecidos com as mulheres-damas. Um trabalho contundente, complexo, subversivo e pleno como nos anos 70, muito louco, um desbunde... Vale a pena conferir.   


Roberval Pereyr (1953) é poeta, ficcionista, desenhista, compositor, teórico e editor. Onze livros publicados: um teórico e dez de poesia, a exemplo de Amálgama – Nas praias do avesso e Poesia anterior (2004). Co-fundador das revistas de poesia Hera (Feira de Santana – Ba.,1972), que vem dirigindo, quase sempre em parceria, desde o seu número 3, e Duas Águas (Campinas – SP, 1997). Criador de algumas coleções literárias e das editoras alternativas Tulle e Estrada. Doutor em Letras e professor da UEFS. Lança o seu novo livro “Acordes” apresentando 55 poemas com o seu páthos musical inconfundível: uma poesia densa e delicada que se move em grandes superfícies e profundidades, ao mesmo tempo inquieta e serena, reveladora de enigmas na luminosa sombra. Trata-se de uma poesia de reflexão existencial, em que os efeitos poéticos da palavra e do pensamento se amalgamam num consórcio de sentidos ao mesmo tempo metafóricos, alegóricos, enunciativos e instauradores de epifanias da condição do ser e do estar no mundo. O poeta continua a busca por nomear e avaliar os sentidos de seu percurso e da viagem humana pelo universo simbólico da linguagem e dos gestos, como que alertando a si mesmo e ao leitor de que tudo resulta do jogo da experiência e da cultura.

Com este evento a Divisão de Artes Plásticas e Literatura apresenta ao público fruidor das artes a união do visual com a literatura, numa experiência que além do gozo estético propõe reflexão e estimula o pensamento e o senso crítico.

Onde: Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira (MAC)
Abertura: 11 de março de 2010 às 20 horas
Visitação: 12 de março a 06 de abril de 2010, seg a sex das 09 às 17h

2 comentários:

9 de março de 2010 às 12:45 Raíssa Caldas disse...

As cores quentes de Nelson Magalhães Filho!!!!!!!!

9 de março de 2010 às 19:17 À PÉ ATÉ ENCONTRAR disse...

E a poesia profunda do querido professor Roberval!
\o/

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